Velhos, novos,
empregados, desempregados. Portugal saiu à rua, de olhos tristes e coração
revoltado a pedir dignidade
Braço erguido, ao som da Grândola Vila Morena.
A voz de Raúl Campanha destaca-se na multidão. A voz e as lágrimas. «Estou a pensar no 25 de Abril». Silêncio. Depois um desabafo: «Este Governo não
tem humanidade».
Tem 65 anos. «Saímos de fascismo de repressão, de opressão, para um fascismo falado». Diz que «um povo que não tem trabalho não consegue pagar uma dívida». Defende mais tempo e menos juros. Esta é, de resto, a solução apontada pela maior parte das pessoas com quem falámos. Poucos sabem como dar a volta a isto. Só sabem que é altura de dizer «Basta!» e que é preciso «investir nas pessoas».
Muitos frisam o «dever de cidadania» de estar aqui. É o caso de Fernando Fitas, 57 anos. Na Avenida da Liberdade, está parado a ver a multidão passar, de cartaz na mão, onde se lê: «Quando era criança, uns filhos da puta cercaram-me sonegando-me a liberdade. Hoje outros filhos da puta cercam-me roubando-me a dignidade». Explica-nos que tem três filhos «e não queria que eles vivessem um tempo pior do que aquilo que eu vivi». Quer «correr com estes fantoches vendidos ao Goldman Sachs».
A manifestação avança rua abaixo, sempre com palavras de ordem como «Fora daqui, a fome a miséria e o FMI!», «Vamos lá ver quem decide o meu salário. Se e o povo unido, se é o Fundo Monetário» ou «Juventude à rasca grita já basta! Reformados à rasca gritam já basta!». Por entre muitos cartazes, que valem por si só.
A revolta é transversal. Velhos, jovens, empregados, desempregados. Famílias inteiras. Do Movimento dos Deficientes Indignados, uma senhora tetraplégica conta-nos que ainda não recebe pensão de invalidez, que está há 9 anos à espera da indemnização da seguradora. Sobrevive com a ajuda da família. Lembra-nos que muitos nem isso têm.
Elsa Oliveira, atriz, 33 anos, está sem trabalho há dois. Veio com as duas filhas e com o marido, médico veterinário. Conhece pessoas que «estão a passar fome» e teme pelo futuro das filhas.
Vasco Fernandes, com apenas 13 anos, também teme pelo seu: «Quero manifestar-me contra o meu futuro negro, contra as coisas que já faltam agora e vão continuar a faltar». Madalena, 17, confessa-se «profundamente angustiada». «O país não tem o direito de fazer isto connosco. Não há lugar para nós».
Desempregado, 23 anos, Hugo Mamede está desacreditado: «O voto já é muito pouco e a minha única forma de ação é vir para as ruas». O amigo André Antunes, 24, está a acabar o curso, tomado pelo «desespero entre ficar cá e não ter futuro e estar longe da família». Ainda assim, acredita que «com todo o nosso desespero, juntando-o, fazemos disso uma força transformadora. Ganhamos mais esperança. Estou aqui por mim, pelos meus pais, pelos meus avós, pelos meus (futuros) filhos. Isto diz respeito a todos. Aos direitos do passado, do presente e do futuro».
O passado. Grândola. Cravos ao peito, como o de Luís Miguel Santos, 44 anos. «É um símbolo intemporal e é altura de mostrar os símbolos». Outro símbolo, a antiga moeda - o escudo -, no peito de um senhor reformado: «Talvez volte». E o desabafo: «Estão a destruir a vida dos meus filhos».
«A minha reforma dá para viver, mas há muita gente que estão a matar à fome. Querem que a gente morra o mais rápido possível», diz outro senhor, 67 anos. Defende «uma nova revolução. Já andei na guerra. Não me assusta nada».
E a Grândola, outra vez. O senhor Mendes, 62 anos, já muito rouco de tanto a cantar, está emocionado e nervoso. «O problema não está na idade da reforma, no valor das pensões. O problema está no milhão e meio de portugueses que não têm trabalho. O problema não está em reduzir a despesa, o problema está em reduzir a pobreza».
