Como definir essas pessoas que passam os seus
domingos a proclamar-se republicanos e a semana a adorar reis, rainhas e monarquias
como a inglesa e a espanhola, mas também a belga e a alemã, se tivermos em
conta que está nas mãos de Sua Majestade Frau Merkel, que se dizem modestos,
mas falam sempre de deter as bandeiras da civilização, que fazem do bom senso
um dos seus principais artigos de exportação, mas conservando tão pouco deles
mesmos que derrubam os seus governos apenas de pé.
Que colocam Portugal no seu coração, mas as
suas fortunas no estrangeiro – em paraísos fiscais – que adoram ouvir os seus cantores
de fado, incutindo no espírito do povo que é ele quem educa, instrói e diverte,
mas aos quais o menor clarão dá uma costela marcial; que detestam que se
critique as suas acções, mas que não cessam de as denegrir eles próprios.
Que se dizem enamorados das linhas, mas
alimentam uma afectuosa inclinação pela torre dos Clérigos ou pelo elevador da
Ajuda.
Que admiram nos ingleses a ignorância do “sistema
D2”, mas crendo-se ridículos se declararem ao fisco o montante exacto dos seus
rendimentoss.
Que criticam as histórias de ciganos, mas
tentam obter um preço inferior ao número marcado.
Que se referem prazenteiramente à sua
história, mas não querem sobretudo mais histórias, ver dificuldades.
Que detestam passar uma fronteira sem passar
em fraude alguma coisa, mas repudiam que os outros o não façam dentro das
regras legais e normais.
Que têm antes de tudo der se afirmar como
pessoas “às quais nada se pode apontar”, mas que se apressam a eleger um
deputado desde que ele lhes prometa a lua.
Que dizem: “Em Abril, águas mil”, mas cortam
o aquecimento em Março.
Que cantam a graça à sua aldeia natal, mas
lhe fazem as piores injúrias empedradas, que têm um respeito marcado pelos
tribunais, mas se dirigem aos advogados a não ser para melhor saberem como
contornar as leis.
Enfim, que estão sob o encanto quando alguns
dos seus grandes homens lhes falam da sua grandeza, da sua grande missão social
e civilizadora, do seu grande país, das grandes tradições, mas cujo sonho é de
se retirar após uns anos de boa vida, para um pequeno canto tranquilo, com um
bom pedaço de terra, com sua mulher que, contentado-se com alguns vestidos não
caros, os satisfarão com bons pratos e saberá na devida ocasião receber
convenientemente alguns amigos para fazer uma suecada bem regada.
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