A tal ponto o são que se acabaria por acreditar que só há portugueses revoltados,
devido a todas as medidas implementadas por Pedro e seus lacaios, de imediato aceites pelo Aníbal.
Dizer-se que são insuportáveis é pouco, e que o digam todos aqueles que,
infelizmente deles são vítimas directas.
Repassei a história de Portugal desde a implantação da República, li
atentamente o que se seguiu ao 5 de Outubro de 1910. Li bastante sobre a
revolução de 20 de Maio de 1926 e, consequentemente, sobre a ditadura militar,
à qual se seguiu a ditadura de Salazar, não podendo deixar de ler sobre a
Revolução do dia, ou melhor, da madrugada do dia 25 de Abril de 1974, que vivi
intensamente.
Li ainda sobre os governantes e
presidentes da República que foram para o poder quando os militares regressaram
aos quartéis e, como gosto de ler nas entrelinhas e as subtilezas da história.
E, curiosamente vi-me a mim próprio a traçar um diagnóstico de toda esta
doença que ataca o povo português e o próprio país, obrigando-o a uma dieta de
emagrecimento que dá origem àquilo que os políticos no poder chamam “doença da
indisciplina, mal da revolta”, que actualmente se vive neste velho canto da
Lusitânia.
Eis, pois, o diagnóstico, ou parte dele: «castiga-se com forte rigor os
cidadãos lusitanos, ambas as partes se obstinam, sobrevém a animosidade crónica
entre cidadãos e políticos, o que gera a acrimónia, o rancor, a injustiça e o
longo cortejo de exprobações e censuras mútuas. A vida no país torna-se
verdadeiramente insustentável.
O cidadão, em tal circunstância, raciocinará assim: “Já que não posso
trabalhar no meu país, vou embora para outro”. É a verdade, mas só até certo
ponto, até certa idade que lhe permita recomeçar a vida noutro país, enquanto
os mais velhos, que trabalharam toda uma vida, se vêm obrigados a manter-se por
cá, arcando com todas as responsabilidades, isto é, com todos os cortes nos
salários, nas pensões de reforma, nos subsídios de férias e de Natal, aumentos
sobre os descontos para os serviços sociais, isto é, a saúde e a vida social
propriamente dita.
Ora, não há sistema que resista sem que haja quem trabalhe e o sustente com
os descontos mensais, ou seja, a Segurança Social e a Caixa Geral de
Aposentações ou a ADSE.
Retrocedendo um pouco, digo e afirmo que quando apareceu alguém que quis
dar um empurrão aos cidadãos pretendendo equipará-los ao nível dos restantes
países europeus do ponto de vista benefícios e salarial, de imediato o chamaram de louco que ia dar cabo da economia
do país.
Refiro-me, é verdade, a Vasco Gonçalves,
a quem alguns inventaram mesmo uma deterioração mental, sendo prioridade
afastá-lo do lugar que ocupava, o de primeiro-ministro do governo provisório.
Fértil em expedientes, um novo partido novo, de velhos deputados à
Assembleia Nacional, todos salazaristas, assim como aquele que foi o primeiro
presidente da República seguidamente ao 25 de Abril, Spínola, mandou criar um
partido político que defendesse os valores do anterior regime, o tal da
ditadura, de imediato surgiram os seus homens de mão, que deram corpo ao CDS,
hoje estupidamente considerado um dos partidos do “arco da governação”,
enquanto aqueles que sempre lutaram contra a ditadura, a tortura, as prisões
arbitrárias, as condenações sem
julgamento, a Pide.., eram marginalizados pelos que então dominavam o país.
Psicologicamente, ao menos, tentaram que fosse um partido “deslocado”, que só
sobreviveu graças à eterna teimosia, e abençoada ela seja, dos seus quadros que
viveram anos na clandestinidade.
Ora, perante tudo isto, como pode pretender-se que Portugal seja um país
onde exista a equidade e a igualdade, se o próprio povo, por motivo de falta de
conhecimento e de politização, sem uma mentalidade sã e um verdadeiro interesse
patriótico – e não digo que seja o único culpado – não evite vender o seu voto
a quem pague uns passeios e uns jantares bem regados, como aqueles que lhes são
oferecidos durante as épocas da campanhas eleitorais?