Portugal teve a mais longa e dura ditadura da Europa, talvez até do
mundo, com aqueles 48 anos de fascismo salazarista.
Passamos por um período de democratização, com início em 25 de Abril de
1974, e com uma nova Constituição em 1976, a que todos chamaram de Constituição
cidadã, e entramos efectivamente num sistema político democrático nesse mesmo
ano.
A nossa democracia é ainda jovem, mas já teve tempo para se viciar, de
tal modo que hoje em dia, muitos são os que afirmam que a democracia portuguesa
quase só se limita ao exercício do voto,
nada mais, ou pouco mais, colocando em dúvida a existência mesmo de um
Estado de Direito democrático, correndo graves riscos de regressão e até de
desaparecimento, tal como estão as coisas em Portugal.
Quando um governo elabora um Orçamento de Estado ferido de
inconstitucionalidades e exerce, disfarçadamente, pressão sobre o Órgão
fiscalizador das constitucionalidades ou inconstitucionalidades de um diploma,
e sobretudo quando essa pressão é exercida ao mais alto nível da hierarquia
nacional, toda a cidadania deve manter-se em estado de alerta e exigir que seja
vetado todo o documento que não respeite a lei geral do país.
Estamos a aproximar-nos da data da Revolução dos Cravos e se, Portugal
pretende manter esperanças de que serão respeitadas as regras democráticas e
constitucionais, e tendo em consideração de que ninguém deve estar acima da lei,
isso significa que nenhuma lei pode estar, entrar em vigor em contradição com a
Constituição, assim como nenhum cidadão ou grupo de indivíduos pode, sob
qualquer pretexto, agir de modo que contrarie o que diz a nossa Lei Geral,
mesmo quando se percebe que existe uma forte colisão de direitos.
O que quer dizer que nenhum direito é absoluto. O direito à liberdade
de expressão viola o direito à imagem, à privacidade e à dignidade humana, se
não for exercido plenamente e, mesmo quando se trata de figuras públicas, o
direito à privacidade deve ser garantido. Estar na condição de agente público
não exclui direitos fundamentais e direitos humanos do político como indivíduo
e como cidadão.
Não se pode dizer sobre a dignidade humana se não que todo o ser humano
deverá ser tratado como um fim em si mesmo, não como um meio.
A dignidade humana é um valor intrínseco ao ser humano, um direito
constitucional que tem, como pressuposto o facto de que, por sermos humanos,
todas as pessoas devem ser tratadas com igual respeito.
Trata-se de um valor supremo, que qualquer governo deve saber respeitar
e exigir que seja respeitado por todos e em relação a todos, pelo simples facto
de fazermos parte da espécie humana.
Trata-se de uma conquista da civilização o direito a não ser tratado de
forma humilhante e degradante, o direito de não sofrer qualquer tratamento
cruel, como aquele que estamos a receber actualmente, quer física quer
mentalmente por parte de um governo que se limita a pensar nas melhores formas
de nos mimosear com cada vez mais austeridade e mais do custe o que custar.
Muitos portugueses já viveram tempos de arrepiar, durante a ditadura
salazarista e, penso, têm todo o direito, e o dever de exigirem um tratamento
adequado e dentro dos mais elementares direitos à justiça social e humana.
Os portugueses não podem, portanto, esmorecer na sua luta contra a opressão, e de modo algum devem pactuar com quem quase se limita a exercer sobre eles essa mesma opressão que já viveram durante a ditadura.
Não será por acaso que, após tanta luta contra os monopólios, hoje se
viva numa era de novos grupos que dominam a comunicação social, havendo por
entre eles quem defenda o silenciamento de alguns cidadãos em pleno uso de
todos os seus direitos cívicos.
Se dermos um passo em falso, eles rejubilarão e acabarão por acabar com
o direito à liberdade de expressão, o que, por sua vez, conduzirá à perda da
liberdade de imprensa.
Estou plenamente convencido de que alguns,
com responsabilidades perante a cidadania, se limitam a esperar um momento de
fraqueza para tentarem reconduzir Portugal e os portugueses ao 24 de Abril de
1974.
“Os corvos, acabam por comer os olhos dos
incautos quando desfalecem!”
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