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sábado, 16 de março de 2013

'Efeito Pinhal' atrapalha Tribunal Constitucional


Filipe Pinhal, na foto, é o inconveniente porta-voz dos reformados ricos. Se o Constitucional se limitar a chumbar os cortes nas reformas mais altas na fiscalização do OE, terá um problema de imagem pública.
Constitucionalistas contactados pelo SOL confirmam que o ponto do Orçamento do Estado juridicamente mais exposto ao chumbo é a contribuição especial sobre as pensões mais altas. Mas oTribunal Constitucional – cuja decisão sobre o Orçamento do Estado (OE2012) parece estar iminente – ficará com um problema de imagem pública se decidir apenas ‘salvar’ as reformas dos ‘ricos’, os mais atingidos com taxas elevadas pela Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES).

Por isso, o surgimento do Movimento dos Reformados Indignados, liderado pelo polémico ex-presidente do BCP, Filipe Pinhal, deixa o TC mais vulnerável perante a opinião pública. «Podem ter argumentos jurídicos inequívocos. Mas seria uma catástrofe se apenas as reformas elevadas fossem chumbadas. Dificilmente, o cidadão comum entenderá um acórdão deste tipo», diz ao SOL um constitucionalista da Faculdade de Direito de Lisboa.

Pinhal, ex-presidente do BCP está reformado pela instituição e foi, durante o processo de saída, acusado de receber uma reforma milionária. Saiu após o escândalo das offshores do banco, alegadamente criadas para manipular as acções do BCP em bolsa.

O acórdão sobre o Orçamento do Estado está em fase avançada de elaboração. «Nesta fase, ficaria surpreendido se os juízes não tivessem já optado num certo sentido para cada uma das questões levantas pelos recursos», refere Jorge Pereira da Silva, constitucionalista da Universidade Católica. Quanto ao ‘efeito’ Pinhal, Pereira da Silva admite que «fique mais difícil a incontitucionalidade apenas das pensões mais altas».

Num momento em que se aguarda a decisão, o surgimento do grupo de Pinhal foi também lamentado pelo Governo. E se o TC ‘descer a fasquia’, chumbando pensões de valores médios? Se todas as reformas acima de 1.350 euros forem chumbadas, o ‘buraco’ pode chegar a 423 milhões de euros.

Presidente foi o mais veemente

Mas não seria apenas o TC a ficar mal na fotografia. Dos quatro recursos que foram interpostos no TC, o do Presidente da República é o mais veemente nas dúvidas levantadas sobre os cortes nas pensões. Em artigo de opinião publicado no SOL (edição de 25/1/13), o constitucionalista Reis Novais, que assessorou constitucionalmente o Presidente Jorge Sampaio durante 10 anos, notava: «A contestação dos cortes nos subsídios [de funcionários públicos e pensionistas] revela brandura», mas «já no que se refere à carga tributária incidente sobre os pensionistas a atitude do Presidente da República é de veemente indignação constitucional».

Isabel Moreira, uma das autoras do recurso do PS , está preocupada como as pressões. Na segunda-feira, perante a notícia de que o Governo só discute os cortes de quatro mil milhões de euros depois da decisão do TC, comentava no Facebook: são «as clássicas notícias postas a correr pelo Governo para pressionar o Tribunal Constitucional». E concluiu, com ironia: «Gente decente».

No grupo parlamentar e na direcção do PS, a expectativa vai no sentido de uma sentença minimalista: chumbo da CES e menor probabilidade de os cortes dos subsídios serem inviabilizados.



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