Vestais da esquerda saíram do armário, com
suas túnicas bolorentas e abraçam-se à direita no ataque a algumas
instituições democráticas vigentes.
Sempre estiveram juntas nesse assalto,
parceria obscurecida pela discordância entre elas sobre as políticas sociais. O
coração reaccionário dessa cumplicidade pulsa na aceitação de que os políticos
que consideram desmoralizados e sem credibilidade, são exactamente os mesmos,
esses que estão aí, aos quais entregam a responsabilidade de elaborar uma
proposta de reforma, em que todos os items sugeridos castram avanços pretéritos
da sociedade.
Pretendem mais que o sistema proporcional
constitucional. Voto maioritário puro ou misto e voto em listas, para não
mencionar a abolição do voto obrigatório, que deveria ser o alvo principal a
atingir.
As Centrais Sindicais, que sabem da
existência de “Caudilhos”, devem unir-se na defesa intransigente dos interesses
dos trabalhadores, ainda não se aperceberam que a quota sindical tem garantido,
fundamentalmente, o financiamento privado da participação política dos
trabalhadores.
Hoje defendem o financiamento público das
campanhas alheias, recusando o financiamento privado, restrito a pessoas
físicas e com limite de contribuição, enquanto os conservadores especulam com a
possibilidade de que contribuições de qualquer natureza só possam ser concedidas
a partidos.
Eis as fantásticas rupturas democratizantes
alegremente saudadas pelas “analistas” dos filhotes dos filhos da ditadura.
Nunca a esquerda admitiu tão completamente a sedução ideológica da direita
contra o poder do voto popular. Pedir de nariz arrebitado um plebiscito para
aprovar opções elaboradas pela direita, é apenas impensável e desolador.
No meio do assédio do casal de vestais da
esquerda e garanhões da direita, tem sido fácil aprovar medidas que não passam
de engodo ou representam tiros demagógicos que fragilizam a Constituição face a
futuras rajadas reaccionárias.
Como que por encanto surge um enorme gato
anfatuado, com esses arrufos de vanguarda que deixam escapar a verdadeira
rtazana, sóci atleta do sindicato dos corruptores ou da oligarquia familiar ou
social – a instituição genérica da suplência senatorial, em si mesma, a qual
deveria ser simplesmente abolida.
Mas, há pior. A Constituição prevê, além de
referendos ou plebiscitos, a tramitação de legislação de iniciativa popular,
desde que apoiada por 1% do eleitorado nacional, cerca de 100 mil subscritores.
Quem lhes liga, se por acaso surgem propostas ou candidaturas? Inda e só se
vive, só se vota nos partidos, mesmo sem se saber quem faz parte dessas hipotéticas
listas candidatas. Depois, acontece que todos se queixam da corrupção e da
austeridade, enquanto os que ousaram fazê-lo, ficam expostos, vulneráveis, pois
tentaram mudar certas regras dos habituais jogos políticos.
O aumento do eleitorado impõe como
salvaguarda das maiorias – salvaguarda das maiorias, sim – o aumento percentual
de apoiantes para justificar o curso obrigatório de iniciativas populares.
Hoje, com a revolução dos média sociais e a
capacidade de mobilização de minorias ideologicamente organizadas, a
possibilidade de fustigar o ordenamento legislativo do país é mais que óbvia. E
í estão os “anónimos”.
Aumentar o seu potencial a custos baratos é
um atentado constitucional que, febre momentânea ou aventureirismo crónico
explicam. Inaceitável adesão ou silêncio
cúmplice dos analistas modernos e de vanguarda, analistas dos netos da
ditadura.
À noite do modernismo digital, todos os gatos
passam por lebres.
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