A crise está a trazer de regresso à rua antigas prostitutas, que já tinham
deixado de o ser, por necessidade de sobrevivência e mais comportamentos de
risco para o VIH, revela um estudo que será apresentado segunda-feira.
Esta é uma das conclusões que constam do Programa PREVIH sobre a
incidência da Infecção por VIH/SIDA em grupos de difícil acesso, cujo balanço
dos primeiros quatro anos vai ser feito durante uma conferência internacional
sobre VIH.
Iniciado
em 2010, este é o primeiro estudo com mais de mil pessoas de cada grupo de
difícil acesso: homens que têm relações sexuais com homens e trabalhadores do
sexo de todos os tipos, explicou à Lusa Luís Mendão, presidente do Grupo
Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA (GAT), que organiza a
conferência.
“Um
dado importante é que, de 2010 para 2012, nota-se os primeiros indícios da
crise: muitas mulheres que voltaram a fazer trabalho sexual por necessidade de
sobrevivência, uma maior permeabilidade para baixar a guarda na exigência com
clientes, diminuição dos preços dos serviços e tememos que com a crise aumentem
as situações de risco e as pessoas na área do trabalho sexual”, afirmou o
responsável.
Segundo
Luís Mendão, o trabalho de campo encontrou também “muitas pessoas muito jovens
a fazer trabalho sexual pela primeira vez” e, embora não haja um levantamento
de quantas pessoas fazem trabalho deste, “um dos indicadores é que há pessoas a
voltar ou a começar nestes últimos dois anos”, o que permite concluir que “pode
estar a aumentar como forma de sobrevivência”.
“No
segundo inquérito, de 2012, encontramos pessoas com rendimentos muito baixos e
situação de quase marginalidade, o que indica que correm mais riscos do que
correriam habitualmente. Encontramos os primeiros sinais de diminuição de
prevenção e de comportamentos seguros, vai ser mais fácil aceitar propostas de
clientes para sexo não seguro”, alertou.
Uma
das surpresas deste estudo foi perceber que na área do trabalho sexual existe
uma realidade variada quer em termos de comportamentos como de prevalência da
infecção.
A
primeira constatação foi que entre homens que fazem sexo com outros homens existe
uma epidemia concentrada, superior a 5% de prevalência, pelo que urge “perceber
como controlar a transmissão no grupo”.
Mas
a prevalência mais alta de infecção encontra-se entre os trabalhadores do sexo
transgénero – acima de 10%.
O
que é surpreendente é que apesar dessa taxa, as tansgénero infectadas sabem-no
e estão tratadas, o que pode ser explicado não só por serem geralmente pessoas
mais viajadas, mas também pelo facto de terem um maior conhecimento e
proximidade do sistema de saúde devido aos tratamentos hormonais e cirurgias de
mudança de sexo que fazem, explicou Luís Mendão.
Contrariamente, os homens revelam estar menos informados sobre a
saúde sexual, não sabem se estão infectados e, apesar de o reporte do uso de
preservativo ser muito alto, é o grupo com maior percentagem que reporta não
usar preservativo consistentemente (20%)”, acrescentou.
Um
grupo igualmente muito vulnerável e com taxas de infecção pelo VIH muito altas
(superiores a 5%) são as mulheres que trabalham na rua e que têm associado o
consumo de droga ou parceiros que consomem, disse o responsável, defendendo a
necessidade de se criarem programas adequados às necessidades destas pessoas.
As
“mulheres de interior”, que trabalham em apartamentos, são as menos vulneráveis
a infecções, com “rácios muito baixos”, inferiores a 1% e comparáveis à
população em geral, cuja prevalência anda entre os 0,4% e os 0,7%.
O
estudo conclui ainda que cerca de 85% do trabalho sexual é feito por mulheres e
o restante por homens ou transgéneros (que mudaram de sexo de homem para
mulher).
O
projecto de quatro anos foi financiado pelo Ministério da Saúde, através do
Programa Nacional de combate ao VIH/Sida, e conta com a colaboração do
Instituto de Higiene e Medicina Tropical.
Sem comentários:
Enviar um comentário