Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 7 de março de 2013

«PRESTÍGIO DAS HUMANIDADES»


O curso de humanidades é destinado a uma aristocracia.

Confundiu-se, pouco a pouco, aristocracia de espírito e aristocracia de dinheiro e fez-se das humanidades, voluntariamente ou não, um ensino de casta.

Então, aquele que consegue uma certa abastança ou, com maior razão, se a possui desde gerações, sonha para seus filhos esse método de ensino, que é como o sinal visível da sua posição social. “Meu filho faz suas letras greco-latinas”.

Os pais, ordinariamente, dizem isso com certo orgulho, mesmo se, intimamente, reconhecem a inaptidão do filho para as mesmas, o que, aliás, as suas notas escolares provam à evidência.

Concedamos, inicialmente, que no actual estado de coisas – o que de forma alguma significa que esse estado de coisas perdurará – esse orgulho é bastante legítimo.

Quem pensa no futuro de seu filho ambiciona que ele supere essa etapa ou, adoptem os meios apropriados e se julgue, com razão, aliás, que, consideradas em abstracto, as humanidades conferem uma disciplina de espírito, provocam um preparo mental que a nada se assemelha.

Portanto, em concreto, são as humanidades que se escolherão. E é no que se erra, pelo menos em grande parte e na melhor boa-fé do mundo.

Na passagem do abstracto ao concreto, há muita distância, como espero demonstrar seguidamente.

Caso difícil. Porquê? Porque escolhendo ou não esse método de ensino, compromete-se, de todas as maneiras, o futuro do filho. Quem poderá dizer se ele é inapto para cursar as humanidades, quando ainda tem dez ou onze anos?

Não há, nesse assunto, nenhum critério que permita afirmar, de maneira absoluta, o que quer que seja.

Ora, o risco é considerável. Para guiar-se, só se possuem certos indícios, uma ou outra disposição do espírito, algumas raras indicações sobre hábitos e gostos da criança.

Compreende-se que, num caso assim duvidoso, não se resolva a optar, sem inquietação, por uma ou outra coisa.

Surge, então, a tentação inevitável. “Se se tentasse…. Depois se verá”. O filho tenta, pois. E vê-se, por isso, metido num caminho que – bem depresssa se compreende – não poderia seguir com proveito. Mas, como voltaria atrás? Ele já tem idade, e já é muito tarde para orientá-lo para outros estudos. A sua formação está irremediavelmente comprometida.

E, então, cede-se a uma segunda tentação, pior ainda que a primeira: “Já que começou o seu curso de humanidades, que o termine, então”. E mais uma vez se repete: “Depois veremos”.

Mas depois é duplamente tarde. Depois é a integração nesse proletariado intelectual que constitui o fundo da nossa sociedade. Depois é a universidade, onde se chega sem aptidões,sem gosto, sem finalidade precisa, sem mesmo a esperança de alcançar as carreiras ditas liberais, onde se acreditava poder chegar exclusivamente em virtude de uma formação cujo principal mérito, ao que se julga, é dar reparo a tudo.


Sem comentários:

Enviar um comentário