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quarta-feira, 8 de maio de 2013

«CONTRADIÇÕES PORTUGUESAS»

Como definir essas pessoas que passam os seus domingos a proclamar-se republicanos e a semana a adorar reis, rainhas e monarquias como a inglesa e a espanhola, mas também a belga e a alemã, se tivermos em conta que está nas mãos de Sua Majestade Frau Merkel, que se dizem modestos, mas falam sempre de deter as bandeiras da civilização, que fazem do bom senso um dos seus principais artigos de exportação, mas conservando tão pouco deles mesmos que derrubam os seus governos apenas de pé.

Que colocam Portugal no seu coração, mas as suas fortunas no estrangeiro – em paraísos fiscais – que adoram ouvir os seus cantores de fado, incutindo no espírito do povo que é ele quem educa, instrói e diverte, mas aos quais o menor clarão dá uma costela marcial; que detestam que se critique as suas acções, mas que não cessam de as denegrir eles próprios.

Que se dizem enamorados das linhas, mas alimentam uma afectuosa inclinação pela torre dos Clérigos ou pelo elevador da Ajuda.

Que admiram nos ingleses a ignorância do “sistema D2”, mas crendo-se ridículos se declararem ao fisco o montante exacto dos seus rendimentoss.

Que criticam as histórias de ciganos, mas tentam obter um preço inferior ao número marcado.

Que se referem prazenteiramente à sua história, mas não querem sobretudo mais histórias, ver dificuldades.

Que detestam passar uma fronteira sem passar em fraude alguma coisa, mas repudiam que os outros o não façam dentro das regras legais e normais.

Que têm antes de tudo der se afirmar como pessoas “às quais nada se pode apontar”, mas que se apressam a eleger um deputado desde que ele lhes prometa a lua.

Que dizem: “Em Abril, águas mil”, mas cortam o aquecimento em Março.

Que cantam a graça à sua aldeia natal, mas lhe fazem as piores injúrias empedradas, que têm um respeito marcado pelos tribunais, mas se dirigem aos advogados a não ser para melhor saberem como contornar as leis.


Enfim, que estão sob o encanto quando alguns dos seus grandes homens lhes falam da sua grandeza, da sua grande missão social e civilizadora, do seu grande país, das grandes tradições, mas cujo sonho é de se retirar após uns anos de boa vida, para um pequeno canto tranquilo, com um bom pedaço de terra, com sua mulher que, contentado-se com alguns vestidos não caros, os satisfarão com bons pratos e saberá na devida ocasião receber convenientemente alguns amigos para fazer uma suecada bem regada.

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