Para as ideias medíocres e os que nelas se
comprazem, o alto designa a transcendência, o além, quando, a meu ver, ele
significa a possibilidade, até aos limites conhecidos, os únicos, de uma orla
qualitativa onde uma leitura puramente rasteira e linear implicaria o
quantitativo.
A mística decorre dos postulados que a nossa
alma nos constrói acerca dos quais não nos podemos impedir de pensar que guiam
toda uma existência, uma ética e princípios, um pensamento e acções.
Ela quer que o império que aspiram todas as energias atrevidas e
propõe-se como única resposta possível par libertar os que vegetam nos três
círculos infernais da miséria, e par realizar, no plano dos factos, o ateísmo
que autorizaria poisar no chão o ídolo economicista.
Aliás, há dias foi dada uma demonstração,
pelo senhor Silva de Boliqueime, cabal, de como deve realizar-se, executar-se o
sequestro da democracia em Portugal, com a sua arrogância bem patente e seu
discurso selectivo, arredando do caminho aqueles eleitos por uma boa parte dos
portugueses, razão pela qual cito a mística de esquerda que, par ser
susceptível dela – mística – supõe, portanto, uma translação ética do domínio
horizontal – onde vai buscar metaforicamente o seu sentido – para um registo
vertical.
Portanto não é, de modo algum, um programa
para um partido ou uma plataforma com fins eleitorais, como não tende, aliás, a
fazer o catálogo, tipo enumeração, do que foram as vitórias e os triunfos da
esquerda.
A definição de uma mística de esquerda implica
a busca da energia que a constitui. Uma busca e uma descoberta, pois em nada
serviria de se obrigar pesquisar se, por
acaso, neste terreno, nos devêssemos contentar com uma espécie de teologia
negativa como única maneira de nos aproximar ou de abordar regiões impossíveis,
margens improváveis.
Decidiu o senhor Silva de Boliqueime demitir
o governo a longo prazo, isto é, com um ano de prazo para tentar compor,
consertar tudo qunto tem desarranjado na sociedade portuguesa.
Como todos sabemos, os discursos já nada
ganham em pretenderem apoiar-se no objectivo, no racional, na verdade, na
dedução, quando, disfarçados, permanecem todos fundamentalmente inspirados pelo
visceral. E foi a um discurso mais que visceral a que pudemos assistir através
das televisões, pretendendo impôr uma coligação
três, agora e até ao momento em que termine presença dessa tal troika entre nós. Depois,
sem mais delongas, realizar-se-iam eleições antecipadas, o que pretende dar
tempo aos partidos da actual coligação a dois de se recompor aos olhos da
cidadania.
Vozes se levantaram criticando-o por se ter
propositadamente esquecido daquelas duas forçs políticas de esquerda, mobilizadoras
da sociedade, uma vez que pretende a paz, nem que totalmente pôdre, social.
Em seu entender, ultrapassar-se-ia o
propósito colocado `política ao fazer a psicanálise dos empenhamentos que
decidem, para este e aquele, de se instalar radicalmente n direita ou na
esquerda – excluo, evidentemente, os profissionais da renúncia, os renegados que
vão de um lado par o outro, segundo os interesses que ora os conduzem aqui, ora
acolá, tanto quanto os centristas, essa peste da política que acampa a igul
distância daqueles a quem se venderá, desde que uns ofereçam mais que os
outros.
Aliás, devemos-lhes um das desqualificações mais
em voga do termo “esquerda”. Pelo que é preciso ver-se a sua vitalidade, pois
se a direita e esquerda nada mais significam, se as duas categorias estão
ultrapassadas, como firmam aqueles cujo espírito, no máximo das suas
possibilidades, se encontra o psitacismo, então porque motivos só proferem
semelhantes disparates na altura em que o sócio capitalista no poder está em
cuidados para encontrar apoio noutro local, sempre ao centro, quando estão
prontos par lho concederem em troca, apenas, da partilha das pastas
ministeriais?
A recusa da partilha e da clivagem entre
direita e esquerda é um facto dos homens de direita ou daqueles que são motivados
unicamente pelo poder em si mesmo, o que ficou bem demonstrado pelas pretensões
do senhor Silva de Boliqueime naquele seu discurso um tanto incoerente.
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