Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 29 de março de 2013

«DISCURSOS POLÍTICOS»


Os discursos nada ganham em pretenderem apoiar-se no objectivo, no racional, na verdade, na educação, quando, disfarçados, permanecem todos fundamentalmente inspirados pelo visceral.

Ultrapassar-se-ia o propósito colocado à política ao fazer psicanálise dos empenhamentos que decidem, para este e aquele,  de se instalar radicalmente na direita ou na esquerda – excluo, evidentemente, os profissionais da renúncia, os renegados que vão de um lado para o outro, segundo os interesses que ora nos conduzem aqui, ora acolá,  tanto quanto os centristas, essa peste da política que acampa a igual distância daqueles a quem se venderá, desde que uns ofereçam mais que os outros.

Aliás, devemos a estes últimos uma das desqualificações mais em voga do termo “esquerda”.

Pelo que é preciso ver-se a sua vitalidade aqui mesmo reafirmada – pois se a direita e a esquerda nada mais significam, se as duas categorias estão ultrapassadas, como o afirmam aqueles cujo espírito, no máximo das suas possibilidades, se encontra no psitacismo, então porque motivos só proferem semelhantes disparates na altura em que o sócio capitalista no poder está em cuidados para encontrar um apoio noutro local, sempre ao centro, quando estão prontos para lho concederem em troca, apenas, da partilha das pastas ministeriais?

A recusa da partilha e da clivagem entre direita e esquerda é um facto dos homens de direita ou daqueles que são motivados unicamente pelo poder em si mesmo.

A outra desqualificação da esquerda provém dos que dela se reclamam para justificar seja o seu talento pela tirania – penso nos antigos países de leste e também nalguns ocidentais – seja a sua obsessão maníaca em chegar ao trono cobiçado durante toda uma carreira, não política, mas politiqueira.

Dos primeiros, ditadores num registo feudal e antigo e dos segundos, velhacos e hipócritas acabados, não se deve esperar qualquer talento pela mística, mas apenas uma excelência consumada na retórica, na estratégia, na tactíca em em todas as artes da guerra assimilada.

A instalação no registo místico e a reivindicação dessa postura única dispensa ter de encontrar ou de frequentar, de perto ou de longe, os aprendizes ditadores ou os aspirantes mentirosos ou falsificadores.

Os nomes de família, quaisquer que sejam, não interessam. Por nada deste mundo desejaria dar a impressão que compete ao cidadão legitimar os recuperadores de energia – que são sempre os mandatários dos partidos onde se tornou uma profissão nunca pensar, nunca reflectir e sempre obedecer – no único intuito de partilhar os postos uma vez no poder.

A vontade de circunscrever uma mística de esquerda supõe um desejo de captar  energias, de ler e ver actuar forças e de celebrar apenas estas dinâmicas e não, certamente, as individualidades que, durante a História, não deixaram de refrear ou, até mesmo, de destruir esses magníficos potenciais, que quererem apoderar-se deles para os esculpir.

Só me interessam as figuras que, segundo o princípio da astúcia da razão hegeliana, resistem numa relação de forças de igual para igual com a História, que a fazem tanto quanto ela os faz, aquelas e aqueles que, num combate e numa luta com o anjo da revolução ou da História, inflectem, quebram ou dominam essas energias.

Sem comentários:

Enviar um comentário