Hoje, como ontem, não se fala de outra coisa,
pois assim convém aos excelsos governantes de Portugal que não se cansam de,
eles próprios ou elementos dos seus gabinetes bem recheados, dar explicações de
como tudo foi feito, e tudo o mais que adiante se verá.
Como forma de propaganda, nem está mal de
todo; o medo de agir mal ou muito tarde, ou de não agir de forma nenhuma, não
fará mais que piorar uma situação, da qual um pouco de reflexão poderiam
livrar-nos.
Inicialmente, compreender, depois querer com determinação,
e, graças a esses dois remédios, já quase não há casos realmente desesperados
como eles não se cansam de apregoar, pois isto é apenas o princípio da
reviravolta, embora mantenham afincadamente todas e mais algumas medidas de
austeridade.
O que ocorre comummente? Eles ou seus
secretários declaram: “Acabamos de entrar no caminho que porá fim a toda a
austeridade, acabamos de abrir as portas, novamente, dos mercados. Veja-se o
sucesso da emissão de bens do tesouro que acabamos de colocar no mercado e que,
em poucas horas, se esgotaram, superando todas as expectativas… E os
portugueses, por seu lado, perguntam-se quando regressarão eles ao caminho de
lhes proporcione uma vida sem todos esses sobressaltos, sem toda essa fome e
miséria.”
Sobre isso, porém, nada dizem, afirmando
apenas que tudo está bem encaminhado, e a prova..!
Perante o ecrã da televisão, muitos
portugueses perguntam-se os porquês de todo esse entusiasmo, pois não se sentem
cônscios dos grandes benefícios anunciados, mas sabem que vão continuar a penar
pelas ruas da amargura, sem pão para dar aos filhos, sem dinheiro para pagarem
a renda de casa, a electricidade e a água, para se vestirem e calçarem, enfim,
para poderem viver normalmente.
O português sente-se uma personalidade
inacabada e que mais não faz que procurar por aí um meio, qualquer meio honesto
de sobreviver e de fazer sobreviver seus filhos; anda ainda à procura de um
equilíbrio definitivo e em vias de maturação e das tais maturidades de que
tanto falam.
Inteiramente voltado a apreender-se a si
mesmo, vai dando forma ao que em breve lhe anunciam virá a ser; quando estiver
mais perto da tumba, sobretudo os mais velhos a quem continuam a roubar
descaradamente. Será isso, ou será esse o caminho para as tais maturidades?
Aliás, eles solicitam a sociedade, e
acolherão quem os ajude sem os ferir. Certamente jamais admitirá, sem revolta,
que os substituam, pois sente orgulho de tudo quanto fez pelo país durante toda
uma vida repleta de precalços, de maus momentos, de trabalhos forçados para
poderem garantir uma pensão miserável mas que, mesmo assim, a vê e sente
cortada por esses que hoje, como ontem, saudaram efusivamente o tal regresso
aos mercados, como tratando-se de verdadeiros salvadores da Pátria.
Aliás, o sorriso de triunfo do senhor Gaspar,
como também a carta lida pelo senhor Paulo na véspera, fabricada de forma
concertada com o senhor Pedro, que nada de novo disse aos cidadãos, pelo
contrário, os colocou numa situação ainda mais duvidosa que antes, mas que
parece ter engodado alguns políticos na oposição, se bem que velada ou
camuflada, mas que não conseguiu iludir as pessoas de bom senso, são bem
elucidativos de que, hipocritamente, pretendem fazer crer que daqui em diante
só pode reinar o optimismo em Portugal.
Mas, é caso para admirar a falsa alegria
demonstrada pelo senhor Silva que, quase saltava de contentamento e ia dizendo
que era por isso mesmo que estava ali, na companhia do presidente turco e sua
comitiva de empresários que estavam na disposição de investir em Portugal,
dando assim continuidade às vendas a retalho do que ainda resta à nação,
enquanto os portugueses se vêm “gregos” para poderem viver dentro da dignidade
humana.
No fundo, tudo tem a sua importância, seja
para o bem ou para o mal. E toda a obra verdadeiramente profunda,
significativa, exige de nós o que de melhor temos a oferecer. A renúncia de si
mesmo não se dá nunca facilmente.
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