Tutela quer reduzir quadros de zona pedagógica,
de 23 para sete, já para o próximo concurso.
Concurso deverá abrir em Abril
O Ministério da Educação e da Ciência (MEC) anunciou que os
professores com "horário zero" poderão passar, já a partir do próximo
ano lectivo, ao regime de mobilidade especial. A tutela quer ainda reduzir o
número de quadros de zona pedagógica (QZP) de 23 para sete, indicou nesta
quarta-feira o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar,
Casanova de Almeida, após as reuniões que manteve com dirigentes dos sindicatos
dos professores.
Segundo a lei em vigor, os funcionários públicos que estão no
regime de mobilidade especial mantêm o salário por inteiro apenas nos primeiros
dois meses. Depois passam a receber 50% da sua remuneração. O Governo já
anunciou que vai rever esta lei. O FMI propôs no seu relatório sobre a reforma
do Estado que a permanência neste regime não deverá exceder um período de dois
anos, findo o qual o trabalhador pode ser despedido.
Até
agora, este regime não se aplicava aos professores. O ministro da Educação,
Nuno Crato, e também Casanova de Almeida garantiram, várias vezes, que não
haveria professores em mobilidade especial. Em declarações aos jornalistas, o
secretário de Estado considerou que o compromisso foi cumprido porque a
alteração só se aplicará para o próximo ano lectivo. Casanova de Almeida
justificou esta mudança com os “compromissos internacionais” assumidos por
Portugal no âmbito do programa de ajuda financeira, com vista à extensão a toda
a Administração Pública do regime de mobilidade especial.
“É
exactamente por isso que estamos a propor aos sindicatos um instrumento que
visa dotar os professores de mais uma ferramenta para poderem com mais
facilidade deixarem de ter ausência de componente lectiva”, acrescentou, em
referência à proposta da redução do número de QZP. Ao
alargar-se o “âmbito geográfico” dos QZP está-se a dar mais “uma
possibilidade” para reduzir os horários zero entre os professores do quadro,
especificou.
Quando
a hipótese de redução do número de QZP foi levantada em Novembro passado,
tanto a Federação Nacional de Professores (Fenprof), como a Federação Nacional
da Educação (FNE) afirmaram que não aceitariam mexidas. Hoje, com a mobilidade
especial a pairar sobre os docentes do quadro, os dirigentes das duas
federações foram mais comedidos. Só depois de ouvidos os órgãos dirigentes
tomarão posição, referiram.
Casanova de Almeida acrescentou ainda que estão a ser estudados
com a secretaria de Estado da Administração Pública “outros instrumentos que
adequem a gestão dos recursos humanos com as necessidades do Estado”, entre os
quais “a interpenetração entre quadros dos diferentes ministérios”. Quanto à
possibilidade de rescisões amigáveis, que vão agora também começar a ser
negociadas na Administração Pública, Casanova de Almeida considerou que na
educação estas “não estão em cima da mesa” por existirem outras alternativas
mais “motivadoras” para os professores. “Estes são tempos excepcionais que
exigem medidas excepcionais”, frisou.
Com
o ministro da Educação ainda em visita ao Brasil, coube ao secretário de Estado
do Ensino e da Administração Escolar desmentir o que ambos tinham vindo a
afirmar no último ano: que nenhum professor seria colocado em mobilidade
especial. Esta garantia foi dado por mais do que uma vez no Parlamento e também
em declarações aos jornalistas.
Numa
das vezes, em Setembro passado, reagindo a acusações da Federação Nacional de
Professores (Fenprof), Nuno Crato garantiu: “Não está em cima da mesa nenhuma
discussão sobre a mobilidade especial dos professores. Isso é pura verdade e é
o que se mantém”. Na mesma altura, Casanova de Almeida dizia aos deputados da
Comissão Parlamentar da Educação “que nenhum professor com ausência de
componente lectiva [sem turmas para ensinar, os chamados "horários
zero"] entrará em mobilidade especial”.
No
mês passado, reagindo às propostas do FMI para a reforma do Estado, que passam
pela inclusão na mobilidade especial de 30 a 50 mil funcionários do sector a
Educação, Crato voltou a negar: “Não somos irresponsáveis. Isso não está em
causa de forma alguma”.
Não
serão tantos a ser abrangidos, pelo menos para já. Aquando da divulgação do
relatório do FMI, em Janeiro, a Fenprof alertou que este poderá ser o destino
dos cerca de 15 mil professores do quadro que integravam a primeira listagem de
"horários zero" divulgada em Julho passado pelo MEC. A maioria foi
depois repescada para actividades de apoio aos alunos, criadas pelo ministério
na sequência desta enorme vaga de docentes sem turmas para ensinar. Actualmente
continuarão nesta situação cerca de 700 professores.
Menos QZP
O líder da FNE, João Dias da Silva, frisou que o número proposto, de sete QZP, não é ainda definitivo. Foi essa a garantia dada pelo secretário de Estado. "Uma redução como a proposta parece-me que constitui um desrespeito muito grande por estes professores que estão há anos no sistema e que serão obrigados a mudanças de centenas de quilómetros", disse.
O líder da FNE, João Dias da Silva, frisou que o número proposto, de sete QZP, não é ainda definitivo. Foi essa a garantia dada pelo secretário de Estado. "Uma redução como a proposta parece-me que constitui um desrespeito muito grande por estes professores que estão há anos no sistema e que serão obrigados a mudanças de centenas de quilómetros", disse.
Esta
mudança dos QZP é já para vigorar no próximo concurso para professores do
quadro que deverá abrir no próximo mês. Actualmente, os QZP correspondem,
grosso modo, aos distritos existentes. A sua redução levará a que os cerca de
11 mil professores actualmente nos QZP sejam obrigados a concorrer, já no
concurso interno deste ano, a escolas situadas em áreas geográficas
substancialmente maiores.
Esta
proposta já tinha sido avançada pelo MEC durante as negociações com vista ao
concurso extraordinário destinado a professores contratados. Os QZP foram
criados com o Estatuto da Carreira Docente aprovado em 1990 e implementados
três anos depois, com vista a “garantir a satisfação de necessidades
não-permanentes dos estabelecimentos de ensino”. Os docentes nesta situação são
obrigados a concorrer ao concurso interno para professores do quadro que se
realiza de quatro em quatro anos. Se não obtiverem colocação, têm de se
apresentar ao concurso anual também destinado aos professores contratados.
Para
além dos QZP, existem os quadros de agrupamento e de escola não-agrupada que
garantem uma maior estabilidade, uma vez que os docentes nesta situação ficam
adstritos a um só agrupamento ou escola. No último concurso nacional destinado
a professores do quadro, realizado em 2009, foram integrados nesta modalidade
cerca de 18 mil docentes dos QZP.
Notícia actualizada às 17h50. Alterado o título, as condições
salariais em mobilidade e número de professores nos QZP e introduzida
mais informação sobre mobilidade especial.
=Público=
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