Antes de mais, permita-me colocar-lhe uma
questão, esclarecendo-o também de que nunca fui adepto de Sócrates e que também
não serei seu defensor, mas que considero tratar-se de um cidadão português com
todo o direito de regressar ao seu país, já que sobre ele não pende qualquer
acusação, que não penda sobre outros que nunca saíram de Portugal e alguns até
estão no governo ou noutros órgãos de poder.
Não vou fazer-lhe um desenho, mas sei que os
conhece muito bem e que sempre que possível evita criticá-los, mesmo sabendo
que foi no tempo em que exerciam outro cargo que começou a “derrocada económica
e social” em Portugal.
Ora, foi o senhor quem afirmou, num canal
televisivo, que José Sócrates regressou, que Seguro se preocupou e que o
Sócrates havia sido o culpado de tudo quanto hoje se está a viver em Portugal,
o que é, permita-me a franqueza, a mais rotunda mentira até hoje ouvida.
Aliás, não é apenas o senhor a fazê-lo, o que
demonstra que não é, talvez nunca tenha sido aquele “independente” que se
apregoa, antes que sabe disfarçar muito bem, embora quanto a Sócrates não
consiga.
Creia que não pretendia atacá-lo, mas, se o
senhor é convidado desse tal canal televisivo, para tentar elucidar os mais “atrasados”,
os menos “esclarecidos”, deverá fazê-lo sem tentar obnubilar certas
consciências da cidadania nacional.
Porque o senhor sabe, e sei que sabe, que
tudo já vem muito de trás e que, mesmo não abraçando as ideias socráticas, nem
foi expulso, não fugiu com medo do novo “regime”, não viu alienados quaisquer
dos seus direitos cívicos e, sobretudo, não deixou de ser português.
Que o senhor pretenda lançar poeira para alguns olhos, é uma coisa, mas não queira, a exemplo de outros, tentar sequer fazer dos portugueses estúpidos, tomando-se a si como único pensador e sabedor.
Essa da entrevista de uma tarde inteira para
dizer aos portugueses como pôde criar a dívida nacional, é já coisa gasta, e,
como digo atrás, esse mesmo mal que lhe aponta e imputa a ele só, deveria, em
sua alma e consciência, imputá-lo a outros que o antecederam em governos do
país.
Mas não apenas isso. O senhor sabe o
verdadeiro tamanho da corrupção a alto nível que grassa pelo país? Acha também
que os portugueses gastavam acima das suas possibilidades e por isso se
encontram no limiar da pobreza, ou mesmo, nalguns casos, abaixo dele?
O senhor deveria saber manter a posição, a
postura como hoje se diz à boca cheia, e não contribuir para denegrir seja quem
for, pertença a que partido pertencer, tenha as ideias que tiver, pois disso é
feita, e deve continuar a sê-lo, a democracia.
Tente moderar o seu ódio a quem nunca lhe fez
nada de mal e que, pelo que várias veezes ouvi, até o citava como exemplo de
alguém conhecedor dos meandros da alta finança.
Queira passar bem, mas veja se consegue
refrear esse seu ímpeto anti-socrático, como eu modero e refreio o meu em
relação ao actual governo.
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