O acto teatral, em todas as suas
manifestações – prosa, dança, ópera, circo… - é por natureza insubstituível.
Produz-se, contempla-se e desenvolve-se. Por isso, uma característica essencial
que distingue o teatro de qualquer outra arte de comunicação é o seu carácter
físico. Realiza-se num espaço e num tempo determinados, uma cerimónia de
desdobramento da realidade que é absolutamente irrepetível.
Por contraste, um filme é idêntico no ano
1950 ou no 2013, embora a forma de o ver, por parte do espectador, seja,
logicamente, diferente. Até mesmo um filme tão unanimemente aclamado como
Casablanca é visto hoje em dia, quando não se apela à simples nostalgia,
partindo de pressupostos diferentes dos existentes à data da sua estreia. Mas a
materialidade da obra artística é igual. Os mesmos actores, as mesmas
situações, o mesmo grão da fotografia e a mesma música, que depois passa para o
acervo da memória sempre em relação com a obra que o acompanhou.
Em contrapartida, o espectáculo teatral surge
num momento concreto, num espaço determinado, como um jogo de tensões
específico de cada representação e, como tal, não pode ser nunca recuperado no
que constitui a sua essência: esse acto de comunicação espiritual, indefinível
na consecução dos seus objectivos ou no fracasso alternativo. O acto teatral é
assim, efémero e único.
Curiosamente, e por isso dedico estas linhas
ao teatro que hoje se faz em Portugal, como ainda esta semana tivemos a ocasião
de assistir, quando o deputado Carlos Abreu Amorim, candidato à Câmara de Gaia,
“tomou a iniciativa”, que todos pensaram ser muito sua e só sua, acerca da
manutenção, ou não, do actual ministro das finanças que, em “seu entender”,
deveria ser substituído após ter atingido, tão brilhantemente, a sua meta – o regresso
aos mercados.
Aí, logo se levantou a voz de Jorge Moreira
da Silva, o vice de Passos Coelho no PSD, fazendo afirmações de que aquele
deputado terá falado demais e em seu próprio nome, uma vez que não seria essa a
opinião dos líderes do seu partido. Talvez não a dele, mas que hoje se
confirmou ser a do líder do PSD e do governo, quando afirmou que manterá Vitor
Gaspar no MF até à saída da troika, em meados de 2014.
Portanto, Carlos Abreu Amorim, afinal – será que
recebeu instruções nesse sentido? – não se limitou a falar de cor nem por sua
iniciativa própria, assim como deixou de ser credível a atitude de Moreira da
Silva, a não ser que Passos coelho faça o jogo interno, no seu partido, do pau
de dois bicos.
Ora, se o faz no seu próprio partido, como
não o fazer no país também?
Não será legítimo que todos olhemos para este
governo e este líder como uma ave rara, que não se limita a mentir aos
portugueses em geral, fazendo-o mesmo no seio do seu partido, o que pode
desencadear uma ruptura interna, desde que não se trate de mais um jogo da “berlinda”.
Mas, as grandes jogadas não se fazem apenas
em relação ao ainda ministro das finanças, pois também nos foi dada a
informação de que não existe um plano B para as candidaturas de Fernando Seara
e de Luis Filipe Menezes, às câmaras de Lisboa e Porto respectivamente, quando
se sabe que os tribunais já deram o parecer de que quer um quer o outro não
poderão candidatar-se, pois já atingiram, em Sintra e em Gaia o limite de
mandatos imposto pela lei vigente.
Sempre fui admirador do velho Teatro de
Revista que, apesar de todas as amarguras da vida sob a ditadura, fazia rir o
espectadores, que por cerca de duas horas esqueciam todos os tormentos que os
esperavam à porta do teatro.
Mas, torna-se inadmissível que pessoas com
toda a grande responsabilidade de governarem o país, passem a vida a mentir
descaradamente aos cidadãos e se limitem a apresentar-lhes toda a espécie de peças
teatrais que, devo dizê-lo claramente, já não pegam, ou seja, jã não colam, pois
aconteceu e acontece diariamente, o mesmo que ao pastor que pedia socorro
gritando: “acudam que é lobo” e depois se ria na cara dos que acorriam aos seus
apelos, mas ao terceiro, em que era mesmo o lobo que atacava o seu rebanho,
teve de fugir e perder as suas ovelhas, o seu rebanho.
Quem pode acreditar nestas encenações que nos
oferecem, gratuitamente, os actuais políticos no poder? Será que disse
políticos..?
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