O antigo responsável governamental português e
líder do CDS Freitas do Amaral culpou hoje "o neoliberalismo" e a
chanceler alemã, Angela Merkel, pelo "desfazer da unidade europeia",
comentando as taxas sobre depósitos bancários cipriotas acordadas em troca de
auxílio financeiro.
"Estamos a regressar na história, quase como antes da
Revolução Francesa, em que a nobreza e o clero não pagavam impostos e só o povo
rural, muito pobre, é que pagava. Em parte, a culpa é do nosso Governo, parte
da culpa é da 'troika' e, portanto, é culpa do Governo alemão e da senhora Merkel,
que tem grande responsabilidade em tudo o que esta a acontecer na Europa",
disse Freitas, à margem da apresentação da biografia de outro
"histórico" da política portuguesa, o antigo Presidente Mário Soares.
Para
Freitas do Amaral, que foi também ministro num dos executivos socialistas de
José Sócrates, "a arrogância dos países mais ricos perante os países menos
desenvolvidos da Europa" é responsável pelo "desfazer da unidade
europeia".
"Ainda
agora, com esta medida completamente cega e estúpida que foi tomada em relação
a Chipre, podem estar a criar uma crise de falta de confiança em toda a zona
euro, a partir de um problema que se resolvia facilmente, podem estar a
incendiar todo o edifício", afirmou.
O
antigo político defendeu que "é altura de aqueles que mais
responsabilidades tiveram na criação da Europa unida - democratas cristãos,
socialistas democráticos ou sociais-democratas nórdicos - fazerem valer a sua
voz, em defesa da pureza do projeto europeu e contra este conjunto de
incompetência, cegueira e egoísmo nacionalista que está a destruir a
Europa".
Os políticos cipriotas estarão ainda a negociar alterações às
taxas a aplicar sobre os depósitos acordadas com o Eurogrupo e dadas a conhecer
na madrugada de sábado, uma das condições para os parceiros internacionais
aceitarem emprestar 10 mil milhões de euros ao país.
Em
causa poderá estar, segundo várias notícias, uma alteração na taxa a impor
sobre os depósitos até 100 mil euros, que passaria a ser 3% ou 3,5% em vez dos
6,75% acordados inicialmente, enquanto a taxa para os depósitos superiores a
100 mil euros passaria de 9,9% para 12,5%.
Em
discussão poderá também estar uma isenção completa deste imposto para depósitos
inferiores a 20 mil ou 25 mil euros, segundo vários relatos de deputados
envolvidos nas discussões, não existindo para já comentários oficiais sobre a
existência destas discussões.
A
votação desta proposta estava prevista inicialmente para domingo, mas tem sido
sucessivamente adiada e está agora marcada para terça-feira.
O
acordo inicial prevê ainda que os depositantes fiquem com ações dos respetivos
bancos, em troca do corte nos seus depósitos.
A
taxa deve render 5,8 mil milhões de euros, segundo os cálculos iniciais. Um
terço dos depósitos no Chipre são de cidadãos ou entidades estrangeiras.
N. M.
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