Número total de visualizações de páginas

domingo, 24 de março de 2013

«A MAGIA DA IMAGEM»



Se apenas se tratasse de imagens claras, límpidas, despidas de qualquer sugestão sentimental, o mal não seria muito grande. Mas toda a imagem que concretiza um sentimento profundo, essencial, nascido do instinto, que nele mergulha e está como que aureolada por ele, é, pelo menos, duplamente mais perigosa. É desse poder de sugestão que tantos políticos abusam.

A grande arte da vedeta é desencadear essas tempestades sentimentais, que, em serem puras ilusões, não são, mentalmente, menos perigosas.

O cidadão que lê um livro, que assiste a um filme, os vive, literalmente, não se tenha dúvida.

E com que intensidade, com que insuspeitada violência!

A vida real, a vida realizável pouco valem a seus olhos. A imaginária, para ele, tornou-se realidade. Vive num universo fictício, que lhe é sugerido, imposto.

E esse universo inconsciente, mas cuja inconsistência não percebe, superpõe-se ao universo imediato, de que ele só reconhece uma parte.

Abandonemo-lo a essa magia, não procuremos defendê-lo dela, e o que acreditamos lhe poderá suceder, senão que a sua vida será mais sonhada que pensada, mais sugerida que voluntária?

Depois, será bem esse o meio de o retirar dessa crise, que é a crise do seu tempo, e de o conduzir, insensível, mas firmemente, ao domínio de si, que é a forma mesma da maturidade?

Magia da imagem política e do sentimento associados, aí está o segredo desse desvio mental – a expressão não é bastante forte – que se observa nos cidadãos, talvez sobretudo nos mais jovens – adolescentes -  frequentadores das salas obscuras.

Daí, não é de admirar com os crimes passionais, frequentes entre certa gama da cidadania, e que não têm outra origem.

E para que um crime desse género, efectivamente realizado, há outros milhares que são sonhados. Não há entre estes e aqueles distância maior que a ocasião!

Aliás, para que se fique convencido do poder da imagem “sentimentalizada”, se me permitem essa expressão, basta observar um jovem adolescente a ler um livro que o apaixona. Ou observá-lo depois de um espectáculo filmado, embora bom.

Em vez de ser o criador da sua própria vida, tornou-se o arremedo da vida – imaginária – de outrem.

A imagem impõe-se-lhe, e impõe-se apesar dele.

O universo fictício, a miragem, que são ajustáveis ao mundo real e concreto, causarão uma anomalia na acção, que será o sinal da anomalia mental de que o cidadão, mais ou menos jovem, é vítima.

Pode-se julgar que isso seja progresso? E a palavra “desvio” será muito forte?

E ainda mais: se o mundo fictício, em virtude do poder de sugestão que possui a imagem “sentimentalizada”, corresponde aos verdadeiros valores humanos, o dano moral que sofrerá o cidadão, em especial o adolescente, embora certo, não será muito grande.

Infelizmente, nem sempre é assim. Diria mesmo que hoje em Portugal, nunca é assim, muito ao contrário!

Porque eles fazem aumentar os danos mentais, pela ruína moral. E não se pode imaginar, a não ser por confidências recebidas, todas as tentações, todas as obsessões que podem provocar um romance ao vivo ou um filme, também ao vivo e que, aos olhos de todos, parecem bons. Com maior razão se as afabulações, as descrições, a intriga, a apresentação forem – como costumam ser – imorais e obscenas.

Sem comentários:

Enviar um comentário