O Banco Central Europeu aumentou os seus lucros no ano
passado. Em apenas um ano, 37%. Segundo o próprio e o "Wall Street
Journal", isso deveu-se, em parte, ao resgate à Grécia. O seu
excedente, por exemplo, que em 2011 já fora de 1,894 milhões de euros, passou,
em 2012, para 2,164 milhões de euros.
Mas o BCE está longe de ser o único beneficiário público
da desgraça das economias do sul da Europa. Recentemente, ogoverno da Holanda
fez saber que, "no total,
o Banco da Holanda irá lucrar 3,2 mil milhões no período 2013-2017 com a
participação em operações relacionadas com a crise ". O Estado holandês, através de engenharia
financeira, assumiu uma
garantia de 5,7 mil milhões ao Banco da Holanda . Em contrapartida, o banco transferiu para o Estado os
lucros resultantes das suas operações de ajuda a Estados e bancos. Esse
dinheiro permitiu a nacionalização do SNS Reaal (que se arruinou com operações
imobiliárias em 2006, apostando em ativos tóxicos em Espanha) e o cumprimento
das metas do défice. Vale a pena recordar que Jeroen Dijsselbloem, ministro das
Finanças holandês, é presidente do Eurogrupo. E ele mesmo assumiu que, apesar
dos riscos destas operações de ajuda às economias em aflição, a Holanda terá
"ganhos substanciais".
Sabe-se também que, graças a turbulência na generalidade
das economias europeias, a Alemanha, dos poucos portos seguros que restam para
quem queira guardar o seu dinheiro - e nunca houve tanto dinheiro para guardar
-, tem conseguido financiar-se sem custos ou mesmo com juros negativos.
Sempre que ouço os comentadores domésticos verterem
lágrimas pelos contribuintes do norte da Europa, vítimas da irresponsabilidade
grega, portuguesa e italiana, não consigo deixar de sorrir. Pelo contrário,
enquanto a crise económica não chegar a sério a estes países, a situação
aflitiva dos países do Sul e os resgates que têm sido obrigados a aceitar - e
que têm tido como únicas consequências o agudizar das suas crises e aumento das
suas dívidas -, têm sido excelentes notícia para os contribuintes do norte da
Europa obrigados, como nós, a pagar as irresponsabilidades dos banqueiros.
Não, Alemanha, Holanda e outras economias europeias não
estão a financiar a dívida dos países do Sul. Pelo contrário, as dívidas dos
países do sul é que estão a financiar estes Estados. Os contribuintes dos
países intervencionados têm pago a relativa estabilidade financeira dos países que
financiam os resgates.
Dirão que as coisas são assim mesmo e que só nós somos
responsáveis pela nossa situação. Não é bem assim, mas guardo esse debate para
a próxima semana, mostrando aqui como a moeda única acentuou os desequilíbrios
estruturais já existentes na Europa. Mas mesmo que isso fosse verdade, seria
talvez altura de abandonar tanta gratidão para com os nossos credores,
sobretudo pelos pobres contribuintes alemães e holandeses. Às vezes, e
sobretudo na finança e na política, um pouco de cinismo não é mau conselheiro.
= Expresso
Online=
F. P.
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