Ninguém consegue prever se o dia 2 de Março ficará
registado como marco na contestação ao Governo. Mas nos últimos dias aumentou a
expectativa do Movimento ‘Que Se Lixe a Troika’ e a preocupação dos partidos da
maioria e do Governo.
Com
os responsáveis do FMI, da CE e do BCEem Lisboa, para a 7.ª avaliação do
memorando de ajuda externa, a adesão da CGTP e as declarações de apoio de
membros do PCP e do BE, e até do líder do PS, fizerem soar sinais de alarme na
maioria – que cruzam os dedos para que se confirmem as previsões de chuva e,
sobretudo, para que o ajuntamento não atinja as proporções do 15 de Setembro,
que obrigou a um recuo no projecto de alteração da Taxa Social Única (TSU).
Uma
coisa é certa: desta vez o protesto é contra toda a política do Governo e não
há recuo possível.
Ainda que o milhão de pessoas que terão participado a 15 de
Setembro seja difícil de superar, a agitação das últimas semanas permite aos
organizadores conjecturar uma protesto histórico. Nunca uma manifestação teve
tanta ‘publicidade grátis’ como esta, com protestos quase diários contra
membros do Governo.
Esta quarta-feira, o
primeiro-ministro foi confrontado na Faculdade de Direito de Lisboa – tendo
ficado a imagem do coelho enforcado, exibido por estudantes. A iniciativa
estava marcada há semanas e o chefe do Governo não quis dar um sinal de
fraqueza faltando ao debate.
«Tem sido fundamental a
constante mediatização, quase diária, dos protestos. Aparecem cartazes da
manifestação e a mensagem vai passando», afirma um activista. Há quinze dias, o
grupo de organizadores do ‘Que Se Lixe a Troika’ foi ao Parlamento cantar a
Grândola, interrompendo Passos Coelho, mas as ‘grandoladas’ já não são
exclusivo do movimento.
«Não tivemos nada a ver com o
que aconteceu no protesto do Hotel Sana contra Vítor Gaspar», diz Marco
Marques, que participou na organização da manifestação de 15 de Setembro e está
a preparar a de amanhã. Quanto à escolha da música de Zeca Afonso, o motivo é
naturalmente o de «suscitar a adesão de um grupo alargado».
No aumento da massa crítica, o PS é fundamental. Vários
deputados, com destaque para o grupo de jovens que integra Pedro Nuno Santos e
Duarte Cordeiro, comprometeram-se a participar. Manuel Alegre apoia («estou de
alma e coração com os que protestam», diz ao SOL) e António José Seguro teve
uma mensagem de solidariedade:
«Os portugueses têm o dever de se manifestarem».
Hoje, o PS ajuda a criar ambiente, com um debate potestativo no Parlamento sob
o tema ‘Alternativa para a Saída da Crise’.
Entre as páginas de movimentos
do Facebook e a agitação em blogues e sites partidários, verifica-se que
aderiram os movimentos de reformados, de jovens precários e os ligados a
professores e a profissionais de saúde.
Próximos protestosna calha para
Abril e Maio
A nível partidário, o PCP
juntou-se ao resto da esquerda, esta semana. «Os comunistas marcarão presença
como contributo para a derrota do Pacto de Agressão, deste Governo e da
política de direita», esclareceram em comunicado. «Ninguém quer ficar de fora
de uma coisa destas», diz um organizadores.
Depois de hoje, o futuro já
está a ser pensado pelos movimentos. O 25 de Abril e o 1.º de Maio são as datas
para os próximos protestos. A comemoração da revolução poderá ter um cariz mais
festivo, enquanto o Dia do Trabalhador aparece como o momento ideal para
mostrar descontentamento e revolta pelo desemprego.
«Um em cada cinco portugueses
estão desempregados, o que coloca o país à beira da ruptura social», diz
Frederico Pinheiro, membro da direcção da ATTAC-Portugal e Auditoria à Dívida,
duas associações envolvidas na manifestação desta tarde.
O sentimento nestas
organizações é que há uma crescente adesão. «As pessoas estão saturadas. Nas
reuniões vemos gente de direita, fartas de impostos, e que já não acreditam que
a austeridade vá resolver alguma coisa», sublinha Pinheiro. Hoje é a
prova dos nove.
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