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terça-feira, 16 de julho de 2013

«SOBRE O SONO E O SONHO»

A famosa descrição do sono de Shakespeare mantém-se. Na verdade, o sono “tece o emaranhado dos nossos cuidados” – além de dar origem a misteriosos sonhos.

Cervantes dizia: “Abençoado aquele que inventou o sono, que envolve o homem no seu todo, corpo e espírito, como uma capa; ele é carne para os famintos, água para os sequiosos, calor para os que têm frio e frescura para os que têm calor; é a moeda que compra todas as coisas,o nivelador que iguala o pobre ao rei, o louco ao sábio…”

Psicologicamente, o sono é às vezes uma forma de fugirmos à realidade. Todos nós já passamos fases de maior stress em que, ao acordarmos de manhã, só sentimos vontade de nos metermos de novo entre os lençóis e esquecer a realidade, dormindo mais um bocado…

“Quando se fica acordado com uma dor de cabeça e o descanso é impedido pela ansiedade, admito qualquer linguagem que nos apeteça e que se use à vontade; porque a nossa mente está a arder e os lençóis entram no jogo para nos tirarem o merecido sono; primeiro foge a colcha que nos destapa os pés, a seguir o lençol escorrega por baixo de nós; depois, é o cobertor que nos faz cócegas e pica, e temos calor e zangamo-nos, remexemo-nos e pulamos, rolamos até que já não há nada entre nós e o colchão.”

A roupa acaba por cair toda para o chão e apanhamo-la num molho; a seguir, é a almofda que se demite e delicadamente recusa a permanecer com a inclinação certa.

De madrugada, lá conseguimos passar pelas brasas e repousar um pouco com os olhos vermelhos e a cabeça ainda a doer. Ms este sono ligeiro é de tal modo perturbado por sonhos horríveis que mais valera ficarmos acordados…

Ficamos num farrapo, com dores no pescoço, e não admira que ressonemos, pois temos a cabeça não sei onde e formigueiros por todo o corpo, e pernas dormentes e cãibras nos dedos, um mosquito que pousou no nariz, cotão do cobertor nos pulmões, a língua seca, uma sede que mata, e um sentimento geral de infelicidade.

Mas,  escuridão passou e é finalmente dia; a noite foi longa – e esta conversa também – e felizmente que ambos acabaram.

O químico alemão Friedrich August Kekule von Strdonitz, que, se vivesse mais dez anos, bem poderia ter recebido um Prémio Nobel por ter conceptualizado a molécula do benzeno em forma de anel, revelou que esta ideia revolucionária lhe apareceu num sonho.

Na sua fantasia, ele imaginara moléculas que dançavam, algumas com a forma de serpentes. Uma destas moléculas serpenteantes tomou a própria cauda na boca. “Como um relâmpago, mesmo a dormir, apercebi-me de que naquela forma de molécula fechada se encontrava a explicação das estranhas propriedades do benzeno!”

Aprendam a sonhar, meus senhores! Assim poderemos talvez vir a encontrar a verdade.

Mas temos de acautelar-nos e não publicar os nossos sonhos antes de os comprovarmos cientificamente e com a mente bem acordada!”

“Sonhar permite-nos a todos e a cada um de nós enlouquecer com calma e segurança cada noite da nossa vida”.

Por isso, senhor Silva, tente não divagar e muito menos sonhar acordado, mesmo dando-se ares majestosos quando termina um discurso um tanto obnóxio e exprimindo ideias impensáveis e irrealisáveis, mande recolher o observador da “troika portuguesa” e dê rapidamente a voz aos portugueses, que é o que faz falta neste país.


Sonhos, pode haver muitos. Realidades, há uma só!

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