O papel de Cavaco dentro o fora do cenário
público aparece agora argumentado, em livro, naquela que a resposta do
Presidente aos que o acusam de distância. 'Roteiros VII', divulgado este
sábado, dia em que se assinala o segundo aniversário da tomada de posse de
Cavaco Silva para um segundo mandato no Palácio de Belém, está disponível no
site da Presidência.
O prefácio ao livro 'Roteiros VII' retrata, em
vinte páginas, a acção do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, perante
"uma crise anunciada" que assombra Portugal há mais de dois anos. Em
tom defensivo, a Presidente salvaguarda o seu estatuto com declarações
proferidas ao longo dos últimos doze meses, recusa alimentar "sentimentos
adversos à acção do Governo" e diz que portugueses estão cansados da
austeridade.
Cavaco
Silva começa por defender que "da parte do Presidente da República,
exige-se, por um lado, um conhecimento rigoroso da dimensão e das razões da
crise económica e financeira que atinge o País" assim como "uma noção
precisa das linhas de rumo".
Perante isto, o Presidente defende que deve
obedecer a uma "cultura de responsabilidade" que lhe impõe o dever de
não se deixar "influenciar pelo ruído mediático ou pelas pressões de
grupos ou corporações".
Cavaco
critica ainda a "tentação da visibilidade fácil e da vaidade efémera"
que que faz com que se perca "a margem de manobra e capacidade de
interlocução junto dos diversos agentes políticos e sociais, os quais, em
situações de crise, se colocam frequentemente em posições de antagonismo e
conflito, o que reclama uma intervenção arbitral, acrescida mas discreta, do
Presidente da República".
Quase
em tom de resposta a todas as críticas sobre o seu silêncio, Cavaco Silva
repete ainda a sua aversão a "excessos de protagonismo pessoal" e o
seu "apego ao superior interesse do País".
"Num tempo dominado pelo culto do efémero e do protagonismo
mediático seria porventura tentador utilizar a chefia do Estado como palco de
actuação de grande efeito, buscando o engrandecimento pessoal através de
intervenções mais ou menos populistas, que conquistassem simpatias do momento
mas das quais nada resultaria, a não ser um grave prejuízo para o superior
interesse nacional", avisa, como se pode ler no site da Presidência.
Quanto
a isso, Cavaco enaltece que a sua "missão consiste em contribuir, de forma
activa mas ponderada, para que Portugal vença os desafios do presente sem
perder de vista os rumos do futuro. Foi esse o mandato para que fui eleito - e
dele não me afastarei um milímetro".
O
Chefe do Executivo guardou o final do texto para avaliar os efeitos da
magistratura de influência do Presidente da República, advertindo que perante a
existência de "situações em que no caso da magistratura do Presidente da
República é possível saber com exactidão qual seria a alternativa que vigoraria
na ausência da intervenção presidencial, por exemplo quando ocorre um veto, a
maior parte dos efeitos da magistratura presidencial não é "susceptível de
avaliação directa e imediata", situação essa que se agrava quando um
Presidente "até para aumentar a sua capacidade de influência efectiva sobre
o processo político de decisão, guarda reserva relativamente às suas
intervenções junto do Governo".
N. M.
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