Manuel Alegre sente
falta das referências políticas de há trinta anos, critica a esquerda
portuguesa, defende uma ruptura em Portugal e quer rasgar o Memorando assinado
com a troika. Em entrevista ao jornal i, o escritor e político deixa ainda um
recado aos portugueses: “as pessoas têm de saber que fazem escolhas”,
referindo-se à eleição do actual Governo.
“Nós há 30 anos tínhamos
referências: para alguns a União Soviética, para outros a China, e ainda Cuba.
Neste momento não há referências. Houve a queda do Muro de Berlim, o colapso da
União Soviética, veio a globalização (…) e há uma hegemonia absoluta do
neoliberalismo na cultura e na política”. É com estas palavras que Manuel
Alegre mostra o seu descontentamento com a política actual, com “uma derrota
total da esquerda”.
Focado
na situação de Portugal, o poeta e também político garante que “todos os
partidos defendem interesses” e “quem governar corre sempre mais risco das
tentações”, mas defende que cabe ao PS, “partido de oposição”, “romper a pior
coisa que aconteceu ao nosso mundo que foi o bloco central de interesses”.
Manuel
Alegre diz que é “necessária uma ruptura em Portugal”, mas que as pessoas “têm
de saber que fazem escolhas”. Quanto à ruptura, e questionado pelo i sobre a
possível obrigação do PS em abandonar o Memorando da troika, Alegre admite ter
“dificuldade em responder”, mas que a sua “vontade é rasgar o Memorando”,
embora admita que “tenha sido de certa maneira rasgado porque as políticas que
se estão a fazer vão muito para além do documento original que foi assinado”.
“O
Memorando foi um pretexto para a troika trazer a agenda política de credores e
para este Governo ter o pretexto para fazer o seu programa ideológico”, mais,
“uma coisa de que se fala pouco é de que este Governo quando negoceia com a
troika fala do ponto de vista dos interesses dos credores, como se fossem
funcionários deles. Enquanto nós precisaríamos d um Governo que quando faz
essas negociações o faça do ponto de vista do interesse dos portugueses”,
acusa.
Embora
se assuma “historicamente do PS”, Manuel Alegre garante não pertencer ao “PS do
bloco de interesses do bloco central”. “Não sou d um PS integrado numa linha
europeia de capitalização com o neoliberalismo”.
Alegre
deixa ainda uma forte crítica à esquerda: “temos o privilégio de ter a esquerda
mais forte da Europa, mas a esquerda em Portugal não serve para nada. Isto é
trágico e um dia destes vai ter consequências na própria democracia”.
N. M.
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