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quarta-feira, 20 de março de 2013

Disfunção entre classe política e o povo é cada vez maior, diz Jorge Sampaio


Ex-Presidente critica agressividade entre deputados e diz que o país político tem de se entender sobre o "imediato".
“Nós precisamos de nos resgatar a nós próprios deste resgate.”

O antigo Presidente da República Jorge Sampai, considerou esta terça-feira que é necessário um reforço da legitimidade do sistema político, frisando que cada vez menos os cidadãos portugueses se revêem nos seus representantes políticos.
“A disfunção entre a classe política e o povo é cada vez maior. Não temos sido capazes de governar com sentido estratégico de forma a dar confiança aos portugueses”, afirmou o responsável, durante a conferência Reinventar o Futuro, promovida pela revista Visão, no âmbito das comemorações do seu vigésimo aniversário, na Fundação Champalimaud, em Lisboa.
Jorge Sampaio realçou que “a sociedade política tem sido incapaz de se reformar”, pelo que é preciso haver um “reforço da legitimidade do sistema político” em Portugal. E ilustrou: “Quando estou sintonizado no Canal Parlamento, vejo a agressividade que existe [entre os deputados de diferentes partidos]. Isto não pode ser mobilizador para os cidadãos”. Criticando a falta de cultura de compromisso político, Jorge Sampaio diz que a mesma se deve ao “trauma com o bloco central de 1983-1985”.
Questionado por Francisco Pinto Balsemão, presidente do grupo Impresa, que moderava o debate, se estava a defender um pacto de regime entre o PS e a coligação PSD e CDS, actualmente no Governo, Sampaio sublinhou que, “em Portugal, é muito mau falar de pacto”.  Porém, questionou: “Na Educação, não pode haver algum acordo entre forças políticas? Na Justiça? Na Saúde? Na Defesa? Será assim tão difícil? Temos que nos entender sobre o imediato”. “Estou absolutamente de acordo. Há 20 anos que falo de um pacto” de regime, retorquiu Balsemão.
Sampaio justificou esta posição com a actual situação do país, que, no seu entender, “espelha a crise aguda europeia” e reforça a necessidade de pensar o futuro acima dos interesses partidários. “O nó górdio à nossa volta é tão grande que ou há alguns compromissos sérios que façam frente à insensibilidade da troika, ou da tríade, como lhe queiram chamar, ou então estamos em grandes dificuldades”, disse. E reforçou: “Temos que nos unir no sentido de dizer que isto assim não pode ser. Não podem ser estes os desígnios da Europa”.
Defendendo que a União Europeia tardou em responder à crise financeira desencadeada com a falência do banco norte-americano Lehman Brothers, o antigo governante frisou que o contexto regional europeu torna ainda mais complexa a situação que se vive em Portugal. “Nós precisamos de nos resgatar a nós próprios deste resgate”, salientou, dizendo que existe “a sensação” de que a resposta europeia à crise está à espera de “outros calendários”, como as eleições na Alemanha.
“Está a destruir-se uma comunidade [União Europeia] que demorou décadas a construir. A actual divisão entre o Norte e o Sul, e entre o Centro e o Sul, é muito negativa”, assinalou. "É preciso encontrar no contexto actual uma estratégia de solidariedade. Quem me diria a mim, há uns anos, que era possível estar agora a discutir a independência da Catalunha, do País Basco ou da Escócia?", concluiu Sampaio.

=Público=

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