E, depois, «o problema é que não há uma alternativa». Nem PS, nem PCP, nem BE. Mesmo «Que Se Lixe a Troika não é nada». Mas, por agora, admite, é um primeiro passo: a única saída é «vir para a rua». Foi o que fizeram mais de um milhão de pessoas neste 2 de março, em Portugal.
Tem 65 anos. «Saímos de fascismo de repressão, de opressão, para um fascismo falado». Diz que «um povo que não tem trabalho não consegue pagar uma dívida». Defende mais tempo e menos juros. Esta é, de resto, a solução apontada pela maior parte das pessoas com quem falámos. Poucos sabem como dar a volta a isto. Só sabem que é altura de dizer «Basta!» e que é preciso «investir nas pessoas».
Muitos frisam o «dever de cidadania» de estar aqui. É o caso de Fernando Fitas, 57 anos. Na Avenida da Liberdade, está parado a ver a multidão passar, de cartaz na mão, onde se lê: «Quando era criança, uns filhos da puta cercaram-me sonegando-me a liberdade. Hoje outros filhos da puta cercam-me roubando-me a dignidade». Explica-nos que tem três filhos «e não queria que eles vivessem um tempo pior do que aquilo que eu vivi». Quer «correr com estes fantoches vendidos ao Goldman Sachs».
A manifestação avança rua abaixo, sempre com palavras de ordem como «Fora daqui, a fome a miséria e o FMI!», «Vamos lá ver quem decide o meu salário. Se e o povo unido, se é o Fundo Monetário» ou «Juventude à rasca grita já basta! Reformados à rasca gritam já basta!». Por entre muitos cartazes, que valem por si só.
A revolta é transversal. Velhos, jovens, empregados, desempregados. Famílias inteiras. Do Movimento dos Deficientes Indignados, uma senhora tetraplégica conta-nos que ainda não recebe pensão de invalidez, que está há 9 anos à espera da indemnização da seguradora. Sobrevive com a ajuda da família. Lembra-nos que muitos nem isso têm.
Elsa Oliveira, atriz, 33 anos, está sem trabalho há dois. Veio com as duas filhas e com o marido, médico veterinário. Conhece pessoas que «estão a passar fome» e teme pelo futuro das filhas.
Vasco Fernandes, com apenas 13 anos, também teme pelo seu: «Quero manifestar-me contra o meu futuro negro, contra as coisas que já faltam agora e vão continuar a faltar». Madalena, 17, confessa-se «profundamente angustiada». «O país não tem o direito de fazer isto connosco. Não há lugar para nós».
Desempregado, 23 anos, Hugo Mamede está desacreditado: «O voto já é muito pouco e a minha única forma de ação é vir para as ruas». O amigo André Antunes, 24, está a acabar o curso, tomado pelo «desespero entre ficar cá e não ter futuro e estar longe da família». Ainda assim, acredita que «com todo o nosso desespero, juntando-o, fazemos disso uma força transformadora. Ganhamos mais esperança. Estou aqui por mim, pelos meus pais, pelos meus avós, pelos meus (futuros) filhos. Isto diz respeito a todos. Aos direitos do passado, do presente e do futuro».
O passado. Grândola. Cravos ao peito, como o de Luís Miguel Santos, 44 anos. «É um símbolo intemporal e é altura de mostrar os símbolos». Outro símbolo, a antiga moeda - o escudo -, no peito de um senhor reformado: «Talvez volte». E o desabafo: «Estão a destruir a vida dos meus filhos».
«A minha reforma dá para viver, mas há muita gente que estão a matar à fome. Querem que a gente morra o mais rápido possível», diz outro senhor, 67 anos. Defende «uma nova revolução. Já andei na guerra. Não me assusta nada».
E a Grândola, outra vez. O senhor Mendes, 62 anos, já muito rouco de tanto a cantar, está emocionado e nervoso. «O problema não está na idade da reforma, no valor das pensões. O problema está no milhão e meio de portugueses que não têm trabalho. O problema não está em reduzir a despesa, o problema está em reduzir a pobreza».
E, depois, «o problema é que não há uma alternativa». Nem PS, nem PCP, nem BE. Mesmo «Que Se Lixe a Troika não é nada». Mas, por agora, admite, é um primeiro passo: a única saída é «vir para a rua». Foi o que fizeram mais de um milhão de pessoas neste 2 de março, em Portugal.
=TVI24=
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