É provavelmente inerente à natureza humana
uma certa agressividade. A guerra organizada já foi definida como “uma forma de
roubo cooperativa e altamente planeada” que se manifestou depois do
aparecimento dos primeiros aldeamentos de agricultores, quando as tribos ainda
nómadas cobiçaram as terras e recursos dos primeiros.
As causas da guerra são muito variáveis.
Como as pessoas têm a tendência para se identificar com as do seu grupo,
desconfiam frequentemente dos estranhos. Em muitas das línguas primitivas, a
palavra que significava “pessoas”, “povo”, era ado nome da tribo, e todos os
que não lhe pertenciam eram “outros” ou “bárbaros”.
Estas atitudes podem conduzir a um medo quase
paranoico dos ataques exteriores e a uma atitude defensiva ou agressiva.
A psicóloga Sue Mansfield liga a eclosão da
Primeira Guerra Mundial à crença de muitos chefes políticos e militares de que
o poderio das suas nações seria destruído se não encetassem acções ofensivas.
A maioria das guerras dá-se entre vizinhos.
E pode também haver tendência, sugerida por Freud, para se sentir um desdém
especial pelas pessoas que, apesar de próximas, têm costumes diferentes dos
nossos – “toleramos mal o que é simultaneamente idêntico e diferente de nós”.
Há quem afirme que as guerras não mudaram
desde o alvorecer da História – mudaram apenas as armas, e o aumento exponencial
da sua capacidade de morte e destruição parece ter diminuído a voluntariedade
com que as nações poderosas se lançavam na guerra.
A ideia de guerra como aventura enobrecedora,
essa, sim, está modificada.
A televisão contribuiu muito para essa
modificação – permitiu o contacto com a guerra nos seus múltiplos aspectos,
desmistificando-a e realçando as suas facetas mais cruéis.
Um exemplo disto foram as reportagens
televisivas feitas durante a Guerra do Vietname nas décadas de 60 e 70, que
terão despertado fortes sentimentos anti-bélicos na América e apressado a
retirada das tropas americanas.
Poucas dúvidas existem de que as emoções
exteriores e únicas vividas simultaneamente durante os combates – o medo de
morrer a qualquer momento, a sensação de insegurança e abandono, ver os
companheiros mortos ou feridos sem nada poder fazer, o sentimento de pânico,
de revolta,o ruído ensurdecedor – podem provocar distúrbios mentais graves,
sobretudo em pessoas já previamente predispostas.
Esses distúrbios podem manifestar-se
imediatamente, logo na situação de combate, ou após um intervalo de dias ou
mesmo de anos.
Este estado tem tido diversos nomes, mas
ultimamente é conhecido em termos psiquiátricos, por neurose de guerra, ou
distúrbio de ansiedade pós-traumática (DAPT), e é reconhecido não apenas como
fenómeno de guerra, mas como distúrbio mental que pode seguir-se a qualquer
desastre ou acontecimento inesperado, súbito, violento, em suma, traumatizante.
A caracterização e individualização do DAPT
como entidade psiquiátrica específica baseou-se muito na observação e estudos
feitos nos ex-combatentes quer do Vietname quer – no caso português – de África.
O quadro clínico pode manter-se muitos anos
depois do acontecimento traumático original, caracteriza-se por forte vivência
de depressão e culpabilidade e indiferença emocional, crises de ansiedade e
pânico despoletadas por situações ou factos que possam estar associados – ou apenas
recordar – a situação traumática inicial, recordações obsessivas ou pesadelos
violentos que evoluem geralmente para perturbações crónicas do sono, da memória
e da atenção.
Não será, pois, de admirar que, se
desenvolvam graves traumatismos psicológicos com todas as políticas actualmente
em prática, uma vez que se devem contar como efeitos secundários a negligência
pessoal e problemas de relacionamento e reintegração social, assim como
problemas conjugais, isolamento da família e dos amigos motivado pela
impossibilidade de conservar um emprego.
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