Primeiro-ministro
revisita a negociação do plano da troika em 2011. Garante que defendeu mais um
ano de ajustamento e um empréstimo superior. Mas justifica: se tivesse colocado
a questão entretanto, isso significaria “ter um segundo programa”.
Passos
Coelho em Maio de 2011, durante a campanha para as legislativas
Não enquanto primeiro-ministro, mas então como líder da oposição
quando Portugal negociava o programa de resgate com a troika em 2011, Pedro Passos Coelho diz ter
defendido mais tempo e mais dinheiro para o plano de assistência. A revelação é
feita pelo próprio, no prefácio do livro As
Raízes do Mal – a Troika e o Futuro, do deputado social-democrata Miguel
Frasquilho.
De acordo
com o Jornal de Negócios e o Expresso, Passos Coelho
defende, nesse texto, que Portugal deveria ter pedido, à partida, mais um ano
para cumprir o programa de ajustamento e que o envelope financeiro da União
Europeia e do Fundo Monetário Internacional (78 mil milhões de euros) deveria
ter sido maior.
“Parecendo-me que ganharíamos
segurança na execução do programa dispondo de mais tempo do que estava previsto
(sugeri quatro anos em vez dos três anos apontados) ouvi uma resposta que
sugeria mais ou menos o seguinte: ‘Não garantimos que a resposta a essa questão
pudesse ter sido positiva, mas é demasiado tarde sequer para a suscitar’”, relata
o primeiro-ministro no prefácio citado pelos dois jornais.
Ao recuar até ao período das
negociações do programa da troika, em 2011, Passos diz
ter deduzido que o Governo socialista de José Sócrates “não tinha colocado esta
questão [um prazo mais longo] em cima da mesa e que, naquela fase, ela era
extemporânea”.
O primeiro-ministro explica ainda
por que não voltou à questão quando chegou ao poder: “Uma vez que o prazo era o
que era e modificá-lo corresponderia a uma alteração significativa que obrigaria,
na prática, a ter um segundo programa, decidi, como primeiro-ministro, que
seria contraproducente seguir essa abordagem ulteriormente.”
Foi o que garantiu enquanto
primeiro-ministro e foi esse o discurso oficial do Governo desde a primeira
hora. A 9 de Março do ano passado, por exemplo, em visita à Suécia, Passos
assegurava: “Portugal vai cumprir [o programa de assistência] com sucesso e sem
precisar de mais tempo nem mais dinheiro.” O mesmo garantia o ministro das
Finanças, Vítor Gaspar, em Junho, quando repetia que o Governo não pediria
“nem mais tempo nem mais dinheiro”.
No prefácio ao livro de
Frasquilho, o primeiro-ministro revela que gostaria que o empréstimo tivesse
destinada uma verba para o sector empresarial do Estado, SEE. “Esta, sim,
parece-me ter sido a grande deficiência associada à estrutura financeira do
programa”, escreve.
Para o governante, “mesmo
admitindo que pudesse haver alguma razão histórica que justificasse prudência
neste domínio, poder-se-ia ter previsto uma fatia de financiamento não
suficientemente confortável mas que amortecesse a situação esperada de garrote financeiro
[no SEE] que se veio a concretizar”.
O livro de Miguel Frasquilho reúne
as crónicas do economista e deputado publicadas na imprensa (maioritariamente
no Jornal de Negócios) sobre temas da actualidade
política e económica.
=Público=
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