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sexta-feira, 26 de julho de 2013

«A FACE HUMANA DA GUERRA»

É provavelmente inerente à natureza humana uma certa agressividade. A guerra organizada já foi definida como “uma forma de roubo cooperativa e altamente planeada” que se manifestou depois do aparecimento dos primeiros aldeamentos de agricultores, quando as tribos ainda nómadas cobiçaram as terras e recursos dos primeiros.

As causas da guerra são muito variáveis. Como as pessoas têm a tendência para se identificar com as do seu grupo, desconfiam frequentemente dos estranhos. Em muitas das línguas primitivas, a palavra que significava “pessoas”, “povo”, era ado nome da tribo, e todos os que não lhe pertenciam eram “outros” ou “bárbaros”.

Estas atitudes podem conduzir a um medo quase paranoico dos ataques exteriores e a uma atitude defensiva ou agressiva.

A psicóloga Sue Mansfield liga a eclosão da Primeira Guerra Mundial à crença de muitos chefes políticos e militares de que o poderio das suas nações seria destruído se não encetassem acções ofensivas.

A maioria das guerras dá-se entre vizinhos. E pode também haver tendência, sugerida por Freud, para se sentir um desdém especial pelas pessoas que, apesar de próximas, têm costumes diferentes dos nossos – “toleramos mal o que é simultaneamente idêntico e diferente de nós”.

Há quem afirme que as guerras não mudaram desde o alvorecer da História – mudaram apenas as armas, e o aumento exponencial da sua capacidade de morte e destruição parece ter diminuído a voluntariedade com que as nações poderosas se lançavam na guerra.

A ideia de guerra como aventura enobrecedora, essa, sim, está modificada.

A televisão contribuiu muito para essa modificação – permitiu o contacto com a guerra nos seus múltiplos aspectos, desmistificando-a e realçando as suas facetas mais cruéis.

Um exemplo disto foram as reportagens televisivas feitas durante a Guerra do Vietname nas décadas de 60 e 70, que terão despertado fortes sentimentos anti-bélicos na América e apressado a retirada das tropas americanas.

Poucas dúvidas existem de que as emoções exteriores e únicas vividas simultaneamente durante os combates – o medo de morrer a qualquer momento, a sensação de insegurança e abandono, ver os companheiros mortos ou feridos sem nada poder fazer, o sentimento de pânico, de revolta,o ruído ensurdecedor – podem provocar distúrbios mentais graves, sobretudo em pessoas já previamente predispostas.

Esses distúrbios podem manifestar-se imediatamente, logo na situação de combate, ou após um intervalo de dias ou mesmo de anos.

Este estado tem tido diversos nomes, mas ultimamente é conhecido em termos psiquiátricos, por neurose de guerra, ou distúrbio de ansiedade pós-traumática (DAPT), e é reconhecido não apenas como fenómeno de guerra, mas como distúrbio mental que pode seguir-se a qualquer desastre ou acontecimento inesperado, súbito, violento, em suma, traumatizante.

A caracterização e individualização do DAPT como entidade psiquiátrica específica baseou-se muito na observação e estudos feitos nos ex-combatentes quer do Vietname quer – no caso português – de África.

O quadro clínico pode manter-se muitos anos depois do acontecimento traumático original, caracteriza-se por forte vivência de depressão e culpabilidade e indiferença emocional, crises de ansiedade e pânico despoletadas por situações ou factos que possam estar associados – ou apenas recordar – a situação traumática inicial, recordações obsessivas ou pesadelos violentos que evoluem geralmente para perturbações crónicas do sono, da memória e da atenção.


Não será, pois, de admirar que, se desenvolvam graves traumatismos psicológicos com todas as políticas actualmente em prática, uma vez que se devem contar como efeitos secundários a negligência pessoal e problemas de relacionamento e reintegração social, assim como problemas conjugais, isolamento da família e dos amigos motivado pela impossibilidade de conservar um emprego.

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