A
popularidade de Cavaco Silva mantém-se em baixa e a contestação social em alta,
apontam politólogos e comentadores.
Se o texto pretendia contrariar tendências – da popularidade do
Presidente em baixa e da contestação social em alta – esse desígnio falhou,
consideram os analistas ouvidos pelo PÚBLICO, havendo quem, como o escritor e
cronista Pedro Mexia, classifique o prefácio de “muito frustrante”, sobretudo
para quem esperava do Presidente “ser um actor e não um mero espectador” num
momento de crise.
“O
prefácio é uma mistura de confissão da incapacidade de agir – porque há um
memorando com a troïka – e de acção fantasmática”, diz
Pedro Mexia. “É um prefácio muito auto-justificativo, muito a pensar num lugar
na História mas muito frustrante para quem esperava alguma coisa.”
O
que se poderia esperar era que o Presidente fosse “alguém para quem as pessoas
olhassem neste mundo”. “E isso não me parece”, diz Pedro Mexia. O Presidente
entende que tem pouca margem de manobra, diz o cronista, para quem o contexto
não explica essa posição antes impõe outra: “Porque o programa [do Governo] é
violento, porque a contestação é muito forte, porque há uma série de realidades
preocupantes, como o desemprego, o Presidente tinha de funcionar como uma
válvula de escape.”
Já
o politólogo e doutorado em Ciência Política Carlos Jalali lembra que
nunca, desde que existem, os índices de popularidade do Presidente estiveram
tão baixos. E aponta como razão a percepção popular de que Cavaco Silva “não
estar a agir o suficiente”.
O
prefácio mostra consistência com aquilo que tem sido a linha da sua acção – dar
ênfase à governabilidade e à estabilidade política e explicar os efeitos das
várias opções económicas, considera o analista. E fá-lo sem pender para um ou
outro lado: se por um lado, Cavaco Silva rejeita a opção de reestruturação da
dívida, que poria em causa a credibilidade do Governo português e a sua
capacidade em cumprir compromissos, alerta de novo para os riscos de uma
espiral recessiva.
Resultados pouco
visíveis
Até aqui, diz Carlos Jalali, não há surpresas num texto em que o Presidente procura justificar a sua acção política, mais nos bastidores do que no palco mediático, em nome da estabilidade governativa e da coesão social. Mas, para o politólogo, não é certo que essa opção presidencial esteja a ter efeito. Se estiver, “ela não é muito visível”. Porque na realidade, “o consenso alargado e a coesão social estão a esbater-se” e não são claras as inflexões na acção do Governo que a acção presidencial possa ter gerado, nota Jalali. “Os sintomas que temos não sugerem o efeito da intervenção presidencial”, conclui.
Até aqui, diz Carlos Jalali, não há surpresas num texto em que o Presidente procura justificar a sua acção política, mais nos bastidores do que no palco mediático, em nome da estabilidade governativa e da coesão social. Mas, para o politólogo, não é certo que essa opção presidencial esteja a ter efeito. Se estiver, “ela não é muito visível”. Porque na realidade, “o consenso alargado e a coesão social estão a esbater-se” e não são claras as inflexões na acção do Governo que a acção presidencial possa ter gerado, nota Jalali. “Os sintomas que temos não sugerem o efeito da intervenção presidencial”, conclui.
Os
efeitos na popularidade do Presidente serão praticamente nulos, considera o
politólogo e professor de Política do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa António Costa Pinto.
Esse
recuperar da imagem junto da opinião pública “só poderia passar por uma atitude
de demarcação mais radical relativamente ao Governo”. E isso não se espera de
um Presidente que tem a estabilidade política “como o seu valor primeiro”. “O
Presidente da República está perfeitamente convencido de que, independentemente
da conjuntura ser muito grave, a estabilidade política é o mais importante.”
Por
outro lado, a sua margem de manobra é limitada, considera Costa Pinto, porque
está perante um Executivo com maioria absoluta e “porque, embora demarcando-se
daquilo que tem sido a prática governamental, pertence, no fundamental, à mesma
área política” do Governo.
Críticas renovadas
a Sócrates
Para Raúl Vaz, comentador político da Antena Um, com o prefácio do Presidente ao novo livro, o cidadão comum “fica com a ideia de que Cavaco Silva está muito preocupado com a crise política mas que não pode evitar uma crise que se instalou na sociedade portuguesa”.
Para Raúl Vaz, comentador político da Antena Um, com o prefácio do Presidente ao novo livro, o cidadão comum “fica com a ideia de que Cavaco Silva está muito preocupado com a crise política mas que não pode evitar uma crise que se instalou na sociedade portuguesa”.
Em
declarações à Antena Um, Raúl Vaz considerou, por outro lado, que “se depender
do Presidente da República este Governo terminará a legislatura”. Mais: “Cavaco
Silva liga de forma claríssima o seu testamento político, ou seja aquela que
será a avaliação dos portugueses destes dois mandatos, à acção que o Governo
conseguir em termos de resultados práticos.”
Depois
da crítica “muito dura” que fez à actuação do anterior Governo, liderado por
José Sócrates, no prefácio do anterior livro, Roteiros VI, lembra Raúl Vaz,
neste mostra que “ainda não digeriu bem a sua relação” com o
ex-primeiro-ministro e “retoma essa matéria dizendo que o que levou
Portugal a esta situação foi a gestão das contas públicas no período em que
José Sócrates foi chefe do Governo”. "E isto", conclui, “também ajuda
este Governo”.
Já
Ricardo Jorge Pinto, comentador da RTP, diz que com estas críticas renovadas a
Sócrates, Cavaco Silva "coloca-se ao lado do Governo" para prevenir
"qualquer eventual ataque que venha do Partido Socialista relativamente a
imputar a este Executivo a única e exclusiva responsabilidade sobre uma
situação que seja inultrapassável". O comentador acrescentou à RTP
que "como institucionalista", Cavaco Silva "fará tudo para que
esta legislatura vá até ao fim". Mas ressalvou: "Tudo tem limites e o
limite é, por exemplo, a incapacidade de o Governo resolver problemas de
índole económica que ele considera que têm vindo a agravar-se."
=Público=
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