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sábado, 18 de maio de 2013

"A minha vontade era rasgar o Memorando"

Manuel Alegre sente falta das referências políticas de há trinta anos, critica a esquerda portuguesa, defende uma ruptura em Portugal e quer rasgar o Memorando assinado com a troika. Em entrevista ao jornal i, o escritor e político deixa ainda um recado aos portugueses: “as pessoas têm de saber que fazem escolhas”, referindo-se à eleição do actual Governo.
“Nós há 30 anos tínhamos referências: para alguns a União Soviética, para outros a China, e ainda Cuba. Neste momento não há referências. Houve a queda do Muro de Berlim, o colapso da União Soviética, veio a globalização (…) e há uma hegemonia absoluta do neoliberalismo na cultura e na política”. É com estas palavras que Manuel Alegre mostra o seu descontentamento com a política actual, com “uma derrota total da esquerda”.

Focado na situação de Portugal, o poeta e também político garante que “todos os partidos defendem interesses” e “quem governar corre sempre mais risco das tentações”, mas defende que cabe ao PS, “partido de oposição”, “romper a pior coisa que aconteceu ao nosso mundo que foi o bloco central de interesses”.

Manuel Alegre diz que é “necessária uma ruptura em Portugal”, mas que as pessoas “têm de saber que fazem escolhas”. Quanto à ruptura, e questionado pelo i sobre a possível obrigação do PS em abandonar o Memorando da troika, Alegre admite ter “dificuldade em responder”, mas que a sua “vontade é rasgar o Memorando”, embora admita que “tenha sido de certa maneira rasgado porque as políticas que se estão a fazer vão muito para além do documento original que foi assinado”.

“O Memorando foi um pretexto para a troika trazer a agenda política de credores e para este Governo ter o pretexto para fazer o seu programa ideológico”, mais, “uma coisa de que se fala pouco é de que este Governo quando negoceia com a troika fala do ponto de vista dos interesses dos credores, como se fossem funcionários deles. Enquanto nós precisaríamos d um Governo que quando faz essas negociações o faça do ponto de vista do interesse dos portugueses”, acusa.

Embora se assuma “historicamente do PS”, Manuel Alegre garante não pertencer ao “PS do bloco de interesses do bloco central”. “Não sou d um PS integrado numa linha europeia de capitalização com o neoliberalismo”.

Alegre deixa ainda uma forte crítica à esquerda: “temos o privilégio de ter a esquerda mais forte da Europa, mas a esquerda em Portugal não serve para nada. Isto é trágico e um dia destes vai ter consequências na própria democracia”.

N. M.

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