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terça-feira, 7 de maio de 2013

«A ACTUAL EUROPA»

Uma civilização apenas existe e se afirma por meio de actos de provocação. Começa a ser cordata? Desmorona-se. Os seus momentos culminantes são momentos temíveis, durante os quais, longe de armazenar forças, prodigaliza-as.

Ávido de se extenuar, Portugal assumiu a tarefa de desperdiçar as suas; e conseguiu, auxiliado pelo seu orgulho, mas ao mesmo tempo subserviência aos países do norte, pelo seu zelo agressivo dos seus governantes em relação ao seu povo.

Apesar do seu sentido de equilíbrio, só podia alcançar a supremacia em detrimento da sua substância.

Esgotar-se: foi esse o seu ponto de honra.

Enamorado da fórmula, da ideia explosiva, do alarido ideológico, colocou o seu génio e a sua vaidade ao serviço de todos os acontecimentos que ocorreram ao longo dos últimos anos, sobretudo após os que se seguiram à entrada em vigor do euro, como moeda única da União Europeia, o que tem conduzido o nosso país a uma tremenda depressão bem próxima da bancarrota.

E depois de ter sido vedeta, eis que o país e sobretudo seu povo cai na miséria, uma parte da qual caiu mesmo abaixo do limiar da pobreza, devendo o actual governo recorrer a uma nova forma de “sopa dos pobres” nas escolas e através de associações de benemerência.

Eis o país resignado, receoso, ruminando os seus remorsos e apreensões, descansando do seu fulgor, do seu passado.

Foge do seu rosto, treme diante do espelho… As rugas de uma nação são tão visíveis como as de um indivíduo.

Quando se fez uma grande revolução, não se volta a desencadear outra de igual importância. Se por muito tempo se foi árbitro do gosto, uma vez perdido esse lugar, não se pode tentar reconquistá-lo.

Quando se deseja o anonimato, é porque se está cansado de servir de modelo, de ser seguido, macaqueado: para quê continuar a ter um salão para divertir o universo?

Estas verdades de La Palisse, conhece-as Portugal bem de mais para as repetir a si próprio. Nação de gesto, nação teatral, amava a sua arte e também o seu público. Está farto, quer abandonar o palco e já apenas aspira aos cenários do esquecimento.

Não se pode pôr em dúvida o facto de Portugal ter gasto a sua inspiração e os seus dons, mas seria injusto censurar-lho; seria o mesmo que acusá-lo por se ter realizado e cumprido outrora.

As virtudes que faziam dele uma nação privilegiada, corroeu-as à forças de tanto as cultivar, de tanto as valorizar, e não é por falta de exercício que os seus talentos hoje empalidecem e se apagam.

Desde que Portugal abandonou os seus desígnios de dominação e de conquista, o acabrunhamento, o tédio generalizado, devora-o. Flagelo das nações em plena defensiva, devasta a sua vitalidade; em vez de se prevenirem contra ele, suportam-no e habituam-se-lhe a ponto de já não o poderem dispensar.

Entre a vida e a morte, encontrarão sempre espaço bastante para escamotear uma e outra, para evitar viver, para evitar morrer.


Vítimas de uma catalepsia lúcida, sonhando com um status  quo eterno, como reagiram os portugueses contra a obscuridade que os assedia, contra o avanço de civilizações opacas?

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