Como toda a máquina que teima em não
funcionar, o político é um irritante problema. Desmontam-se as rodas, examinam-se
uma a uma, dá-se-lhes polimento, coloca-se massa consistente e diz-se: “desta
vez, sim! Isto vai andar”.
Mas não! Como é possível? Consulta-se
um mecânico (especialista) que,por sua vez, torna a desmontar o conjunto, estuda
o problema, acrescenta uma peça, suprime outra, substitui uma terceira, esfrega
as mãos e jura por sua honra: “Isto irá. Faltava óleo!”
Resultado idêntico. Não se perde a coragem.
Recomeça-se, com novos esforços. Ausculta-se uma vez mais, tiram-se os
parafusos, recoloca-se a roda que se havia tirado, suprime-se a que se tinha
acrescentado e, com optimismo, declara-se: “esse especialista não percebia
nada; agora isto deve andar, é quase certo!” Mas a coisa não anda melhor, e
todos temos de continuar a correr.
Assim se luta com esse cansativo fenómeno.
Durante anos, o político continua no lugar,
com uma apatia que toca as raias do desespero.
Pára-se com a censura, com a repreensão,
considera-se que talvez lá vá com uns encorajamentos, louvores e recompensas.
Nada o comove.
Pede-se-lhe que não se fale do futuro! –
comprometido, pela sua resignação, às piores catástrofes.
Para ele, tudo vai bem, e mesmo cada vez
melhor. É, à sua maneira, um optimista, uma espécie de discípulo às avessas, de
Satanás. Político é, político permanece. E o pior é que ninguém sabe porquê,
nem como assim se tornou. O político é um estranho mistério.
Além disso, é irritante, porque é um problema
incompreensível. Se se pudesse dizer: “Aqui está o que lhe falta”, ou mesmo: “eis
o que não lhe falta”, talvez se ficasse a salvo da irritação, essa má
conselheira.
“É preciso corrigi-lo”, diz-se, quando
deveria dizer-se “substituí-lo”. Um momento! Pergunta-se: De que servirá isso,
se logo vêm outros fazer a mesma ou ainda piores coisas?” Absolutamente de
nada, responder-me-ão, retorquindo-se: “Pelo menos dava-se um exemplo.”
Exemplo par quem? Para outros políticos?
Nesse caso, estar-se-á a esquecer que nada pode influenciá-los a respeitarem o
povo.
E aqueles que o não são ainda? Não necessitam
de um belo exemplo?
A ignomínia que acompanha os políticos basta
para estimular os “bons”, os “puros”: não há nenhuma necessidade nenhuma de os
tornar ainda mais graves.
Mas – retrucar-se-á – há os que podem
tornar-se políticos e que esse exemplo os advertiria!
Ora digam-me, primeiro, como se tornam
políticos e se o exemplo, tão funesto noutros casos, é aqui uma causa
determinante?
Para quê enganar-mo-nos sobre os políticos?
Não se tornam eles políticos em casa, junto de seus familiares que também foram
políticos? Essa foi a sua verdadeira escola, uma vez que uma boa parte dos
políticos nada mais fizeram na vida que enganar o povo e enganar-se a eles próprios
desde tenra idade.
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