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sábado, 9 de março de 2013

«NAS TEIAS DA SERVIDÃO»


Apesar da escravatura ter sido uma realidade comum na história universal, só no século XVIII é que surgiram os meios que permitiram o transporte de milhões de africanos através dos oceanos para terras que lhes eram estranhas.

Podemos encontrar um dos mais antigos registos da escravatura na Bíblia, que diz como José foi vendido no Egipto.

No mundo antigo, a escravatura era algo de normal. O filósofo grego Aristóteles escreveu que os escravos deveriam ser de uma raça “inferior” e que,  enquanto propriedade de seus donos, não tinham quaisquer direitos As civilizações do mundo antigo apoiavam-se muito frequentemente no trabalho dos escravos, que nem sempre estavam dispostos a aceitar o seu destino.

A mais famosa revolta de escravos do Inmpério Romano ocorreu no ano 73 a. C. e foi liderada por Espártaco Outras formas de trabalho forçado obrigaram, por exemplo, os camponeses que construiram a Grande Muralha da China ou os servos da Europa medieval a trabalhar para os seus senhores, muitas vezes sem receberem qualquer pagamento.

Na antiguidade, a maioria dos escravos era constituída por prisioneiros de guerra que trabalhavam para quem os aprisionara. No século XV começou a surgir um novo tipo de escravatura, depois de os exploradores portugueses terem viajado para África e depois para as Américas.

Em 1482, Diogo de Azambuja construiu o Castelo da Mina, na região onde agora se localiza o Gana: foi a primeira fortaleza a ser construída como centro de detenção de africanos antes de serem empilhados em barcos que os levavam para as plantações do Novo Mundo. Outras nações houve que quiseram tomar parte neste negócio.
TROCANDO HUMANIDADE POR AÇUCAR

As embarcações saíam de Bristol e Liverpool carregadas com produtos comerciais para a África Ocidental: a moeda de troca eram barras de metal. À chegada, as mercadorias eram trocadas por escravos. Era raro os ingleses capturarem escravos: compravam-nos a outros africanos que os tinham conseguido através de guerras ou de ataques.

As instruções eram típicas: era instruído para “não comprar escravos velhos ou crianças, mas sim jovens e saudáveis homens e mulheres”.

Uma vez cheios, os navios partiam para a América e para as Índias Ocidentais. Os prisioneiros eram amontoados, o que tornava galopante o desenvolvimento das doenças, originando uma alta taxa de mortalidade. Os corpos daqueles que morriam eram deitados aos tubarões. Muitos escravos houve que tentaram matar-se, atirando-se pela borda fora ou fazendo jejum.

Equiano, um escravo, descreveu como os homens eram chicoteados de hora a hora até comerem e escreve: “Nunca vi entre os meus actos de tanta brutalidade.”

Os sobreviventes eram vendidos para trabalhar em plantações de açucar nas Índias Ocidentais e de tabaco e mais tarde de algodão nos USA. Estes produtos constituiam a principal carga na viagem de regresso a Inglaterra. Era um negócio vantajoso, pois ambos os percursos da viagem representavem lucro.

O comércio africano era único. Nunca anteriormente tantas pessoas tinham sido retiradas de um país e, mais do que isso, de um continente para outro.

Entre 1795 e 1804 cerca de 400 mil escravos foram transportados de áfrica em navios provenientes de portos britânicos. O número total relativo ao século XVIII pode ascender a 4 milhões.

As condições de trabalho não eram necessariamente piores do que as de outros trabalhadores assalariados noutros países, visto  que os donos não queriam danificar a sua valiosa “propriedade”. Contudo, o desespero da sua condição tornava-lhes a vida particularmente amarga. Houve tentativas de insurreição, sendo a de Nat Turner, em 1830, a mais famosa, mas nunca poderiam esperar ter êxito.

As denúncias da escravatura começaram logo em 1688 com um panfleto de Francis Daniel Pastorius da Pensilvânia.

O filantropo William Wilberforce liderou a oposição ao comércio esclavagista e viu-o proibido no Império britânico em 1807 – esta atitude foi rapidamente seguida noutros países europeus. Mas só em 1833 é que a própria escravatura foi abolida nas colónias inglesas e nos EUA foi necessária uma guerra civil para que os estados sulistas aceitassem a emancipação.

Mas, ao que tudo indica, nos dias de hoje, vive-se uma nova forma de escravatura, sob o olhar complacente das autoridades europeias e mundiais, mas especialmente nacionais, com especial relevo em Portugal.

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