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segunda-feira, 29 de julho de 2013

«A REABILITAÇÃO DO POLÍTICO»

Como toda a máquina que teima em não funcionar, o político é um irritante problema. Desmontam-se as rodas, examinam-se uma a uma, dá-se-lhes polimento, coloca-se massa consistente e diz-se: “desta vez, sim! Isto vai andar”.

Mas não! Como é possível? Consulta-se um mecânico (especialista) que,por sua vez, torna a desmontar o conjunto, estuda o problema, acrescenta uma peça, suprime outra, substitui uma terceira, esfrega as mãos e jura por sua honra: “Isto irá. Faltava óleo!”

Resultado idêntico. Não se perde a coragem. Recomeça-se, com novos esforços. Ausculta-se uma vez mais, tiram-se os parafusos, recoloca-se a roda que se havia tirado, suprime-se a que se tinha acrescentado e, com optimismo, declara-se: “esse especialista não percebia nada; agora isto deve andar, é quase certo!” Mas a coisa não anda melhor, e todos temos de continuar a correr.

Assim se luta com esse cansativo fenómeno.

Durante anos, o político continua no lugar, com uma apatia que toca as raias do desespero.

Pára-se com a censura, com a repreensão, considera-se que talvez lá vá com uns encorajamentos, louvores e recompensas. Nada o comove.

Pede-se-lhe que não se fale do futuro! – comprometido, pela sua resignação, às piores catástrofes.

Para ele, tudo vai bem, e mesmo cada vez melhor. É, à sua maneira, um optimista, uma espécie de discípulo às avessas, de Satanás. Político é, político permanece. E o pior é que ninguém sabe porquê, nem como assim se tornou. O político é um estranho mistério.

Além disso, é irritante, porque é um problema incompreensível. Se se pudesse dizer: “Aqui está o que lhe falta”, ou mesmo: “eis o que não lhe falta”, talvez se ficasse a salvo da irritação, essa má conselheira.

“É preciso corrigi-lo”, diz-se, quando deveria dizer-se “substituí-lo”. Um momento! Pergunta-se: De que servirá isso, se logo vêm outros fazer a mesma ou ainda piores coisas?” Absolutamente de nada, responder-me-ão, retorquindo-se: “Pelo menos dava-se um exemplo.”

Exemplo par quem? Para outros políticos? Nesse caso, estar-se-á a esquecer que nada pode influenciá-los a respeitarem o povo.

E aqueles que o não são ainda? Não necessitam de um belo exemplo?

A ignomínia que acompanha os políticos basta para estimular os “bons”, os “puros”: não há nenhuma necessidade nenhuma de os tornar ainda mais graves.

Mas – retrucar-se-á – há os que podem tornar-se políticos e que esse exemplo os advertiria!

Ora digam-me, primeiro, como se tornam políticos e se o exemplo, tão funesto noutros casos, é aqui uma causa determinante?


Para quê enganar-mo-nos sobre os políticos? Não se tornam eles políticos em casa, junto de seus familiares que também foram políticos? Essa foi a sua verdadeira escola, uma vez que uma boa parte dos políticos nada mais fizeram na vida que enganar o povo e enganar-se a eles próprios desde tenra idade.

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