A ideologia
estruturou uma malha cerrada da qual não se pode sair sem danos. Daí, o sentido
e a necessidade do derrube de um platonismo o que, metaforicamente, equivale a
um convite a rasgar essa rede metafísica. De que é constituída?
De um certo número de crenças propostas
no absoluto, intocáveis e apresentadas
sob a forma de fetiches que se devem adorar a fim de possibilitar essa “religião”
filosófica consensual.
Da origem do pensamento à su expansão
contemporânea, os pontos fixos permanecem os mesmos.
Em primeiro lugar, está a promoção de uma
alma separada, princípio federativo e governamental que organiza e deseja o
corpo, a carne, os desejos e os prazeres submetidos ao seu domínio.
Mesmo quando definida de maneira heterodoxa
enquanto matéria, tanto como substância extensa como pensante, envelope do
corpo ou princípio energético, a alma lá está, como um vigia tomando conta do
conjunto do corpo assimilado ao que resta.
Informadora, ela recebe a informação através
do princípio divino que a origina e que lhe transmite ordens. Enquanto alma,
intercede como auxiliar espiritual e fornece a oportunidade de uma encarnação
que permite o animal material conhecer o sopro ideal.
Em seguida, em consequência dessa alma
actuante, a consciência aparece como condição para possibilitar julgamentos
claros e distintos, estáveis e estabelecidos, dedutivos e apodícticos.
Semelhante a um máquina de guerra destinada a
produzir verdade, a consciência é elevada à dignidade de mecanismo eficaz,
operatório e incontestável.
Soberana na ordem dos julgamentos, ela
confessa uma submissão à ordem da verdade.
Tendo o conjunto como finalidade a edificação
e a legitimação das certezas úteis ao social – vale mais a pena dizer, `s
mentiras de grupo – a consciência torna-se moral, o que possibilita e justifica
tanto mais o remorso, culpabilidade, a
lembrança do erro.
Daí a genealogia da responsabilidade,
necessária aos empreendimentos disciplinares construídos sobre o castigo e por
ele legitimados.
Finalmente, também era preciso que este
indivíduo, dotado de uma alma e de uma consciência, espiritualmente enriquecido
por uma razoavelmente gratificado por outra, fosse decretado livre, para que o
bom ou o mau uso desses instrumentos pudesse constituir um prova contra ele ou
a seu favor.
Aí surgem as técnicas disciplinares, as
lógicas normativas e outros mecanismos destinados a produzir verdade, melhor
dizendo: a do social.
Interiormente dotado de plenos poderes, o
indivíduo encontra-se limitado no seu uso pelos imperativos sociais que se
erguem continuamente contra a sua soberania.
O presidente falou num governo de salvação
nacional. Pois! Mas, para salvar quem? Mas o PS, mesmo sabendo o que se vive e
viverá no seio do povo, prefere também desviar os olhos da triste realidade que
em Portugal se vive!
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