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sábado, 30 de março de 2013

«CARAS SENHORAS E SENHORES»


Tenho ouvido e lido, quase diariamente tudo quanto têm dito nos ecrãs televisivos, nos jornais e em rádios – piadas que são autênticas “fotografias” daquilo que pensam, daquilo em que politicamente acreditam.

Quero crer que algumas dessas piadas já não são o que se possa tratar de novidades, pois muitas e muitos de vós repetem-nas à exaustão, como se uma simples “piada”, muitas vezes repetida possa tornar-se em verdade.

A alguns piadéticos conheço-os desde a adolescência, sei que nunca foram grandes e eloquentes alunos, nunca tendo passado da mediania, apesar de sentir algumas, poucas, gratas recordações da convivência que, no tempo, pela idade e sem agruras que viríamos a experimentar durante a vida, até nem era má de todo.

Recordo-me de certas habilidades que tinham em copiar – usar do que chamávamos “cábulas” – sempre que a matéria vos transcendia, incapazes de abrirem a boca durante qualquer aula, sobretudo já na universidade, o que levantava algumas suspeitas aos doutos professores que, na dúvida e como transportavam certos nomes de família, preferiam classificá-los por baixo.


Colocando de lado tais reminiscências, dirijo-me a vós para vos solicitar uns momentos de atenção acerca daquilo que estão a fazer quer no governo quer na Assembleia da República como deputados, quando nunca foram capazes de proferir uma frase completa, que contivesse mais que quatro palavras.

É evidente que se trata de questões que envolvem uma visão acerca das vossas e das minhas ideias políticas e sociais, logo,  trata-se de uma questão política, para a qual vos não reconheço qualquer capacidade de resolução, não negando que temos uma visão do mundo muito diferente e, ao mesmo tempo, oposta.

Sabem? É que isso sempre aconteceu desde os bancos da escola e da faculdade e tem um peso tremendo em mim, desde aquele dia em que alguém se  dedicou a “bufar” à Pide e fui detido após aquela aula em que tive a ousadia de vos presentear não com insultos, mas tratando-vos de endinheirados filhos da mamã que só conseguiriam vencer na vida à custa de “encostos”. Recordais-vos? E recordais-vos também da detenção do “mestre” que se colocou do meu lado?

Mas, terminada a identificação e como jovem que era, quer o professor quer eu mesmo fomos mandados regressar às aulas, embora tivessemos ficado um tanto marcados. E qual não foi a vossa cara de espanto quando regressamos… Recordais-vos?

Enquanto vos ouvia procurar uma desculpa esfarrapada, tive a oportunidade de aprender que devemos respeitar todos aqueles que pensam de forma diferente, o que não impediu que o autor da falsa denúncia, tivesse levado aquele murro no focinho, como estareis recordados, indo receber tratamento a um hospital do Porto, evitando denunciar-me como seu agressor.

É evidente que, entre tais adversários de pensamento, eu não podia, a partir daí, contar com a camaradagem, pelo que me tornei numa espécie de lobo solitário até ao fim do ano escolar, pedindo depois a transferência para Coimbra, bem contra a vontade do Reitor.

Claro que vos recordais, embora possais preferir a amnésia. Enquanto eu era e continuo a ser progressista, vós limitais-vos a manter aquele conservadorismo, enquanto vos arvorais em defensores de um povo que martirizais enquanto afirmais que trabalhais para levantar hoje de novo o explendor de Portugal. Grandes aldrabões me saisteis vós! Aliás, se tivesse usado o termo, muito usado na gíria, tratar-vos-ia de reaccionários, não de conservadores, uma vez que é isso que sois, que sempre fosteis.

Existe em Portugal uma forte corrente de pensamento reaccionário. Sempre existiu, durante os tempos da ditadura salazarista/marcelista e, por exemplo, enquanto eu e outros como eu foram defender Portugal e seus interesses no ultramar africano, vós e vossos paizinhos preferisteis comprar a vossa não ida, e hoje sois vós aqueles patriotas que certamente desconhecem qual o significado do termo.

Vós eras filhos de ricos empresários, que imaginavam que o país era só deles e para eles, também para vós, enquanto eu e outros nos limitavamos a ser mais inteligentes, aplicados e filhos de funcionários que lutavam com dificuldades para poderem proporcionar-nos melhores condições de vida que eles próprios viviam.

Desde jovens que aprendesteis a contribuir para poucos avanços na alfabetização, embora tenhais aprendido as grandes transferências de capitais para o exterior, engendrais um sistema de saúde pública catastrófico, destruís a escola pública, mantendes na vossa posse as ilhas que vossos pais mandaram construir para os mais pobres, cobrais hoje cerca de duzentos euros por uma casa sem condições de higiene e de salobridade, defendeis um sistema de previdência privada, pois tendes interesses nas seguradoras. Só discursos, só demagogia, só corrupção mas, também a alta tributação que é uma grande roubalheira.

Será que estou a tentar que vos torneis apoiantes dos partidos de esquerda? É claro que não! Até porque na nossa idade já não se muda. E menos ainda nas vossas condições, que sempre desconhecesteis o que é a solidaridade humana, o que é uma vida de pobres com e dentro da dignidade.

Passai muito bem, ou muito mal, como preferirdes, mas preparai-vos pois em breve chegará o momento de vos despedir-se de todos esses interesses que defendeis, que acarinhais acobertados pelos amigos poderosos que, no fundo, são exactamente como vós. Uns inúteis!

PS: “Se efectivamente não és a pessoa que penso, demonstra-o!”


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