“Caros” concidadãos…
Estejam no governo ou fora dele, mas apoiando,
geralmente, as medidas adoptadas pelos que lá estão – no poder deste país – e que,
sempre que os portugueses, convocados ou convidados a manifestar-se pelos
sindicatos ou partidos da oposição, só abrem a boca para criticar todos os que
saem às ruas do país, na maioria das vezes apontando “todos os mafarricos do
inferno” aos que entoam «Grândola Vila Morena», como abririam se se tratasse de
“E Depois do Adeus”, “Os Vampiros” ou outra qualquer canção considerada de
intervenção.
Poderia, “caros” senhores e senhoras, digníssimos
concidadãos, que, se houvesse uma melhor e mais isenta justiça em Portugal,
muitos estariam à sombra, e muitas tamnbém, enquanto que o Zé Povinho teria
todo o prazer de lhes pagar comida e dormida durante todo o tempo que permanecessem
no chelindró.
Eles criticam as belas canções de Zeca Afonso ou de Paulo
de Carvalho, do mesmo modo que criticariam os sambas ou demais canções de
nossos irmãos brasileiros que possam mexer com o íntimo dos que prevaricam
continuamente e ficam impunes, impávidos e serenos, sabendo que com eles não há
justiça que pegue.
Se e quando um indivíduo com responsabilidades máximas na
governação nacional indica os caminhos da emigração aos seus cidadãos, deveria
ser detido por falta de pudor, por falta de patriotismo e por falta de
sentimentos morais, pois sabem perfeitamente que para tornar a levantar o país,
todos somos poucos.
Mas, eles não querem que o país volte a levantar-se.
Preferem mantê-lo no fundo da fossa onde o colocaram, com o povo a suportar
todo o peso da “crise” tão propalada e que, eles sabem muito bem que a mesma
crise se deve às péssimas práticas políticas e de governança que têm guiado a
maioria dos políticos dominantes do país.
Mas, não se limitam a criticar as canções, os sambas ou
baiões, as manifestações populares; criticam tudo e todos os que não alinhem
pelo mesmo diapasão que eles, logo, todos são “baptizados” de extremistas de
esquerda, de comunistas e são mimoseados com todos quantos os apodos que lhes
venham à cabeça, por sinal bem oca que possuem, imaginando-se os sabichões das
dúzias, aliás os únicos a saber que direcção dar ao país e ao povo.
Antes de Abil de 1974 não havia o direito ao voto, não
havia qualquer liberdade de expressão, não existia ainda a Internet e a troca
de ideias entre cidadãos de diversos países e de diversas cores políticas, mas
já havia aqueles que protestavam contra o regime então em vigor, o que os
levava às masmorras da Pide, ao desaparecimento, ao desterro para as
ex-colónias africanas, de onde, por vezes, alguns conseguiam fugir para países
europeus que lhes davam asilo, a troco do seu trabalho.
Com a Revolução dos Cravos, pensou-se a princípio que se
tinha conseguido extirpar Portugal todos os fantasmas do fascismo, que afinal,
como se pode verificar hoje, se mantêm vigorosamente activos e críticos para
com todos aqueles que no auge do desespero por não poderem trabalhar, dar de
comer e de vestir aos filhos, que os vêm crescer sem futuro, que não podem
pagar as propinas no ensino superior, numa atitude de divisão entre as classes
sociais, dando apenas possibilidades aos filhos dos ricos, mesmo que estúpidos
como tamancos ou chancas, e, com certa alarvidade se riem na Assembleia da
República quando os partidos de esquerda apresentam propostas de isenção de
propinas aos mais pobres, negando tudo quanto venha desse lado do hemiciclo,
porque se sentem comodamente sentados nos cadeirões que garantem o poder quase
absoluto.
E, da mesma forma e da mesma cor, apesar de existir um
presidente da República, que deveria imitar Bento XVI e resignar, se limita à
prática de longos e ruidosos tabus, promulgando leis feridas de
inconstitucionalidades várias.
Portanto, daqui e agora rogo a Deus que ajude todos os
que lutam denodadamente contra uma nova forma de fascização do país, seja
através de manifestações de rua quer através da entoação de canções de
intervenção, que, pelos vistos, incomodam os “supostos senhores” do país que é
Portugal.
Temem apenas a exaltação de um povo mártir e martirizado,
que diariamente vê aumentar o desemprego e o ganha-pão da cidadania, vendo ao
mesmo tempo descer o valor do seu suor, que de modo algum recebe o valor
merecido, para júbilo dos que fogem aos impostos e colocam os fabulosos lucros
em paraísos fiscais.
Viva Portugal livre de fantasmas e espectros do passado
vergonhoso que se viveu durante meio século, tempo que durou a ditadura, sendo
necessário cortar as grilhetas que diariamente lhes colocam nos pulsos, retirar
as mordaças que lhes colocam na boca, libertar Portugal do neo-fascismo que
tenta apoderar-se de tudo.
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