O sentimento de solidão ou alienação não
resulta apenas de viver sozinho ou de ter um carácter reservado. Uma pessoa
pode ser muito animada – conversadora, espirituosa e admirada – e, apesar
disso, nutrir sentimentos de intensa solidão.
A origem destes sentimentos é difícil de
determinar, mas muitos especialistas pensam que possam estar relacionados com
experiências abandónicas na primeira infância.
Perder a nossa espontaneidade e passar a
viver apenas pra construir a imagem que os outros esperam de nós, pode também
fazer-nos sentir alienados – não da sociedade, mas de nós próprios.
Um corrector de bolsa, por exemplo, pode
achar, no seu íntimo, que seria mais feliz se se dedicasse exclusivamente ao
desporto ou às artes. Nenhum dos seus colegas ou amigos esperaria dele esse
sentimento, vendo nele apenas o homem de negócios com uma personalidade que de
facto ele não sente como sua, o que o faz viver rodeado pelos outros, mas
alienado no seu verdadeiro “eu”.
O escritor Henry David Thoreau, do século
XIX, captou esta ideia ao escrever que “a grande maioria dos homens leva vidas
de calmo desespero. O que chamamos resignação é apenas desespero conformado”.
O próprio Thoreau procurou escapar a este
tipo de desespero vivendo com simplicidade nas margens arborizadas do lado de
Walden, onde se considerava menos alienado do que qualquer habitante citadino.
A pobreza, o racismo, o isolamento cultural,
são fontes de alienação. H´outras formas mais subtis de rejeição social, que se
experimentam como barreiras económicas e educacionais.
Aliás, o actual governo português é
especialista nessa matéria!
Nos birros de lta, nos bairros sociais ou mesmo
nos subúrbios descaracterizados das grandes cidades, instalam-se muitas vezes
sentimentos de abandono e frustração, índices elevados de criminalidade,
violência familiar e comportamentos auto-destrutivos – como o alcoolismo, a
toxicomania e o suicídio.
A Humanidade assistiu nos últimos séculos a
mais progressos tecnológicos do que nos dez mil anos anteriores. E, assim como
muitos conceitos científicos foram ultrapassados, também o foram muitos valores
tradicionais.
Hoje em dia, a religião está menos presente e
a moral é menos rígida. Questões sobre o certo e o errado, o bem e o mal já não
são fáceis de responder.
Esta crise de valores e das crenças provoca
em muitos uma crescente falta de sentido da vida, o que é igualmente uma forma
de alienação.
A tecnologia produziu também uma mudança
radical nos estilos de vida. A vida rural, assentando nos valores da família e
da comunidade, deu lugar a uma sociedade mais urbana e mais móvel e
individualista.
Numa tendência que se iniciou com a Revolução
Industrial e a produção em série, os trabalhadores perderam toda a ligação com
o produto que fabricam e não têm uma sensação de identificação ou de orgulho
por quilo que produzem.
Muitos sociólogos vêem nisto uma causa de
alienação.
No escritório e na fábrica, o trabalho –
quando o há – tornou-se progressivamente mais automatizado e, embora tecnologia dos computadores possa atenuar
muito a escravatura do trabalho, pode também divorciar ainda mais os
trabalhadores da produção personalizada.
Nesta fase de transição e de anonimato,
perdemos as referências que nos ligavam `terra, à família e ao trabalho e
procuramos redefinir a nossa identidade individual e colectiva.
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