Activo ao longo de uma carreira de cerca de
trinta e cinco anos, foi o mais importante e significativo caricaturista
português do século XIX, com incursões no domínio da cerâmica e das artes
decorativas.
Nascido numa família de artistas (seu pai,
Manuel Maria, era um pintor romântico amador), frequentou a Academia de
Belas-Artes e o Curso Superior de Letras, denotando uma predilecção pela vida
teatral, talvez mais de acordo com o seu carácter algo boémio e extrovertido,
que a futura obra gráfica melhor deixaria exprimir.
O primeiro ciclo da sua actividade inicia-se
com o Calcanhar de Aquiles, em 1870, seguindo-se as páginas da Berlinda e do
Binóculo, a par da ilustração de livros e colaborações várias, até à Lanterna
Mágica, de 1875, onde nasce a sua figura maior – o Zé-Povinho.
Surgido no nº 5, de 12 de Junho, esfarrapado
mas contribuindo para a cera de Santo António/Fontes Pereira de Melo…, ele
atravessará toda a obra do autor, sobrevivendo até aos nossos dias.
Após uma estada no Brasil, entre 1875 e 1879,
inicia-se uma segunda fase, marcada pelo António Maria (irónica alusão ao
fontismo), Pontos nos II (onde prossegue a sátira fontista) e o Album das
Glórias (que reúne uma série de quarenta e duas gravuras, desde o actor Taborda
a Rosa Araújo, passando por Eça de Queirós e o seu monóculo, D. Fernando de
Saxe-Coburgo, D. Luís, o duque de Ávila e Bolama, etc.).
Ceramista desde 1884, inicia no ano seguinte
a produção de peças satíricas e decorativas na fábrica das Caldas da Rainha,
onde a veia do caricaturista se prolonga e combina com um gosto
tardo-romântico, que a famosa talha manuelina, de 1892, adquirida pelo rei D.
Carlos, de certo modo ilustra.
Após o encerramento da 2ª série do António
Maria, surge em 1900 um novo jornal, A Paródia, que irá preencher o último
ciclo da sua actividade, onde a política («a grande porca») continua a ter
larga projecção, mas em que se procura
uma atenção crítica aos novos tempos assinalados pela cada vez mais inexorável
crise da monarquia e do País.
A sua obra ficou assim a constituir uma
divertida crónica das vicissitudes e misérias colectivas da história portuguesa
do último terço do século XIX, construída numa linguagem que praticamente não
evoluiu e que pela adequação ao gosto do público exerceu uma larga influência
de sabor caracteristicamente oitocentista.
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