Se o nosso país é o dos “brandos costumes” e
foi, em tempos, o da “alegria de viver”, é também o dos bons vinhos e da boa
carne de porco sobretudo, e quando me refiro aos vinhos, é sobretudo aos que
recebeu o nome da cidade do Porto.
Será que algum dia houve um vinho de Lisboa»
Se a actual capital recebe a gente “fina” estrangeira, e se entre aqueles que se proclamam
lisboetas, peneirentos porque se estabeleceram na capital e lá fizeram a sua
vida, as gentes nortenhas em maioria esmagadora preferiram o Porto, cidade que
deu o nome a Portugal juntamente com Gaia, é conhecida por capital do trabalho,
que é mal pago e não corresponde aos salários pagos na zona da capital, como se
no norte vivessem os portugueses de segunda categoria.
Isso tem desencadeado, ao longo dos anos,
lutas sociais, em muitos momentos da nossa história, o que prova bem que nem
eles, os “lisboetas” podem subsistir sem combate.
Do Portugal actual, alguns dos nossos mais
conhecidos economistas afirmam que “mesmo depois de um século de evolução
industrial, o país se mantém essencialmente uma nação de aldeões, de artesãos e
de burgueses”.
Ora, isso até poderia ser verdade se se
aplicasse quase exclusivamente ao norte e ao Porto em especial, concelho e
distrito, onde existe um carácter colectivo e a disseminação através do seu
território, muitas aldeias onde os naturais podem encontrar facilmente um
carpinteiro, uma costureira, um pedreiro, alguns ferradores, mecânicos, o que
se aplica também a Trás-os-Montes e Alto Minho, enquanto em Lisboa se encontram
mais burgueses que talvez no resto do país.
Entenda-se que, assim, o país está dividido
em dois, uma parte da nação que agrupa patrões e empregadores, “quadros” de
toda a espécie, funcionários, comerciantes e, naturalmente, a maioria das
pessoas que exercem profissões liberais, mas também os políticos com real
influência no desenvolvimento do país.
Se se juntar que Portugal é um país que
possui pouca indústria, foi preciso destruir uma boa parte dela para que a zona
de Lisboa se elevasse em relação ao Porto e ao norte, sendo no norte onde
também existe a maioria do desemprego, já que conta com uma população essencialmente
operária de muitos milhares de pessoas.
Desta repartição em quatro camadas
essenciais, que frequentemente se interpenetram, resulta que Portugal aparece
como uma nação nada equilibrada, tudo por única culpa dos políticos que
marginalizam as massas proletárias que se balançam na corda-bamba, ou o
artesanato, se bem que em regressão em seguida à concorrência industrial, em
que a burguesia, apesar do empobrecimento progressivo de alguns dos seus
elementos, se mantém numerosa e florescente, na região de Lisboa.
Basta consultar alguns jornais dos últimos
sessenta anos sobre a inspiração burguesa no seu conjunto, mas muito menos
confinada ao norte e sobretudo ao Porto, numa análise dos caracteres gerais da
humanidade, para constatar que todos os corpos profissionais e todas as classes
sociais têm solicitado a devida atenção dos políticos bem instalados na
capital.
Apesar de tudo há ainda quem fale de
igualdade e de equidade, que na selva portuguesa não passam de meras palavras vãs.
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