Uma grande ideia os possuía: a do destino;
eu, como muitos cidadãos, repudio-a com todas as minhas forças, não via nem
vejo nela mais que um subterfúgio de poltrões, uma desculpa para todas as
abdicações, uma expressão do bom senso e da sua filosofia fúnebre.
A que me agarrar? O meu país, cuja existência
visivelmente não tinha sentido, apresenta-se-me como um resumo do nada ou uma
materialização do inconcebível, como uma espécie de El Dorado para eles, com um
Dom Quixote das nossas amarguras. Fazer parte dele é mais que uma lição de
humilhação e de sarcasmo, uma calamidade sem igual.
Q grande ideia que cá reina é a de um governo
demasiado impertinente, demasiado presunçoso, demasiado ladrão, para entender a
sua origem, a sua profundidade, ou as experiências, o sistema do desastre que
pressupõe.
Colocando de lado o PEC, uma nova designação
foi inventada – DEO – que em latim significa Deus – mas que para esses
comediantes politiqueiros significa Documento de Estratégia Orçamental – que,
quando for começada a fazer-se sentir bem na pele dos cidadãos, os vai obrigar
a agir seja como for, pois que os povos oprimidos, por princípio, entregam-se ao
“destino”, salvação negativa e, ao mesmo tempo têm uma visão determinista que s
empurrará para as ruas da amargura, onde se manifestarão.
Só espero que não vão sozinhos!
Se fosse deputado de um dos partidos da
oposição, devotar-me-ia a tentar com todas as minhas forças, a tentar conseguir a
demissão em bloco de todas as oposições, abrindo um enorme vazio no hemiciclo,
que por razão e questão de princípio deveria ser dissolvido, devendo o senhor
Silva ver-se obrigado a convocar eleições antecipadas, dando de novo a voz ao
povo que esses indivíduos tanto pisam.
Para o concebermos como exterior a nós,
omnipotente e soberano, é necessário um vastíssimo ciclo de fracassos, que é o
que tem acontecido nos dois últimos anos.
Torna-se indecente que o governo creia no
esforço, na utilidade de toda essa encenação, cometendo os mais vis roubos na
pessoa do povo e dos seus fracos proventos, e que, por exemplo, pretenda para
2015 – ano de eleições legislativas se antes disso nada houver que as antecipe –
uma redução dos esforços da cidadania de 700 milhões, no ano anterior, 2014 2800
mil milhões e para 2016 1200 milhões.
Por isso, o povo português não acredita
neles, resignando-se alguns ao que têm por inevitável e por respeito pelas
conveniências.
Apoiando sempre prontamente as decepções e
revelando à nossa indolência o segredo da conservação, torna-se evidente quais
serão as reacções da sociedade em geral, que não pode nem admitir nem suportar
mais sacrifícios impostos pelo actual governo de Portugal.
Cabe-nos então em herança a certeza da
inutilidade, como um bem que os políticos do tal arco do poder adquiriram para
nós, ao preço de inúmeras humilhações. E nós, infelizes herdeiros, beneficiários
desses males, ostenta-mo-los e, quanto às nossas próprias humilhações, teremos
sempre a possibilidade de as embelezar ou de as escamotear, de adoptar uma
atitude de aborto elegante, de ser honradamente os últimos dos homens na Europa
e no Mundo.
As boas maneiras, os brandos costumes, o
hábito da desgraça, privilégio daqueles que, tendo nascido perdidos, começam em
vida a viver o seu próprio fim, por única culpa desses que, armados em
patriotas e em gente que pretende velar apenas pelo bom nome da nação, fazem
com que toda uma população viva na mais profunda miséria, na fome e na desgraça
humanas.
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