A famosa descrição do sono de Shakespeare
mantém-se. Na verdade, o sono “tece o emaranhado dos nossos cuidados” – além de
dar origem a misteriosos sonhos.
Cervantes dizia: “Abençoado aquele que
inventou o sono, que envolve o homem no seu todo, corpo e espírito, como uma
capa; ele é carne para os famintos, água para os sequiosos, calor para os que têm
frio e frescura para os que têm calor; é a moeda que compra todas as coisas,o
nivelador que iguala o pobre ao rei, o louco ao sábio…”
Psicologicamente, o sono é às vezes uma forma
de fugirmos à realidade. Todos nós já passamos fases de maior stress em que, ao
acordarmos de manhã, só sentimos vontade de nos metermos de novo entre os
lençóis e esquecer a realidade, dormindo mais um bocado…
“Quando se fica acordado com uma dor de cabeça
e o descanso é impedido pela ansiedade, admito qualquer linguagem que nos apeteça
e que se use à vontade; porque a nossa mente está a arder e os lençóis entram
no jogo para nos tirarem o merecido sono; primeiro foge a colcha que nos destapa
os pés, a seguir o lençol escorrega por baixo de nós; depois, é o cobertor que
nos faz cócegas e pica, e temos calor e zangamo-nos, remexemo-nos e pulamos,
rolamos até que já não há nada entre nós e o colchão.”
A roupa acaba por cair toda para o chão e
apanhamo-la num molho; a seguir, é a almofda que se demite e delicadamente
recusa a permanecer com a inclinação certa.
De madrugada, lá conseguimos passar pelas
brasas e repousar um pouco com os olhos vermelhos e a cabeça ainda a doer. Ms
este sono ligeiro é de tal modo perturbado por sonhos horríveis que mais valera
ficarmos acordados…
Ficamos num farrapo, com dores no pescoço, e
não admira que ressonemos, pois temos a cabeça não sei onde e formigueiros por
todo o corpo, e pernas dormentes e cãibras nos dedos, um mosquito que pousou no
nariz, cotão do cobertor nos pulmões, a língua seca, uma sede que mata, e um
sentimento geral de infelicidade.
Mas,
escuridão passou e é finalmente dia; a noite foi longa – e esta conversa também – e felizmente que ambos
acabaram.
O químico alemão Friedrich August Kekule von
Strdonitz, que, se vivesse mais dez anos, bem poderia ter recebido um Prémio
Nobel por ter conceptualizado a molécula do benzeno em forma de anel, revelou
que esta ideia revolucionária lhe apareceu num sonho.
Na sua fantasia, ele imaginara moléculas que
dançavam, algumas com a forma de serpentes. Uma destas moléculas serpenteantes
tomou a própria cauda na boca. “Como um relâmpago, mesmo a dormir, apercebi-me
de que naquela forma de molécula fechada se encontrava a explicação das
estranhas propriedades do benzeno!”
Aprendam a sonhar, meus senhores! Assim
poderemos talvez vir a encontrar a verdade.
Mas temos de acautelar-nos e não publicar os
nossos sonhos antes de os comprovarmos cientificamente e com a mente bem
acordada!”
“Sonhar permite-nos a todos e a cada um de
nós enlouquecer com calma e segurança cada noite da nossa vida”.
Por isso, senhor Silva, tente não divagar e
muito menos sonhar acordado, mesmo dando-se ares majestosos quando termina um
discurso um tanto obnóxio e exprimindo ideias impensáveis e irrealisáveis,
mande recolher o observador da “troika portuguesa” e dê rapidamente a voz aos
portugueses, que é o que faz falta neste país.
Sonhos, pode haver muitos. Realidades, há uma
só!
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