Que se leve tempo para reflectir e para
perspectivar determinados princípios emitidos e essas leis votadas a par da
realidade, tal como ela é hoje, apenas quatro décadas após a revolução de
Abril de 1974, todos podem constatar o quanto uma mística de esquerda parece,
mais que nunca, necessária para manifestar a permanência de ideais, princípios
e virtudes postas a dormir, quando não, pura e simplesmente, achincalhadas.
As pessoas da província estarão em pé de
igualdade de oportunidades com as que vivem na capital, relativamente ao acesso
às riquezas, ao saber, à cultura, aos serviços?
As pessoas de cor serão tã bem consideradas
quanto os brancos, em todo o lado, em todos os locais, circunstâncias e
ocasiões? Os não católicos, sobretudo quando são muçulmanos, poderão
prevalecer-se dos mesmos tratamentos que os daqueles que frequentam as igrejas
e seus adros aos domingos de manhã?
Os excluídos do saber e da cultura, os que
deles são privados, terão as mesmas oportunidades que os letrados para
circularem no labirinto dos conhecimentos?
Os soldados nas casernas, aqueles que ainda
há pouco foram recrutados, disporão dos direitos que podem usufruir fora do
recinto das casernas?
Os pobres estarão em pé de igualdade com os
ricos? E as mulheres com os homens? É inútil ir mais longe, desenvolver o tema
pois, hoje, mais que nunca, a diversidade é contrariada em proveito da
celebração destinada unicamente àqueles que tiveram a sorte de estarem em
conformidade com as categorias colocadas no Levitã e que fazem o bom cidadão:
branco, português de boa cepa, homem, católico ou de formação católica,
letrado, rico.
Quem poderá dizer o que pode representar em
Portugal a mulher, tisnada, de origem vulgar, pouco letrada e pobre?
Em que pé se encontram as crianças, os
doentes mentais, os incuráveis, os sem-abrigo, os desempregados, os operários,
os proletários, em matéria de igualdade, de dignidade, de direito puro e
simples à existência,, ao reconhecimento?
Os direitos do homem e a Constituição para os
que têm fome e dormem ao relento como cães, são meras frivolidades.
Aos olhos de quem conhece a miséria, a
procura de um emprego, de quem esmola o trabalho ou aquilo que lhe possa
assegurar os fins de mês, os decretos, as leis e as declarações de princípio
são meras ninharias.
O anjo da revolução, mais que nunca
necessário, esquece-se deles, dos danados, dos rejeitados e dos escravos, para
os quais, ainda e sempre, se trata de relembrar a necessidade de uma mística de
esquerda que impulsione os ímpetos,, solicite as energias, insufle os ventos
esmorecidos para deles fazer tempestades, as únicas que o Levitã, esparramado
na sua pocilga, entende e compreende.
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