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quarta-feira, 10 de julho de 2013

«LUTANDO NAS SOMBRAS»

Procurar eliminar sombras não pode ser agradável para ninguém, muito menos para o Paulo… mas, quem mais sofre é, certamente, aquele que as crê reais.

Não somente procura alcançar o vazio e perseguir o nada, como se torna inapto a integrar-se no real.

Que a realidade o chame a si – e ela não pode deixar de o fazer brutalmente – e todas as aberrações são possíveis, desde a simples aversão ao esforço, que, só ele, sobrepuja o real, até todas aquelas formas – no mais das vezes abjectas – do diletantismo, que só encara a vida como um jogo sem valor moral.

Percebem-se as consequências de semelhante desencaminhamento pela imagem, visto que não mais se trata apenas de vida intelectual, mas de acção religiosa e social.

Se nada mais conta, a não ser o universo fictício que se deixou sugerir pelo abuso do romance e do filme, não mais se vê muito bem porque se deveria dedicar-se a viver pelos outros, em virtude da abnegação, sempre penosa e frequentemente aborrecida.

Aquele que vive de imagens ilusórias e que delas se alimenta é necessariamente um egoísta, porque, encerrando-se nesse mundo, encerra-se em si mesmo.

Nada o interessa mais do que essa onda sempre inconstante, que contempla com enlêvo e cuja atracção lhe é tirânica.

 Vida dos outros, as necessidades alheias, que são coisas reais, não se integram mais, senão dificilmente, nesse mundo irreal, feito apenas de miragens inconsistentes.

Mas, como um adolescente – quem se espantaria disso? – está perdido para a vida política intensa, mas continuando a imaginar-se, conjuntamente com os inquilinos dos palácios de Belém e de S. Bento, possuidor de uma estrutura intelectual e mental extremamente sólida, porque sempre impõe sacrifícios concretos e muito penosos, que estão sempre a recomeçar, indefinidamente.

Quem se deixou intoxicar pelo abuso da imagem continua a procurar essa droga.

Não é mais capaz, e torna-se cada vez menos, de alcançar aquele domínio de si que os esforço quotidiano impõe. Pelo contrário, tudo o afasta dele.

Como falar-lhe ainda de austeridade, de sacrifício, de disciplina dos sentidos e da imaginação?

Que compreenderia, também, das verdades que são verdades e que, por isso mesmo, transcendem o tangível e o visível?

Esse universo ultrapassa-os, como os ultrapassa também a necessidade de solidão, sem a qual não há verdadeira “oração”, nem atenção ao curso da realidade e que os tornou,  salvo um assomo de energia com o qual não se pode contar, inaptos a ouvi-lo e a segui-lo.

E essa fuga desvairada diante da solitude, da paz interior e do recolhimento do espírito, constitui bem um dos piores vícios da nossa época.

Quem quer que se deixe arrebatar por esse turbilhão renuncia a todo o domínio de si, pelo qual, igualmente, um pensamento e um acção verdadeiramente humanos e sobrenaturais são possíveis.

De todos os “divertimentos”, no sentido pascalino da palavra, que nos afasta de nós mesmos, que nos distraem e nos impedem de fazer silêncio, a fim de ver claro para bem agir, não há outro pior que o abuso cometido sobre a cidadania.

É por isso que, desde a infância, desde aquele período, sobretudo, em que o adolescente se põe em busca de equilíbrio, de um estrutura mental sólida e, num palavra se encaminha para  maturidade, se deveria cuidar de o salvaguardar do perigo mortal que ameaça a sua formação, e que não é outro senão a procura das quimeras e a busa – tão vã e louca! – das miragens.


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