Procurar
eliminar sombras não pode ser agradável para ninguém. Mas quem mais sofre é,
certamente, aquele que as crê reais. Não somente procura alcançar o vazio e
perseguir o nada, como se torna inapto a integrar-se no real.
Que a
realidade o chame a si – e ela não pode deixar de o fazer brutalmente – e todas
as aberrações são possíveis, desde a simples aversão ao esforço, que, só ele,
sobrepuja o real, até todas aquelas formas – no mais das vezes abjectas – do diletantismo,
que só encara a vida como um jogo sem valor moral.
Percebem-se as consequências de semelhante desencaminhamento pela imagem, visto que não mais se trata apenas de vida intelectual, mas de acção política e social.
Se nada mais
conta, a não ser o universo fictício que se deixou sugerir pelo abuso das suas
práticas, não mais se vê porque se deveria dedicar-se a viver pelos outros, em
virtude da abnegação, sempre penosa e frequentemente aborrecida.
Aquele que
vive de imagens ilusórias e que delas se alimenta, é necessariamente um
egoísta, porque, encerrando-se nesse mundo, encerra-se a si mesmo.
Nada o
interessa mais do que essa onda sempre inconstante, que contempla com enlêvo e
cuja atracção lhe é tirânica.
A vida dos
outros, as necessidades alheias, que são coisas reais, não se integram mais,
senão dificilmente, nesse mundo irreal, feito apenas de miragens
inconsistentes.
E esse
político – quem se espantaria disso? – está perdido para a vida política,
afirmando não ter mais condições para “governar”, se o Tribunal Constitucional
chumbar as suas pretensões, no OE/2013 inseridas contranatura.
Nada se
realiza sem uma estrutura mental extremamente sólida, porque sempre põe sacrifícios
concretos e muito penosos, que estão sempre por recomeçar, indefinidamente.
Quem se
deixou intoxicar pelo abuso, continua a procurar essa droga. Não é mais capaz,
e torna-se cada vez menos, de alcançar aquele domínio de si que o esforço
político e social impõem.
Ao
contrário, tudo o afasta dele. Como falar-lhe ainda de austeridade, de
sacrifício, de disciplina dos sentidos e da imaginação? Que compreenderia,
também, das verdades que são verdades de fé e que, por isso mesmo, transcendem
o tangível e o visível?
Esse
universo ultrapassa-o, como o ultrapassa
também a necessidade de solidão, sem a qual não há verdadeira oração,
nem atenção ao chamado de Deus.
Ele quis
tornar-se, salvo um assomo de energia com o qual não se pode contar, inapto a
ouvi-lo e a segui-lo. E essa fuga desvairada diante da solitude, da paz
interior e do recolhimento do espírito constitui bem um dos piores vícios da
nossa época.
Quem quer
que se deixe arrebatar por esse turbilhão renuncia a todo o domínio de si, pelo
qual, igualmente, um pensamento e uma acção verdadeiramente humanos e
sobrenaturais são possíveis.
De todos os “divertimentos”,
no sentido pascalino da palavra, que nos afasta de nós mesmos, que nos distraem
e nos impedem de fazer silêncio, a fim de ver claro para bem agir, não há outro
pior que o abuso do político em relação à cidadania.
É por isso
que, desde há muito, desde aquele período de campanha eleitoral, sobretudo, se
deveria cuidar de o salvaguardar do perigo mortal que ameaça a sua formação, e
que não é outro senão a procura das quimeras e a busca – tão vã e louca – das miragens.
Ao que
parece, o senhor Pedro está a ganhar a coragem para ser cobarde.
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