Mística?
Inquietar-se-ão
aqueles que me conhecem e à minha aversão pelas falsas religiões, como também o
meu gosto pelo materialismo radical.
Compreendo isso e
quero reivindicar, alto e claramente, a possibilidade, para um fanático da
imanência, de ler o real, a História e o mundo segundo um princípio não só
horizontal, mas também vertical.
A mística convém às
ideias que, segundo o princípio nietzscheano, habitam nos cumes, lá onde é
frio, vivo e cortante, lá onde se temem as virtudes do vento invernal, a rudeza
e a raridade, portanto, os valores que contam.
Para as ideias
medíocres e os que nelas se comprazem, o alto designa a transcendência, o além,
quando, a meu ver, ele significa a possibilidade, até aos limites conhecidos,
os únicos, de uma orla qualitativa onde uma leitura rasteira e linear
implicaria o quantitativo.
A mística decorre
dos postulados que a nossa alma nos constrói e acerca dos quais não nos podemos
impedir de pensar que guiam toda uma existência, uma ética e princípios, um
pensamento e acções.
Ela quer o império
a que aspiram todas as energias atrevidas e propõe-se como única resposta
possível para libertar os que vegetam nos três círculos infernais da miséria, e
para realizar, no plano dos factos, o ateísmo que autorizaria pousar no chão o
ídolo economicista.
Para ser
susceptível de uma mística, a esquerda de que falo supõe, portanto, uma
transição ética do domínio horizontal – onde ela vai buscar metaforicamente o
seu sentido – para um registo vertical.
Portanto, não é, de
modo algum, um programa para um partido ou uma plataforma com fins eleitorais,
como não tende, aliás, a fazer o catálogo, tipo enumeração, do que foram as
vitórias e os triunfos da esquerda.
A definição de uma
mística de esquerda implica a busca da energia que a constitui. Uma busca e uma
descoberta, pois em nada serviria de se obrigar a pesquisar se, por acaso,
neste terreno, nos devessemos contentar com uma espécie de teologia negativa
como única maneira de nos aproximar ou de abordar regiões impossíveis, margens
improváveis.
Sei que estão
desqualificadas tanto a mística como a esquerda, às quais se prefere o
racionalismo dos universitários e a direita dos senhores da selva, sob o regime
dos quais vivemos.
Será que o povo
português já nasceu fadado para se manter na servidão, na escravatura, mesmo
que a mais moderna, recebendo pelo seu trabalho salários miseráveis?
Quando acabará essa
nova escravatura, que cria apenas desemprego e novas formas de opressão, só
porque o povo se mantém, prefere manter-se no obscurantismo, na fome e na
degradação humana?
Muitos portugueses
contentam-se com o futebol, Fátima e fado, e os políticos oportunistas
aproveitam-se desse facto para continuarem e pisá-los como se fossem baratas ou
lacraus.
Será rude de minha
parte perguntar de quem é a culpa?
Tenho interêsse numa "Esquerda mÍSTICA" aquí no Brasil; acho que ainda não a temos?
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