Visto que sou uma criança que tem sido abusada da vossa
confiança, é justo que me sinta submetido a um regime de liberdade inerente á
minha idade.
As vossas idas e vindas deverão ser submetidas a uma
autorização prévia pelos cidadãos todos, devendo fazer-lhes compreender que não
se trata de uma fiscalização policial, mas o exercício da soberania de um povo
que tem sido sucessivamente martirizado pelos senhores que vivem à custa de
todos, que nada pagam, pelo contrário, e que ainda gozam com a dignidade de
todos os meus compatriotas.
Com isso reduzireis bastante as possibilidades de
encontros clandestinos, sempre nocivos para todos nós, vendo como sofrem meus
pais por não poderem trabalhar e ganhar a sua vida, até porque tenho mais dois
irmãos mais novos.
Por um bom tempo, que deverieis fixar, deveríamos fixar
todos em conjunto, que o senhor Pedro tome, por exemplo, a condução do país – e
já está a ser demasiado tempo para que a libertação do povo se verifique na sua
totalidade – uma vez que ele só sabe roubar-nos nos nossos direitos e nas
nossas regalias sociais, nos nossos direitos como seres humanos.
É preciso ter um forte estômago para nos crivar de
impostos, de diminuir aos benefícios e de roubar os salários e os subsídios de
férias e de Natal e, se possível, que não tome condução nenhuma.
A bicicleta é uma máquina engenhosa: suprime, entre
outras, nos jovens e nos menos jovens, grande parte dos casos de coração.
A promiscuidade dos carros topo de gama, dos autocarros é
um eterno perigo, senhores, Andem a pé ou nos vossos carros, como eu ando no
dos meus pais, quando ainda têm dinheiro para meter alguma gasolina no
depósito.
Tenho ouvido dizer que, quase sempre, a origem do mal foi
uma curiosidade malsã. Talvez ela ainda subsista.
É preciso, de qualquer maneira, informar o senhor Pedro
sobre alguns problemas essenciais que o atormentam, como também atormentam os
meus pais, como os ouço dizer várias vezes ao dia, sem que possa fazer seja o
que for para lhes causar algum alívio. Os senhores são os verdadeiros culpados
pela fome que passo, pela miséria em que vivemos hoje em dia, e ainda se riem e
gozam com a nossa infelicidade.
Tende presente que, dentro de algum tempo, estareis entregues a vós próprios, som poderdes continuar a roubar os portugueses e que, desprovidos de experi~encia e de poder, nada valeis, para nada prestais, senhores do governo de Portugal.
Sois muito valentes e corajosos quando vos amparais no
poder da força e na força do poder, mesmo que não tenhais legitimidade alguma
para vos manterdes no poder, uma vez que vos fartasteis de mentir aos
portugueses para conseguirdes os lugares que ainda ocupais.
Ah, devo dizer-vos que faço anos para a semana que vem e
que me sinto enojado com a vossa presença no poder no meu querido país que é
Portugal. Qual é o vosso?
Frequento a escola, sei fazer algumas coisas am Trabalhos
Manuais, e com um peluche que há anos me deram uns amigos no dia dos meus anos,
fiz o que os senhores estão a fazer à maioria dos portugueses e que os senhores
não merecem qualquer confiança da nossa parte.
Um professor disse-me que não pode haver pior iniciação
que as conversas dos adolescentes, mas eu vi-me forçado a amadurecer
rapidamente, devido a todos os vossos “mimos” oferecidos aos rapazes da minha
idade e a seus pais.
Por isso, meus senhores, vão-se f…er e deixem-nos em paz!
Também me chamo Pedro, infelizmente...
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