O feudalismo
atacado com a ajuda da democracia e da igualdade, por intermédio do cidadão, a
industrialização posta em causa pelo
socialismo e pela democracia, por intermédio do trabalhador, apenas estavam à
espera do capitalismo criticado segundo o princípio libidinal e libertário, por
intermédio do indivíduo, cuja data de nascença é, incontestavelmente, Maio de
1968.
Com esse mês
mítico e com os seus característicos acontecimentos, a mística de esquerda
completa e termina a formulação do seu empreendimento da descristiananização,
inaugurada pela Revolução Francesa.
O século de
Proudhon quis acabar com a caridade dos católicos que a pobreza sempre
satisfaz, pois ela permite-lhes praticar uma das virtudes teologais que a
Igreja apostólica e romana convida a exercer.
Contra o que
não era ainda caritativo, mas que, no fundo, se lhe assemelhava estranhamente,
os socialistas quiseram promover, se não a justiça, pelo menos a equidade, a
saber, aquilo que diz respeito às leis naturais quando a justiça pressupõe o
que cabe a cada um, mas segundo o direito positivo.
Preciso aqui
que as leis naturais designam aquilo que parece impor-se de si mesmo, com toda
a evidência, desde que se disponha de um mínimo de humanidade.
Segundo o
princípio de Antígona, essas leis querem, de maneira ética e absoluta, o que é
justo segundo a ordem da alma e não do código civil.
Alojar os
sem-abrigo, dar trabalho aos danados, tornar mais viável a condição dos
explorados, humanizar a existência sob todas as suas formas, eis obrigações
políticas de esquerda que provêm de princípios éticos hedonistas.
Longe das
dissertações filosóficas ou das divagações doutorais sobre os méritos
comparados das justiças comutativa ou distributiva, sobre a relação mantida
entre a caridade e outras virtudes teologais do género da fé ou da esperança,
com as quais nada podemos fazer, o princípio de Antígona quer a equidade
segundo a ordem humana.
A sua
especificidade, definição e quinta-essência, supõem ser preferível tudo o que
nos afaste do animal, da besta.
Da igualdade
e da humanidade até à fraternidade e à equidade, efectua-se um trajecto que
conduz à liberdade e ao desfrutar de si próprio. Maio de 68 ofereceu a
oportunidade de um momento histórico no qual se cristalizou a mística de
esquerda.
Será que passados
45 anos, hoje portanto, se tornou conveniente fazer dos acontecimentos de então
um epifenómeno, uma festa, um rebuliço,
um desfile barulhento de estudantes, sem consequências?
Não! Não
pode ser, pois se então, em França nada estava bem, ou muito pouco, hoje em
Portugal tudo se encontra nas ruas da amargura, sendo necessário e urgente
travar toda a agressividade de um governo “louco” e sem o menor sentido de
solidariedade.
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