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quarta-feira, 1 de maio de 2013

«O TRABALHADOR»

Só por si figura da danação e da exploração, ele encarna o escravo do mundo moderno sem o qual, dizia Aristóteles, não há civilização possível – o que pensam também todos os devotos da religião do capital.

Os bens, as riquezas, os benefícios, as mais-valias, os lucros, os relatórios, os ganhos, eis as obras-primas do mundo moderno, as pirâmides do capitalismo e as catedrais da industrialização.

Para construir esses edifícios, não se regateia uma mão-de-obra que, tanto ontem como hoje, se paga com um punhado de cebolas, com pedaços de pão seco e com más bebidas.

O preço dessas construções? O trabalho sem distinção de idade, os salários de miséria acordados aos que pensam, a indigência absoluta para os miseráveis privados de emprego, a escravatura, o dia de trabalho, legal, de catorze horas, as doenças profissionais, o alcoolismo, os acidentes, as dívidas, os alojamentos vergonhosos, quando existem, a ausência do direito ao trabalho, a repressão de qualquer aspiração sindical, o seguimento policial, através de documentos apropriados, dos trajectos tomados pelo operário.

Irra! Para a dignidade ou para a humanidade dos homens, mulheres e crianças que possibilitam a existência das riquezas e a sua confiscação pelo capital.

As jornadas de Fevereiro e de Março de 1848, os meses de Março, Abril e Maio de 1871, os que se seguiram ao 4 de Junho de 1936, propuseram as mesmas resoluções às questões que permanecem.

Problemas de emprego? Criam-se ateliers nacionais, garante-se uma receita por parte do Estado, suprime-se o trabalho das crianças, diminui-se o número diário de horas de trabalho, proíbe-se a acumulação de postos aos cidadãos comuns, permitindo-os aos seus pares.

Problemas de miséria? Instaura-se a obrigação de um salário mínimo garantido, aumentam-se os pagamentos e a segurança social, renuncia-se às prestações das dívidas, acaba-se com as multas, levantam-se gratuitamente os objectos depositados no Montepio.

Problemas de direito a trabalho? Promovem-se associações e as sociedades de resistência, os contratos de trabalho colectivos,, as eleições de delegados nas empresas, a ausência de sanções em caso de greves, o respeito pela liberdade sindical.

Problemas de humanismo elementar? Acaba-se com a pena de morte por razões de ordem política, promove-se a igualdade dos homens e das mulheres,  a liberdade imprescritível dos cidadãos, a supressão da escravatura, a criação de férias pagas. 

Problemas estruturais devidos ao empobrecimento? Efectuam-se nacionalizações, reforma da banca, dos créditos, da fiscalidade, separa-se a Igreja do Estado, laiciza-se a instrução e a saúde, torna-se a escolaridade obrigatória para as crianças.

Problemas de alojamento? Requisitam-se as casas em bairros ditos sociais, mas ao sabor da vereação e conforme a “cara do cliente”.

Problemas de formulação das reivindicações? Generaliza-se e expande-se a greve, o sindicalismo, o corporativismo operário. A direita, já então, recusa em bloco!

Quem poderá dizer que hoje estes problemas desapareceram? Que deixam de ser especificamente os mesmos? A miséria, o emprego, o direito ao trabalho, o humanismo elementar, o empobrecimento induzido pelas instâncias estruturais, o alojamento sob as pontes, a organização do trabalho,  não desapareceu nada daquilo que acossa o trabalhador e os indigentes, como não perderam actualidade as soluções que foram trazidas pelos homens e mulheres que se dedicaram, na sua época, a génio colérico da revolução.

O que regozija os que o capitalismo desenfreado já não satisfaz ou deixou de satisfazer.


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