O curso de
humanidades é destinado a uma aristocracia.
Confundiu-se, pouco
a pouco, aristocracia de espírito e aristocracia de dinheiro e fez-se das
humanidades, voluntariamente ou não, um ensino de casta.
Então, aquele que
consegue uma certa abastança ou, com maior razão, se a possui desde gerações,
sonha para seus filhos esse método de ensino, que é como o sinal visível da sua
posição social. “Meu filho faz suas letras greco-latinas”.
Os pais,
ordinariamente, dizem isso com certo orgulho, mesmo se, intimamente, reconhecem
a inaptidão do filho para as mesmas, o que, aliás, as suas notas escolares
provam à evidência.
Concedamos,
inicialmente, que no actual estado de coisas – o que de forma alguma significa
que esse estado de coisas perdurará – esse orgulho é bastante legítimo.
Quem pensa no
futuro de seu filho ambiciona que ele supere essa etapa ou, adoptem os meios
apropriados e se julgue, com razão, aliás, que, consideradas em abstracto, as
humanidades conferem uma disciplina de espírito, provocam um preparo mental que
a nada se assemelha.
Portanto, em concreto,
são as humanidades que se escolherão. E é no que se erra, pelo menos em grande
parte e na melhor boa-fé do mundo.
Na passagem do
abstracto ao concreto, há muita distância, como espero demonstrar seguidamente.
Caso difícil.
Porquê? Porque escolhendo ou não esse método de ensino, compromete-se, de todas
as maneiras, o futuro do filho. Quem poderá dizer se ele é inapto para cursar
as humanidades, quando ainda tem dez ou onze anos?
Não há, nesse
assunto, nenhum critério que permita afirmar, de maneira absoluta, o que quer
que seja.
Ora, o risco é
considerável. Para guiar-se, só se possuem certos indícios, uma ou outra
disposição do espírito, algumas raras indicações sobre hábitos e gostos da
criança.
Compreende-se que,
num caso assim duvidoso, não se resolva a optar, sem inquietação, por uma ou
outra coisa.
Surge, então, a
tentação inevitável. “Se se tentasse…. Depois se verá”. O filho tenta, pois. E
vê-se, por isso, metido num caminho que – bem depresssa se compreende – não poderia
seguir com proveito. Mas, como voltaria atrás? Ele já tem idade, e já é muito
tarde para orientá-lo para outros estudos. A sua formação está
irremediavelmente comprometida.
E, então, cede-se a
uma segunda tentação, pior ainda que a primeira: “Já que começou o seu curso de
humanidades, que o termine, então”. E mais uma vez se repete: “Depois veremos”.
Mas depois é
duplamente tarde. Depois é a integração nesse proletariado intelectual que
constitui o fundo da nossa sociedade. Depois é a universidade, onde se chega
sem aptidões,sem gosto, sem finalidade precisa, sem mesmo a esperança de
alcançar as carreiras ditas liberais, onde se acreditava poder chegar
exclusivamente em virtude de uma formação cujo principal mérito, ao que se
julga, é dar reparo a tudo.
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