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domingo, 17 de março de 2013

«PARA UMA MÍSTICA DE ESQUERDA»


Mística?

Inquietar-se-ão aqueles que me conhecem e à minha aversão pelas falsas religiões, como também o meu gosto pelo materialismo radical.

Compreendo isso e quero reivindicar, alto e claramente, a possibilidade, para um fanático da imanência, de ler o real, a História e o mundo segundo um princípio não só horizontal, mas também vertical.

A mística convém às ideias que, segundo o princípio nietzscheano, habitam nos cumes, lá onde é frio, vivo e cortante, lá onde se temem as virtudes do vento invernal, a rudeza e a raridade, portanto, os valores que contam.

Para as ideias medíocres e os que nelas se comprazem, o alto designa a transcendência, o além, quando, a meu ver, ele significa a possibilidade, até aos limites conhecidos, os únicos, de uma orla qualitativa onde uma leitura rasteira e linear implicaria o quantitativo.

A mística decorre dos postulados que a nossa alma nos constrói e acerca dos quais não nos podemos impedir de pensar que guiam toda uma existência, uma ética e princípios, um pensamento e acções.

Ela quer o império a que aspiram todas as energias atrevidas e propõe-se como única resposta possível para libertar os que vegetam nos três círculos infernais da miséria, e para realizar, no plano dos factos, o ateísmo que autorizaria pousar no chão o ídolo economicista.

Para ser susceptível de uma mística, a esquerda de que falo supõe, portanto, uma transição ética do domínio horizontal – onde ela vai buscar metaforicamente o seu sentido – para um registo vertical.

Portanto, não é, de modo algum, um programa para um partido ou uma plataforma com fins eleitorais, como não tende, aliás, a fazer o catálogo, tipo enumeração, do que foram as vitórias e os triunfos da esquerda.

A definição de uma mística de esquerda implica a busca da energia que a constitui. Uma busca e uma descoberta, pois em nada serviria de se obrigar a pesquisar se, por acaso, neste terreno, nos devessemos contentar com uma espécie de teologia negativa como única maneira de nos aproximar ou de abordar regiões impossíveis, margens improváveis.

Sei que estão desqualificadas tanto a mística como a esquerda, às quais se prefere o racionalismo dos universitários e a direita dos senhores da selva, sob o regime dos quais vivemos.

Será que o povo português já nasceu fadado para se manter na servidão, na escravatura, mesmo que a mais moderna, recebendo pelo seu trabalho salários miseráveis?

Quando acabará essa nova escravatura, que cria apenas desemprego e novas formas de opressão, só porque o povo se mantém, prefere manter-se no obscurantismo, na fome e na degradação humana?

Muitos portugueses contentam-se com o futebol, Fátima e fado, e os políticos oportunistas aproveitam-se desse facto para continuarem e pisá-los como se fossem baratas ou lacraus.

Será rude de minha parte perguntar de quem é a culpa? 

1 comentário:

  1. Tenho interêsse numa "Esquerda mÍSTICA" aquí no Brasil; acho que ainda não a temos?

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