Só por si figura da danação e da exploração,
ele encarna o escravo do mundo moderno sem o qual, dizia Aristóteles, não há
civilização possível – o que pensam também todos os devotos da religião do
capital.
Os bens, as riquezas, os benefícios, as
mais-valias, os lucros, os relatórios, os ganhos, eis as obras-primas do mundo
moderno, as pirâmides do capitalismo e as catedrais da industrialização.
Para construir esses edifícios, não se
regateia uma mão-de-obra que, tanto ontem como hoje, se paga com um punhado de
cebolas, com pedaços de pão seco e com más bebidas.
O preço dessas construções? O trabalho sem
distinção de idade, os salários de miséria acordados aos que pensam, a
indigência absoluta para os miseráveis privados de emprego, a escravatura, o
dia de trabalho, legal, de catorze horas, as doenças profissionais, o
alcoolismo, os acidentes, as dívidas, os alojamentos vergonhosos, quando
existem, a ausência do direito ao trabalho, a repressão de qualquer aspiração
sindical, o seguimento policial, através de documentos apropriados, dos
trajectos tomados pelo operário.
Irra! Para a dignidade ou para a humanidade
dos homens, mulheres e crianças que possibilitam a existência das riquezas e a
sua confiscação pelo capital.
As jornadas de Fevereiro e de Março de 1848,
os meses de Março, Abril e Maio de 1871, os que se seguiram ao 4 de Junho de
1936, propuseram as mesmas resoluções às questões que permanecem.
Problemas de emprego? Criam-se ateliers
nacionais, garante-se uma receita por parte do Estado, suprime-se o trabalho
das crianças, diminui-se o número diário de horas de trabalho, proíbe-se a
acumulação de postos aos cidadãos comuns, permitindo-os aos seus pares.
Problemas de miséria? Instaura-se a obrigação
de um salário mínimo garantido, aumentam-se os pagamentos e a segurança social,
renuncia-se às prestações das dívidas, acaba-se com as multas, levantam-se
gratuitamente os objectos depositados no Montepio.
Problemas de direito a trabalho? Promovem-se
associações e as sociedades de resistência, os contratos de trabalho
colectivos,, as eleições de delegados nas empresas, a ausência de sanções em
caso de greves, o respeito pela liberdade sindical.
Problemas de humanismo elementar? Acaba-se com
a pena de morte por razões de ordem política, promove-se a igualdade dos homens
e das mulheres, a liberdade
imprescritível dos cidadãos, a supressão da escravatura, a criação de férias
pagas.
Problemas estruturais devidos ao
empobrecimento? Efectuam-se nacionalizações, reforma da banca, dos créditos, da
fiscalidade, separa-se a Igreja do Estado, laiciza-se a instrução e a saúde,
torna-se a escolaridade obrigatória para as crianças.
Problemas de alojamento? Requisitam-se as
casas em bairros ditos sociais, mas ao sabor da vereação e conforme a “cara do
cliente”.
Problemas de formulação das reivindicações?
Generaliza-se e expande-se a greve, o sindicalismo, o corporativismo operário.
A direita, já então, recusa em bloco!
Quem poderá dizer que hoje estes problemas
desapareceram? Que deixam de ser especificamente os mesmos? A miséria, o
emprego, o direito ao trabalho, o humanismo elementar, o empobrecimento
induzido pelas instâncias estruturais, o alojamento sob as pontes, a
organização do trabalho, não desapareceu
nada daquilo que acossa o trabalhador e os indigentes, como não perderam
actualidade as soluções que foram trazidas pelos homens e mulheres que se
dedicaram, na sua época, a génio colérico da revolução.
O que regozija os que o capitalismo
desenfreado já não satisfaz ou deixou de satisfazer.
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