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quinta-feira, 21 de março de 2013

«RAFAEL BORDALO PINHEIRO»


Activo ao longo de uma carreira de cerca de trinta e cinco anos, foi o mais importante e significativo caricaturista português do século XIX, com incursões no domínio da cerâmica e das artes decorativas.

Nascido numa família de artistas (seu pai, Manuel Maria, era um pintor romântico amador), frequentou a Academia de Belas-Artes e o Curso Superior de Letras, denotando uma predilecção pela vida teatral, talvez mais de acordo com o seu carácter algo boémio e extrovertido, que a futura obra gráfica melhor deixaria exprimir.

O primeiro ciclo da sua actividade inicia-se com o Calcanhar de Aquiles, em 1870, seguindo-se as páginas da Berlinda e do Binóculo, a par da ilustração de livros e colaborações várias, até à Lanterna Mágica, de 1875, onde nasce a sua figura maior – o Zé-Povinho.

Surgido no nº 5, de 12 de Junho, esfarrapado mas contribuindo para a cera de Santo António/Fontes Pereira de Melo…, ele atravessará toda a obra do autor, sobrevivendo até aos nossos dias.

Após uma estada no Brasil, entre 1875 e 1879, inicia-se uma segunda fase, marcada pelo António Maria (irónica alusão ao fontismo), Pontos nos II (onde prossegue a sátira fontista) e o Album das Glórias (que reúne uma série de quarenta e duas gravuras, desde o actor Taborda a Rosa Araújo, passando por Eça de Queirós e o seu monóculo, D. Fernando de Saxe-Coburgo, D. Luís, o duque de Ávila e Bolama, etc.).

Ceramista desde 1884, inicia no ano seguinte a produção de peças satíricas e decorativas na fábrica das Caldas da Rainha, onde a veia do caricaturista se prolonga e combina com um gosto tardo-romântico, que a famosa talha manuelina, de 1892, adquirida pelo rei D. Carlos, de certo modo ilustra.
Após o encerramento da 2ª série do António Maria, surge em 1900 um novo jornal, A Paródia, que irá preencher o último ciclo da sua actividade, onde a política («a grande porca») continua a ter larga projecção, mas  em que se procura uma atenção crítica aos novos tempos assinalados pela cada vez mais inexorável crise da monarquia e do País.

A sua obra ficou assim a constituir uma divertida crónica das vicissitudes e misérias colectivas da história portuguesa do último terço do século XIX, construída numa linguagem que praticamente não evoluiu e que pela adequação ao gosto do público exerceu uma larga influência de sabor caracteristicamente oitocentista.

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