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terça-feira, 16 de julho de 2013

«QUEM QUER MELHOR QUE ISSO?»

Normalmente e no que respeita à classificação salarial mundial, Portugal ocupa os últimos lugares da tabela.

Mas, no que diz respeito aos banqueiros que mais recebem, todo o cenário muda e Portugal ocupa os primeiros lugares com onze banqueiros a terem recebido, em média, 1,6 milhões de euros em 2011.

Vivemos, portanto, todas as ficções da Idade do ouro, a que mais nos perturba, obrigando-nos a colocar a questão: como pôde ela aflorar nas imaginações nacionais?

E é para a denunciar e por hostilidade contra ela que a história, agressão do homem contra si próprio, ganhou alento e forma.

De modo que, consagrar-se à História é aprender a insurgir-se, a imitar o Diabo.

Nunca o imitamos tão bem como quando, à custa do nosso ser, emitimos tempo, projectamos o tempo no exterior e o deixamos converter-se em acontecimento.

“Doravante não haverá tempo”: esse metafísico improvisado que é o Anjo do Apocalipse anuncia assim o fim do Diabo, o fim da História.

Por isso os místicos têm razão quando procuram Deus em si próprios ou em qualquer outro lugar que não seja este mundo miserável, do qual fazem parte tábua rasa sem no entanto se rebaixarem à revolta.

Saltam para fora dos séculos: loucura que nós, cativos da duração, raramente somos susceptíveis. Se ao menos fossemos tão dignos do Diabo como eles de Deus!

Há dois anos, quando o actual governo tomou posse, eram onze os banqueiros do país em que o seu vencimento ultrapassava um milhão de euros mensais – sim, por mês – o que situava Portugal em décimo lugar numa lista que contempla vinte e sete países da União europeia. E, em plena crise decretada pelo actual governo, esses senhores da banca meteram aos bolsos 1,6 milhões de euros em 2011, ano em que foi decretada toda a austeridade, todo o desemprego, fome e miséria ao povo português.

Factos divulgados num relatório elaborado pela Autoridade Bancária Europeia, que indica ainda que quem arrebatou a medalha de ouro foi o Reino Unido, sendo o pódio completado pela Alemanha e a França, com a Espanha em quarto lugar.

Portugal classifica-se mano a mano com países como a Suécia, Áustria, Luxemburgo ou a Bélgica, apesar de estes países ocuparem lugares de menor destaque nesta classificação.

Esses onze senhores da banca portuguesa meteram aos bolsos perto de dezoito milhões de euros nesse ano de 2011, ano em que o actual governo deu largas aos cortes salariais, das pensões e a toda a austeridade do custe o que custar, sob a égide de um presidente da República que simulou publicamente estar a ser gravemente lesado e que sua mulher passava a ser sua dependente.

Talvez que, afinal, a justiça de Fafe, como a aplicada pelo primeiro-ministro checo seja a mais apropriada.




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