O comentador político Marcelo Rebelo de Sousa
considera que o Presidente da República, Cavaco Silva, gerou demasiada
expectativa em torno do prefácio divulgado no passado sábado, sendo que as suas
palavras “não trouxeram nada de novo”. Para o social-democrata, “Cavaco tem a
visão mais minimalista de todos os Presidentes”, no que toca ao exercício dos
poderes presidenciais, e “esperar que deite abaixo uma maioria [governamental]”
é pura ilusão.
No entender de Marcelo Rebelo de Sousa, o prefácio do Presidente
da República, tornado público no sábado, limita-se a traduzir “aquilo que
sempre pensou”. E concretizou o antigo líder ‘laranja’ em jeito de síntese:
“Não vai fazer nada em relação ao memorando da troika, é livre de criticar a
Europa, e apoia o Governo”, sendo que relativamente a pequenas discordâncias,
as “diz baixinho” ao Executivo.
"Cavaco
tem a visão mais minimalista de todos os Presidentes”, no que ao exercício dos
poderes presidenciais diz respeito, assinalou o Conselheiro de Estado, pelo que
“esperar que deite abaixo uma maioria”, é algo que “não existe”. Ainda assim,
salvaguardou Marcelo, o Presidente da República “nunca enganou ninguém”.
O professor, que falava no âmbito do seu habitual comentário aos
domingos, na antena da TVI, destacou, por outro lado, que “se o Governo não
fosse desastrado” a semana passada teria sido pautada só por “boas notícias”.
Marcelo Rebelo de Sousa reportava-se, assim, à forte probabilidade de Portugal
vir a gozar de mais cinco a 10 anos para pagar os empréstimos aos credores, e à
subida do rating do País por parte da agência Standard & Poor's. “A semana
estava a correr bem para o Governo”, não fosse o tema “salário mínimo” tê-la
manchado, referiu o comentador.
O
primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, “tinha a melhor maneira de lateralizar
o jogo, afirmando quer era prematuro pronunciar-se sobre a matéria”, apontou
Marcelo, acrescentando que, para lá do chefe do Executivo ter escolhido uma má
estratégia na abordagem do assunto ao comparar Portugal à Irlanda, “o inefável
António Borges, que escolhe os piores momentos para aparecer e que quer ajudar
mas enterra o Governo”, ao que “o ideal era baixar o salário mínimo”, só
prejudicou mais o primeiro-ministro, uma vez que foi interpretado como estando
“a dizer em voz alta o que Passos pensa”.
Para
Marcelo Rebelo de Sousa, o facto de a troika ter prolongado a sua estadia em
Portugal, é “um bom sinal”. “O Governo fez finca-pé e a troika mudou de
discurso, está mais flexível”, frisou o social-democrata. Não obstante preveja
que a troika vai “querer manter o calendário dos cortes, isso é igual ao litro.
Mesmo que não consiga agora, até ao fim do ano o Governo já ganhou” essa
batalha, vaticina o comentador.
E,
na opinião de Marcelo, não foram só os responsáveis por monitorizar o programa
de ajuda externa do País que mudaram, também o ministro das Finanças, Vítor
Gaspar, está diferente. “Gaspar mudou. O Gaspar que temos hoje já é mais
flexível”, fez sobressair.
N. M.
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