No próximo ano,
a economia portuguesa poderá crescer a um ritmo quatro vezes superior e o
consumo das famílias estabilizar, pela primeira vez desde a chegada da troika,
se o Governo não avançar com o plano de corte de quatro mil milhões de euros na
despesa do Estado, estima o Banco de Portugal (BdP).
No seu Boletim Económico de
Primavera, divulgado esta semana, o banco central refere que após uma recessão
de 2,3% este ano, a economia portuguesa poderá regressar a um crescimento já em
2014 com uma subida do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,1%. Esta ligeira retoma
está sustentada nas exportações (subida de 4,5%), mas sobretudo no aumento do rendimento
disponível das famílias, que irá estabilizar o consumo privado (com uma queda
de apenas 0,4%), sendo esta a maior fatia da economia.
Esta performance, porém, apenas
inclui as medidas contidas no Orçamento do Estado para 2013 e expurga os
efeitos de um corte adicional de despesa de quatro mil milhões de euros, que o
Governo acordou com a troika e que se centrará particularmente em 2014. Com
base nesse compromisso, o BdP avança uma estimativa alternativa para a evolução
da economia para o próximo ano, com uma redução de 2,5 mil milhões de euros na
despesa do Estado. Metade desta verba seria alcançada com redução de pessoal
(salários e rescisões) e o restante com prestações sociais, incluindo pensões.
Os efeitos recessivos destas
medidas, através de mais desemprego, encargos para o erário público, queda de
confiança ou maior retracção no consumo das famílias, são claros. A economia
passaria a crescer apenas 0,3%, quatro vezes menos do que no cenário sem corte,
e o consumo privado afundaria 2%, cinco vezes mais do que o previsto. Só
através do consumo das famílias, a economia pode ver ‘evaporar-se’ cerca de 1,8
mil milhões de euros.
Para este ano, o BdP reviu as
suas previsões em baixa e confirmou o aprofundamento da recessão face ao
previsto há três meses. Em 2013, o PIB_deverá cair 2,3% (a estimativa anterior
era de 1,9%), reflectindo o sentimento das famílias de que os cortes de
rendimento derivados da austeridade serão permanentes. O banco central espera,
aliás, que em 2014, o nível de consumo dos agregados familiares em Portugal
recue 14 anos para os níveis de 2000. Ou seja, antes da entrada de Portugal no
euro.
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