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segunda-feira, 29 de julho de 2013

«OS ALIENADOS SÃO DE TENDÊNCIA SOLITÁRIA?»

O sentimento de solidão ou alienação não resulta apenas de viver sozinho ou de ter um carácter reservado. Uma pessoa pode ser muito animada – conversadora, espirituosa e admirada – e, apesar disso, nutrir sentimentos de intensa solidão.

A origem destes sentimentos é difícil de determinar, mas muitos especialistas pensam que possam estar relacionados com experiências abandónicas na primeira infância.

Perder a nossa espontaneidade e passar a viver apenas pra construir a imagem que os outros esperam de nós, pode também fazer-nos sentir alienados – não da sociedade, mas de nós próprios.

Um corrector de bolsa, por exemplo, pode achar, no seu íntimo, que seria mais feliz se se dedicasse exclusivamente ao desporto ou às artes. Nenhum dos seus colegas ou amigos esperaria dele esse sentimento, vendo nele apenas o homem de negócios com uma personalidade que de facto ele não sente como sua, o que o faz viver rodeado pelos outros, mas alienado no seu verdadeiro “eu”.

O escritor Henry David Thoreau, do século XIX, captou esta ideia ao escrever que “a grande maioria dos homens leva vidas de calmo desespero. O que chamamos resignação é apenas desespero conformado”.

O próprio Thoreau procurou escapar a este tipo de desespero vivendo com simplicidade nas margens arborizadas do lado de Walden, onde se considerava menos alienado do que qualquer habitante citadino.

A pobreza, o racismo, o isolamento cultural, são fontes de alienação. H´outras formas mais subtis de rejeição social, que se experimentam como barreiras económicas e educacionais.

Aliás, o actual governo português é especialista nessa matéria!

Nos birros de lta, nos bairros sociais ou mesmo nos subúrbios descaracterizados das grandes cidades, instalam-se muitas vezes sentimentos de abandono e frustração, índices elevados de criminalidade, violência familiar e comportamentos auto-destrutivos – como o alcoolismo, a toxicomania e o suicídio.

A Humanidade assistiu nos últimos séculos a mais progressos tecnológicos do que nos dez mil anos anteriores. E, assim como muitos conceitos científicos foram ultrapassados, também o foram muitos valores tradicionais.

Hoje em dia, a religião está menos presente e a moral é menos rígida. Questões sobre o certo e o errado, o bem e o mal já não são fáceis de responder.

Esta crise de valores e das crenças provoca em muitos uma crescente falta de sentido da vida, o que é igualmente uma forma de alienação.

A tecnologia produziu também uma mudança radical nos estilos de vida. A vida rural, assentando nos valores da família e da comunidade, deu lugar a uma sociedade mais urbana e mais móvel e individualista.

Numa tendência que se iniciou com a Revolução Industrial e a produção em série, os trabalhadores perderam toda a ligação com o produto que fabricam e não têm uma sensação de identificação ou de orgulho por quilo que produzem.

Muitos sociólogos vêem nisto uma causa de alienação.

No escritório e na fábrica, o trabalho – quando o há – tornou-se progressivamente mais automatizado e, embora  tecnologia dos computadores possa atenuar muito a escravatura do trabalho, pode também divorciar ainda mais os trabalhadores da produção personalizada.


Nesta fase de transição e de anonimato, perdemos as referências que nos ligavam `terra, à família e ao trabalho e procuramos redefinir a nossa identidade individual e colectiva.

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