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segunda-feira, 13 de maio de 2013

«A AUTORIDADE POLÍTICA»

Nenhum homem recebeu da natureza o direito de comandar os outros.

 A liberdade é um presente do Céu, e cada indivíduo da mesma espécie tem o direito de a gozar, tão rapidamente atinja a idade da razão,

Se a natureza estabeleceu qualquer autoridade, é o poder paternal ; mas esse poder tem, também, os seus limites ; e no estado natural ele acabaria logo que os filhos estiverem em estado de saberem conduzir os seus próprios destinos.

Toda e qualquer outra autoridade vem de outra origem que a natureza. Que se examine bem e conseguiremos que essa autoridade, tal como acontece com o azeite, suba á superfície da água ; ou a força e a violência daquele que dela se apoderou, pensando-se « único » ; ou o consentimento dos que se submeteram por um contrato feito ou suposto entre eles e aqueles a quem eles deferiram a autoridade provisoriamente.

O poder que se adquire pela violência não é que uma usurpação e não dura mais que a força do que comanda o conduz sobre a dos que obedecem ;  de forma que se os últimos se tornam, por sua vez, os mais fortes, e que agitam e retiram o jugo, fazem-no com tanto direito e justiça que o outro que lhes havia sido imposto, e se impunha com toda a severidade. A mesma lei que fez a autoridade a derrota então ; é a lei do mais forte.

Por vezes a autoridade que se estabelece pela violência muda de cariz ; é quando ela continua e se mantém com o consentimento expresso dos que foram submetidos : mas mas ela entra, por aí por outra forma, quando o « mandão » se arroga o direito ao exercício da tirania.

O poder que surge do consentimento dos povos supõe, necessariamente, condições que tornam o uso legítimo útil à sociedade, sobretudo em República, fixando-a e restringindo-a entre limites ; pois o homem não pode nem deve dar-se inteiramente e sem reservas a um outro homem, porque tem um mestre superior acima de tudo, a quem só pertence por inteiro.

É Deus, cujo poder é sempre imediato sobre a criatura, mestre tão cioso como absoluto, que nunca perde os seus direitos nem os cede a outrem.

Permite, pelo bem comum e a manutenção da sociedade que os homens estabelecem entre eles, uma ordem de subordinação, que obedeçam a um deles ; mas, quer que seja pela razão e com medida, e não cegamente e sem reservas, afim de que, a criatura não se arrogue os direitos do Criador.

Toda e qualquer outra submissão é um verdadeiro crime de idolatria.

Ajoelhar perante um homem ou perante uma imagem é apenas uma cerimónia exterior, em que o verdadeiro Deus, que pede o coração e o espírito, não se preocupa, e que abandona à instituição dos homens para fazer, como lhes convier, marcas de um culto civil e político, ou um culto de religião.

Assim, não são essas cerimónias, em si mesmas, mas o espírito do seu estabelecimento que torna a prática inocente ou criminosa.

Felizmente, vivemos num país considerado civilizado, não num do Terceiro Mundo, ou afro-asiático onde sem escrúpulo algum se ajoelham, os seres humanos face a outro ser humano, num cerimonial que não significa que o que se pretendeu que significasse, mas entregar o seu coração, o seu espírito e a sua conduta, sem qualquer reserva, à vontade e ao capricho de uma pura criatura, fazer o único e último motivo das suas acções, sendo seguramente um crime de lesa-majestade divina ao primeiro chefe.

Não ! Um primeiro-ministro ou um presidente da República merece tanto respeito como o mais pobre dos cidadãos, que só o é porque eles assim entendem que ele seja.


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