Se a força é contagiosa, a fraqueza não o é
menos: tem os seus atractivos; não é fácil resistir-lhe.
Quando os débeis são legião, enfeitiçam-vos;
com que meios lutar contra um continente de abúlicos?
Sendo, de resto, a falta de vontade uma coisa
agradável, as pessoas entregam-se-lhe de boa vontade.
Nada mais suave do que arrastar-mo-nos atrás
dos acontecimentos; e nada mais razoável.
Mas, sem uma forte dose de demência, não há
iniciativa, nem empreendimento, nem gesto.
A razão: ferrugem da nossa vitalidade. É o
louco que há em nós que nos força à aventura; se nos abandonar, estaremos
perdidos: é dele que tudo depende, mesmo a nossa vida vegetativa.
É ele que nos convida a respirar, que nos obriga a fazê-lo, é ele também que
força o nosso sangue a passear nas nossas veias. Se se retirar, ficaremos sós!
Não se pode ser natural e estar vivo ao mesmo
tempo.
Se me mantenho em posição vertical e me
preparo para preencher o próximo instante, se, em suma, concebo o futuro, é
porque intervêm um oportuno desvario do meu espírito.
Subsisto e ajo na medida em que deixo de
lado a razão, em que levo a efeito as minhas divagações.
Quando me torno sensato, tudo me intimida:
deslizo em direcção à ausência, a fontes que não se dignam jorrar, a essa
prostração que a vida deve ter conhecido antes de conceber o movimento, atinjo,
à força de cobardia, o fundo das coisas, encurralado à beira de um abismo
contra o qual nada posso e que me isola do futuro.
Um indivíduo, como um povo, como um
continente, apaga-se quando se afasta dos desígnios e actos inconsiderados,
quando, em vez de se arriscar e de se precipitar na direcção na direcção do
ser, se encolhe, se entrincheira; metafísica da regressão, do aquém, recuo para
o primordial!
Na sua terrível ponderação, a Europa
recusa-se a si própria, à memória das suas imperfeições e impertinências e dos
seus desafios e até a essa paixão do inevitável, última honra da derrota.
Refractária a qualquer forma de excesso, a
qualquer forma de vida, a Europa delibera, deliberará sempre, mesmo depois de
ter deixado de existir: não é verdade que tem já a aparência de um conciliábulo
de espectros?
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