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quinta-feira, 28 de março de 2013

«A CORAGEM DE SER COBARDE»


Procurar eliminar sombras não pode ser agradável para ninguém. Mas quem mais sofre é, certamente, aquele que as crê reais. Não somente procura alcançar o vazio e perseguir o nada, como se torna inapto a integrar-se no real.

Que a realidade o chame a si – e ela não pode deixar de o fazer brutalmente – e todas as aberrações são possíveis, desde a simples aversão ao esforço, que, só ele, sobrepuja o real, até todas aquelas formas – no mais das vezes abjectas – do diletantismo, que só encara a vida como um jogo sem valor moral.

Percebem-se as consequências de semelhante desencaminhamento pela imagem, visto que não mais se trata apenas de vida intelectual, mas de acção política e social.

Se nada mais conta, a não ser o universo fictício que se deixou sugerir pelo abuso das suas práticas, não mais se vê porque se deveria dedicar-se a viver pelos outros, em virtude da abnegação, sempre penosa e frequentemente aborrecida.

Aquele que vive de imagens ilusórias e que delas se alimenta, é necessariamente um egoísta, porque, encerrando-se nesse mundo, encerra-se a si mesmo.

Nada o interessa mais do que essa onda sempre inconstante, que contempla com enlêvo e cuja atracção lhe é tirânica.

A vida dos outros, as necessidades alheias, que são coisas reais, não se integram mais, senão dificilmente, nesse mundo irreal, feito apenas de miragens inconsistentes.

E esse político – quem se espantaria disso? – está perdido para a vida política, afirmando não ter mais condições para “governar”, se o Tribunal Constitucional chumbar as suas pretensões, no OE/2013 inseridas contranatura.

Nada se realiza sem uma estrutura mental extremamente sólida, porque sempre põe sacrifícios concretos e muito penosos, que estão sempre por recomeçar, indefinidamente.

Quem se deixou intoxicar pelo abuso, continua a procurar essa droga. Não é mais capaz, e torna-se cada vez menos, de alcançar aquele domínio de si que o esforço político e social impõem.

Ao contrário, tudo o afasta dele. Como falar-lhe ainda de austeridade, de sacrifício, de disciplina dos sentidos e da imaginação? Que compreenderia, também, das verdades que são verdades de fé e que, por isso mesmo, transcendem o tangível e o visível?

Esse universo ultrapassa-o, como o ultrapassa  também a necessidade de solidão, sem a qual não há verdadeira oração, nem atenção ao chamado de Deus.

Ele quis tornar-se, salvo um assomo de energia com o qual não se pode contar, inapto a ouvi-lo e a segui-lo. E essa fuga desvairada diante da solitude, da paz interior e do recolhimento do espírito constitui bem um dos piores vícios da nossa época.

Quem quer que se deixe arrebatar por esse turbilhão renuncia a todo o domínio de si, pelo qual, igualmente, um pensamento e uma acção verdadeiramente humanos e sobrenaturais são possíveis.

De todos os “divertimentos”, no sentido pascalino da palavra, que nos afasta de nós mesmos, que nos distraem e nos impedem de fazer silêncio, a fim de ver claro para bem agir, não há outro pior que o abuso do político em relação à cidadania.

É por isso que, desde há muito, desde aquele período de campanha eleitoral, sobretudo, se deveria cuidar de o salvaguardar do perigo mortal que ameaça a sua formação, e que não é outro senão a procura das quimeras e a busca – tão vã e louca – das miragens.

Ao que parece, o senhor Pedro está a ganhar a coragem para ser cobarde.

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