Tenho ouvido e lido, quase diariamente tudo
quanto têm dito nos ecrãs televisivos, nos jornais e em rádios – piadas que são
autênticas “fotografias” daquilo que pensam, daquilo em que politicamente
acreditam.
Quero crer que algumas dessas piadas já não
são o que se possa tratar de novidades, pois muitas e muitos de vós repetem-nas
à exaustão, como se uma simples “piada”, muitas vezes repetida possa tornar-se
em verdade.
A alguns piadéticos conheço-os desde a
adolescência, sei que nunca foram grandes e eloquentes alunos, nunca tendo
passado da mediania, apesar de sentir algumas, poucas, gratas recordações da
convivência que, no tempo, pela idade e sem agruras que viríamos a experimentar
durante a vida, até nem era má de todo.
Recordo-me de certas habilidades que tinham
em copiar – usar do que chamávamos “cábulas” – sempre que a matéria vos transcendia,
incapazes de abrirem a boca durante qualquer aula, sobretudo já na
universidade, o que levantava algumas suspeitas aos doutos professores que, na
dúvida e como transportavam certos nomes de família, preferiam classificá-los
por baixo.
Colocando de lado tais reminiscências,
dirijo-me a vós para vos solicitar uns momentos de atenção acerca daquilo que
estão a fazer quer no governo quer na Assembleia da República como deputados,
quando nunca foram capazes de proferir uma frase completa, que contivesse mais
que quatro palavras.
É evidente que se trata de questões que
envolvem uma visão acerca das vossas e das minhas ideias políticas e sociais,
logo, trata-se de uma questão política,
para a qual vos não reconheço qualquer capacidade de resolução, não negando que
temos uma visão do mundo muito diferente e, ao mesmo tempo, oposta.
Sabem? É que isso sempre aconteceu desde os
bancos da escola e da faculdade e tem um peso tremendo em mim, desde aquele dia
em que alguém se dedicou a “bufar” à
Pide e fui detido após aquela aula em que tive a ousadia de vos presentear não
com insultos, mas tratando-vos de endinheirados filhos da mamã que só conseguiriam
vencer na vida à custa de “encostos”. Recordais-vos? E recordais-vos também da
detenção do “mestre” que se colocou do meu lado?
Mas, terminada a identificação e como jovem
que era, quer o professor quer eu mesmo fomos mandados regressar às aulas,
embora tivessemos ficado um tanto marcados. E qual não foi a vossa cara de
espanto quando regressamos… Recordais-vos?
Enquanto vos ouvia procurar uma desculpa
esfarrapada, tive a oportunidade de aprender que devemos respeitar todos
aqueles que pensam de forma diferente, o que não impediu que o autor da falsa
denúncia, tivesse levado aquele murro no focinho, como estareis recordados,
indo receber tratamento a um hospital do Porto, evitando denunciar-me como seu
agressor.
É evidente que, entre tais adversários de
pensamento, eu não podia, a partir daí, contar com a camaradagem, pelo que me
tornei numa espécie de lobo solitário até ao fim do ano escolar, pedindo depois
a transferência para Coimbra, bem contra a vontade do Reitor.
Claro que vos recordais, embora possais
preferir a amnésia. Enquanto eu era e continuo a ser progressista, vós
limitais-vos a manter aquele conservadorismo, enquanto vos arvorais em
defensores de um povo que martirizais enquanto afirmais que trabalhais para
levantar hoje de novo o explendor de Portugal. Grandes aldrabões me saisteis
vós! Aliás, se tivesse usado o termo, muito usado na gíria, tratar-vos-ia de
reaccionários, não de conservadores, uma vez que é isso que sois, que sempre
fosteis.
Existe em Portugal uma forte corrente de
pensamento reaccionário. Sempre existiu, durante os tempos da ditadura
salazarista/marcelista e, por exemplo, enquanto eu e outros como eu foram
defender Portugal e seus interesses no ultramar africano, vós e vossos
paizinhos preferisteis comprar a vossa não ida, e hoje sois vós aqueles
patriotas que certamente desconhecem qual o significado do termo.
Vós eras filhos de ricos empresários, que
imaginavam que o país era só deles e para eles, também para vós, enquanto eu e
outros nos limitavamos a ser mais inteligentes, aplicados e filhos de
funcionários que lutavam com dificuldades para poderem proporcionar-nos
melhores condições de vida que eles próprios viviam.
Desde jovens que
aprendesteis a contribuir para poucos avanços na alfabetização, embora tenhais
aprendido as grandes transferências de capitais para o exterior, engendrais um
sistema de saúde pública catastrófico, destruís a escola pública, mantendes na
vossa posse as ilhas que vossos pais mandaram construir para os mais pobres,
cobrais hoje cerca de duzentos euros por uma casa sem condições de higiene e de
salobridade, defendeis um sistema de previdência privada, pois tendes
interesses nas seguradoras. Só discursos, só demagogia, só corrupção mas,
também a alta tributação que é uma grande roubalheira.
Será que estou a
tentar que vos torneis apoiantes dos partidos de esquerda? É claro que não! Até
porque na nossa idade já não se muda. E menos ainda nas vossas condições, que
sempre desconhecesteis o que é a solidaridade humana, o que é uma vida de pobres
com e dentro da dignidade.
Passai muito bem,
ou muito mal, como preferirdes, mas preparai-vos pois em breve chegará o
momento de vos despedir-se de todos esses interesses que defendeis, que
acarinhais acobertados pelos amigos poderosos que, no fundo, são exactamente
como vós. Uns inúteis!
PS: “Se
efectivamente não és a pessoa que penso, demonstra-o!”
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