Duarte
Marques reage à notícia do PÚBLICO.
Duarte
Marques
O deputado do PSD Duarte Marques escreveu uma carta à chanceler
alemã, Angela Merkel, em que critica a alegada "desresponsabilização da
Alemanha" pela austeridade aplicada na União Europeia, considerando-a
"um oportunismo político".
Nesta
carta, que deverá ser enviada na sexta-feira, a que a agência Lusa teve acesso,
Duarte Marques faz alusão à notícia PÚBLICO com o título "Berlim demarca-se da austeridade e acusa Barroso de
incompetência", que refere responsáveis alemães, não
identificados.
"Com o objectivo de apurar a
verdade, não podia deixar de lhe enviar esta carta, cumprindo um dever de
consciência, aguardando que tal conteúdo não corresponda à realidade",
começa por afirmar o ex-presidente da Juventude Social Democrata (JSD).
"Esta recente
desresponsabilização da Alemanha sobre o 'património' da estratégia de
austeridade que graça na Europa parece-me de um oportunismo político pouco
habitual para as tradições alemãs e, sobretudo, pouco digno para um país que,
pela mão de Helmut Kohl, nunca sofreu de falta de coragem para assumir o
interesse europeu e alemão - mesmo contra a opinião pública alemã. Kohl era de
uma casta de estadistas que hoje escasseia na Europa", acrescenta, apesar
da dúvida colocada acima.
Quanto à actuação do presidente da
Comissão Europeia, Durão Barroso, Duarte Marques faz questão de recordar que
alguns Estados-membros, "incluindo o dueto liderante franco-alemão",
votaram "contra a iniciativa que a Comissão Europeia entendeu desenvolver
para reforçar a regulação dos mercados financeiros, alguns anos antes desta
crise se iniciar".
Se tivessem defendido essa
proposta da Comissão Europeia, talvez se tivesse "evitado toda esta
crise", sustenta, em defesa de Barroso.
Ao longo desta carta, o deputado
do PSD assinala a influência da Alemanha na política da União Europeia.
"Esta política de
austeridade, a qual em parte percebo, tem o acento tónico germânico e foi
também inspirada por decisões do seu Governo", diz. "Eu nunca estive
numa reunião do Conselho Europeu que aprovou medidas de austeridade, mas sei
que o ministro das Finanças alemão esteve lá. Se não concordava devia ter
votado contra", reforça.
O ex-presidente da JSD refere que
há dois anos assistiu presencialmente às críticas que Merkel fez ao presidente
do PSD, Pedro Passos Coelho, então na oposição, agora primeiro-ministro de
Portugal, pelo chumbo do chamado "PEC 4" do Governo do PS.
"Na altura, não fiquei calado
e defendi a posição do meu partido, mas, sobretudo, o interesse de Portugal,
lamentando ainda que as posições de alguns Estados-Membros (não apenas o
alemão), fossem tomadas em função da aproximação de eleições. Hoje volto a
fazê-lo, para salientar que, entretanto, Portugal superou com sucesso sete
avaliações do cumprimento do memorando de entendimento; para sublinhar também
que a estratégia europeia dos últimos anos foi influenciada pelas posições do
ministro das Finanças alemão e por Vossa Excelência", escreve.
Depois de ressalvar que não é dos
que "consideram a Alemanha responsável pela crise na Europa", o
social-democrata declara: "Penso até que, se mais países seguissem o
exemplo alemão, não estaríamos na difícil situação em que nos encontramos. Mas,
com franqueza, não posso deixar de censurar esta desresponsabilização, bem
semelhante à postura do Partido Socialista em Portugal, colocando-se à margem
das difíceis decisões que são necessárias para recuperar o caminho do
crescimento e da solidez das contas públicas, mesmo tendo responsabilidades na
crise que vivemos".
Duarte Marques critica ainda a
"lógica das cimeiras bilaterais, entretanto tornadas públicas, entre a
Alemanha e França ou, oportunamente, com a Itália", considerando que isso
tem contribuído para "o enfraquecimento da União Europeia, e do próprio
Conselho".
No final do texto, o deputado do
PSD apela a um reforço do diálogo institucional, da liderança, da cooperação e
da solidariedade entre Estados-membros.
"Conto, para isso - como
sempre contei -, com uma Alemanha forte, pujante e que não deixe de dar os bons
exemplos a que nos habituou", conclui.
=Público=
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