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quarta-feira, 15 de maio de 2013

«A FORÇA E A FRAQUEZA»

Se a força é contagiosa, a fraqueza não o é menos: tem os seus atractivos; não é fácil resistir-lhe.

Quando os débeis são legião, enfeitiçam-vos; com que meios lutar contra um continente de abúlicos?

Sendo, de resto, a falta de vontade uma coisa agradável, as pessoas entregam-se-lhe de boa vontade.

Nada mais suave do que arrastar-mo-nos atrás dos acontecimentos; e nada mais razoável.

Mas, sem uma forte dose de demência, não há iniciativa, nem empreendimento, nem gesto.

A razão: ferrugem da nossa vitalidade. É o louco que há em nós que nos força à aventura; se nos abandonar, estaremos perdidos: é dele que tudo depende, mesmo a nossa vida vegetativa.

É ele que nos convida a respirar,  que nos obriga a fazê-lo, é ele também que força o nosso sangue a passear nas nossas veias. Se se retirar, ficaremos sós!

Não se pode ser natural e estar vivo ao mesmo tempo.

Se me mantenho em posição vertical e me preparo para preencher o próximo instante, se, em suma, concebo o futuro, é porque intervêm um oportuno desvario do meu espírito.

Subsisto e ajo na medida em que deixo de lado a razão, em que levo a efeito as minhas divagações.

Quando me torno sensato, tudo me intimida: deslizo em direcção à ausência, a fontes que não se dignam jorrar, a essa prostração que a vida deve ter conhecido antes de conceber o movimento, atinjo, à força de cobardia, o fundo das coisas, encurralado à beira de um abismo contra o qual nada posso e que me isola do futuro.

Um indivíduo, como um povo, como um continente, apaga-se quando se afasta dos desígnios e actos inconsiderados, quando, em vez de se arriscar e de se precipitar na direcção na direcção do ser, se encolhe, se entrincheira; metafísica da regressão, do aquém, recuo para o primordial!

Na sua terrível ponderação, a Europa recusa-se a si própria, à memória das suas imperfeições e impertinências e dos seus desafios e até a essa paixão do inevitável, última honra da derrota.


Refractária a qualquer forma de excesso, a qualquer forma de vida, a Europa delibera, deliberará sempre, mesmo depois de ter deixado de existir: não é verdade que tem já a aparência de um conciliábulo de espectros?

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