Normalmente e no que respeita à classificação
salarial mundial, Portugal ocupa os últimos lugares da tabela.
Mas, no que diz respeito aos banqueiros que
mais recebem, todo o cenário muda e Portugal ocupa os primeiros lugares com
onze banqueiros a terem recebido, em média, 1,6 milhões de euros em 2011.
Vivemos, portanto, todas as ficções da Idade
do ouro, a que mais nos perturba, obrigando-nos a colocar a questão: como pôde
ela aflorar nas imaginações nacionais?
E é para a denunciar e por hostilidade contra
ela que a história, agressão do homem contra si próprio, ganhou alento e forma.
De modo que, consagrar-se à História é
aprender a insurgir-se, a imitar o Diabo.
Nunca o imitamos tão bem como quando, à custa
do nosso ser, emitimos tempo, projectamos o tempo no exterior e o deixamos
converter-se em acontecimento.
“Doravante não haverá tempo”: esse metafísico
improvisado que é o Anjo do Apocalipse anuncia assim o fim do Diabo, o fim da
História.
Por isso os místicos têm razão quando
procuram Deus em si próprios ou em qualquer outro lugar que não seja este mundo
miserável, do qual fazem parte tábua rasa sem no entanto se rebaixarem à
revolta.
Saltam para fora dos séculos: loucura que
nós, cativos da duração, raramente somos susceptíveis. Se ao menos fossemos tão
dignos do Diabo como eles de Deus!
Há dois anos, quando o actual governo tomou
posse, eram onze os banqueiros do país em que o seu vencimento ultrapassava um
milhão de euros mensais – sim, por mês – o que situava Portugal em décimo lugar
numa lista que contempla vinte e sete países da União europeia. E, em plena
crise decretada pelo actual governo, esses senhores da banca meteram aos bolsos
1,6 milhões de euros em 2011, ano em que foi decretada toda a austeridade, todo
o desemprego, fome e miséria ao povo português.
Factos divulgados num relatório elaborado
pela Autoridade Bancária Europeia, que indica ainda que quem arrebatou a
medalha de ouro foi o Reino Unido, sendo o pódio completado pela Alemanha e a
França, com a Espanha em quarto lugar.
Portugal classifica-se mano a mano com países
como a Suécia, Áustria, Luxemburgo ou a Bélgica, apesar de estes países
ocuparem lugares de menor destaque nesta classificação.
Esses onze senhores da banca portuguesa meteram
aos bolsos perto de dezoito milhões de euros nesse ano de 2011, ano em que o
actual governo deu largas aos cortes salariais, das pensões e a toda a
austeridade do custe o que custar, sob a égide de um presidente da República
que simulou publicamente estar a ser gravemente lesado e que sua mulher passava
a ser sua dependente.
Talvez que, afinal, a justiça de Fafe, como a
aplicada pelo primeiro-ministro checo seja a mais apropriada.
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