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quarta-feira, 8 de maio de 2013

«O REGRESSO DE PORTUGAL AOS MERCADOS»

Hoje, como ontem, não se fala de outra coisa, pois assim convém aos excelsos governantes de Portugal que não se cansam de, eles próprios ou elementos dos seus gabinetes bem recheados, dar explicações de como tudo foi feito, e tudo o mais que adiante se verá.

Como forma de propaganda, nem está mal de todo; o medo de agir mal ou muito tarde, ou de não agir de forma nenhuma, não fará mais que piorar uma situação, da qual um pouco de reflexão poderiam livrar-nos.

Inicialmente, compreender, depois querer com determinação, e, graças a esses dois remédios, já quase não há casos realmente desesperados como eles não se cansam de apregoar, pois isto é apenas o princípio da reviravolta, embora mantenham afincadamente todas e mais algumas medidas de austeridade.

O que ocorre comummente? Eles ou seus secretários declaram: “Acabamos de entrar no caminho que porá fim a toda a austeridade, acabamos de abrir as portas, novamente, dos mercados. Veja-se o sucesso da emissão de bens do tesouro que acabamos de colocar no mercado e que, em poucas horas, se esgotaram, superando todas as expectativas… E os portugueses, por seu lado, perguntam-se quando regressarão eles ao caminho de lhes proporcione uma vida sem todos esses sobressaltos, sem toda essa fome e miséria.”

Sobre isso, porém, nada dizem, afirmando apenas que tudo está bem encaminhado, e a prova..!

Perante o ecrã da televisão, muitos portugueses perguntam-se os porquês de todo esse entusiasmo, pois não se sentem cônscios dos grandes benefícios anunciados, mas sabem que vão continuar a penar pelas ruas da amargura, sem pão para dar aos filhos, sem dinheiro para pagarem a renda de casa, a electricidade e a água, para se vestirem e calçarem, enfim, para poderem viver normalmente.

O português sente-se uma personalidade inacabada e que mais não faz que procurar por aí um meio, qualquer meio honesto de sobreviver e de fazer sobreviver seus filhos; anda ainda à procura de um equilíbrio definitivo e em vias de maturação e das tais maturidades de que tanto falam.

Inteiramente voltado a apreender-se a si mesmo, vai dando forma ao que em breve lhe anunciam virá a ser; quando estiver mais perto da tumba, sobretudo os mais velhos a quem continuam a roubar descaradamente. Será isso, ou será esse o caminho para as tais maturidades?

Aliás, eles solicitam a sociedade, e acolherão quem os ajude sem os ferir. Certamente jamais admitirá, sem revolta, que os substituam, pois sente orgulho de tudo quanto fez pelo país durante toda uma vida repleta de precalços, de maus momentos, de trabalhos forçados para poderem garantir uma pensão miserável mas que, mesmo assim, a vê e sente cortada por esses que hoje, como ontem, saudaram efusivamente o tal regresso aos mercados, como tratando-se de verdadeiros salvadores da Pátria.


Aliás, o sorriso de triunfo do senhor Gaspar, como também a carta lida pelo senhor Paulo na véspera, fabricada de forma concertada com o senhor Pedro, que nada de novo disse aos cidadãos, pelo contrário, os colocou numa situação ainda mais duvidosa que antes, mas que parece ter engodado alguns políticos na oposição, se bem que velada ou camuflada, mas que não conseguiu iludir as pessoas de bom senso, são bem elucidativos de que, hipocritamente, pretendem fazer crer que daqui em diante só pode reinar o optimismo em Portugal. 
Mas, é caso para admirar a falsa alegria demonstrada pelo senhor Silva que, quase saltava de contentamento e ia dizendo que era por isso mesmo que estava ali, na companhia do presidente turco e sua comitiva de empresários que estavam na disposição de investir em Portugal, dando assim continuidade às vendas a retalho do que ainda resta à nação, enquanto os portugueses se vêm “gregos” para poderem viver dentro da dignidade humana.

No fundo, tudo tem a sua importância, seja para o bem ou para o mal. E toda a obra verdadeiramente profunda, significativa, exige de nós o que de melhor temos a oferecer. A renúncia de si mesmo não se dá nunca facilmente.

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