O antigo líder parlamentar do PS, Francisco
Assis, considera que “nos últimos anos” estamos a assistir “à emergência do que
o francês Pierre Rosanvallon designa de contra-democracia”, ou seja, “uma época
marcada pela prevalência do princípio da desconfiança”. Centrando-se no caso
português, o socialista defende, no seu artigo de opinião, publicado no
Público, que é necessária uma “prática política” capaz de “gerar o respeito e a
adesão populares”.
Com o título ‘Uma nova forma de participação política’, o
socialista Francisco Assis escreve hoje, no seu habitual artigo de opinião no
jornal Público, que “as pessoas que se manifestam nas ruas pelos mais diversos
e respeitáveis motivos estão, sem dar conta disso, a correr o risco de imersão
num magma anti-representativo de imprevisíveis consequências”.
“Estamos
[por isso] perante uma nova forma de participação política, onde à contestação
do primado da lógica representativa corresponde a afirmação de uma linha de
orientação marcada pelo princípio da desconfiança e pela publicitação de
reivindicações puramente fragmentárias”, afirma o antigo líder parlamentar do
PS.
Reportando-se ao caso português, Assis defende que “o País não
precisa de pequenos catequistas, carece de verdadeiros políticos”, e diz ser
“óbvio que a permanência de um Governo tão notoriamente incapaz, em nada
concorre para o sucesso de uma prática política susceptível de gerar o respeito
e a adesão populares”. Mas, “tal circunstância acaba por cometer especiais
responsabilidades à oposição”, nomeadamente ao PS, “que tem o dever de se
colocar num outro plano na disputa política”.
“Só
assim estará em condições de suscitar o respeito de todos aqueles que nos
últimos meses têm manifestado uma profunda desconfiança no funcionamento do
sistema político e se têm aproximado de um cepticismo respeitável, mas
inconsequente”, acrescenta Assis, sublinhando que hoje exige-se “ao PS que seja
algo mais que uma mera alternativa de poder”.
“Pede-se-lhe
que consubstancie com rigor e com coragem um projecto sério de governação do
nosso País”, o que, salienta Assis, “não se alcança com a simples utilização de
uma linguagem primária assente na ideia ingénua de uma nova forma de fazer
política”, mas sim através da “valorização da inteligência, da densidade, do
rigor e da exigência na apresentação de um projecto capaz de suscitar a adesão
da opinião pública”.
N. M.
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